domingo, 5 de julho de 2015

Tudo se repete


Os ciclos históricos sucedem-se com uma rapidez estonteante. Há pouquíssimo tempo costumávamos cantar no escuro canções que já retratam o momento atual, como o protesto disfarçado de carnaval de Ivan Lins:


"Acabou toda essa brincadeira 
Não há jeito de ser diferente
Como sempre chegou quarta-feira
E a praça não é mais da gente
Andam soltos fantasmas e bruxas
Lobisomem em noites de lua
O saci dança em noites escuras
E ninguém tá seguro nas ruas
Tudo se repete, oh maninha, como antigamente
E o diabo gosta, oh maninha
Arrepia a gente
As igrejas de portas trancadas
Já não entra, nem sai mais milagre
As pessoas de boca fechada
Vão fazer o jejum que lhes cabe
Clareando a sexta-feira santa
Segue a fila de velas acesas
Vêm cantando e o som se agiganta
Orações pra quem não tem defesa
Procissão de bastões e vassouras
Estilingues, bodoques e pedras
Canivetes, facões e tesouras
Aleluia, é o quebra-quebra
É a dança do queira-ou-não-queira
É vingança, é um Deus-nos-acuda
É o malho, é o fogo, a fogueira
É o povo na pele de Judas
Tudo se repete, oh maninha, como antigamente
E o diabo gosta, oh maninha
Arrepia a gente".
(Ivan Lins, "Quaresma")

Dubito ergo cogito; cogito, ergo sum.


Neste momento em que travamos com outros brasileiros discussões acirradas a respeito da segurança pública, em especial sobre a questão da maioridade penal, decidi guardar alguns trechos da batalha.

Segundo informado pelo professor Elvino Bohn Gass através do site Pragmatismo Político (citando dados da UNICEF), apenas 0,01% dos jovens abandonados pelo Estado e provenientes de lares desestruturados entram para o crime. Ou seja, 99,99% dos jovens em situação de vulnerabilidade decidem ser cidadãos úteis, dignos, honestos. Uma percentagem ínfima decide que é mais fácil apropriar-se dos bens de consumo de outras pessoas, numa forma danosa de egoísmo, causando às suas vítimas susto, sofrimento, dor e, frequentemente, morte. Isso é totalmente errado, e as medidas sócio-educativas aplicadas nos últimos vinte e cinco anos, desde a origem do ECA, não corrigiram o problema da criminalidade infanto-juvenil. Esses jovens abandonam a escola cedo, prejudicando inclusive o acesso de suas famílias (que existem, sim, apesar de desestruturadas) a programas como o Bolsa-família. Os governos e organizações de DH se sucedem, levantando bandeiras em defesa desses jovens criminosos sem, contudo, chegarem a qualquer resultado positivo, defendendo a inimputabilidade e penas brandíssimas que geram sensação de impunidade e até de incentivo, produzindo mais crimes e mortes evitáveis, envergonhando e enlutando a toda a sociedade. As perguntas que o governo e essas organizações de DH não se fazem são: o que acontece com as vítimas, mesmo as que não são assassinadas, mas que são, por exemplo, retalhadas com caco de vidro por chamarem a polícia, como aconteceu ao segurança do BarraShopping há poucas semanas? Esse segurança voltará ao trabalho? O que vai ser de sua família, se os criminosos encontrarem seu endereço e fotos dos filhos em sua carteira? Não se busca separar os maus e os bons. Busca-se evitar que os 0,01% maus, incorrigíveis e reincidentes, prejudiquem a toda a sociedade, rapinando e matando impunemente cardiologistas, professoras e faxineiros, desestruturando outros lares e atingindo as crianças e os adolescentes que perdem seus chefes de família. O crime deve ser punido, não importando a idade do criminoso. Sim, de forma adequada, respeitosa e com o máximo rigor legal. Mostrar claramente a esses jovens, desde a mais tenra idade, que o crime não compensa, é nossa obrigação como pais, cidadãos e seres humanos.