domingo, 6 de dezembro de 2009

Pra não dizer que não falei de panetones

A edição eletrônica d'O Globo de hoje pergunta: "Por que corrupção não dá cadeia no Brasil"?. E informa:

"De escândalo em escândalo, o Brasil se acostumou a ver dinheiro em malas, meias e cuecas - como nos recentes mensalões do PT e do DEM. Mas a marca dos escândalos brasileiros é a impunidade. Segundo reportagem de Evandro Éboli, publicada na edição deste domingo do jornal O GLOBO, levantamento da Associação de Magistrados Brasileiros (AMB) revela que, das ações contra autoridades no Superior Tribunal de Justiça (STJ), 40% prescrevem ou caem no limbo do Judiciário.No Supremo Tribunal Federal (STF), o percentual é de 45%. As condenações de autoridades são apenas 1% no STJ - muitas convertidas em penas pecuniárias irrisórias - e inexistem no STF. Desde que foi criada, há 17 anos, a Lei de Improbidade Administrativa condenou 1.605 pessoas".

Nos regimes totalitários, a corte faz o que bem entende e a corrupção grassa em todos os níveis, minando as riquezas e o poder das pessoas comuns.

A democracia foi idealizada pelos antigos gregos justamente para combater ou evitar um estado de coisas em que os piores da raça tivessem meios de aproveitar-se dos demais. Entretanto, a democracia só funciona se for feita pelo povo. Senão, vejamos:
  • Obrigando as pessoas a votar, seja lá em quem for, o Estado garante a eleição de políticos que absolutamente não representam a vontade popular.
  • Criando trâmites obscuros e formalidades subjetivíssimas (que podem ser invocadas conforme o freguês) para a condução de processos no judiciário, o Estado bloqueia o acesso do cidadão comum à justiça.
  • Decidindo arbitrariamente onde os recursos amealhados ao povo serão aplicados, o Estado cria situações de dependência e simbioses nocivas ao processo democrático.

Com esses três procedimentos extingue-se a chama da democracia e cria-se novamente um estado totalitário, mas sem cara nem coragem de admiti-lo. A falsa democaracia, que é essa que se vive no Brasil, não passa de um malandro mau-caráter, cara de pau e ladrão, vestido de cidadão, para inglês ver.

Enquanto isso, em prol da manutenção dos palácios, distribui-se panetones e telenovelas.

................

Para a posteridade: filmado recebendo pacotes de dinheiro de origem conhecida mas inexplicada, o governador do DF, José Roberto Arruda, esclareceu tratar-se de verba não contabilizada, destinada à compra de panetones para os pobres.





. . . . . . . . . . . . . . .


A propósito, novamente aproveito a inspiração alheia e insiro um delicioso texto do jornalista Heitor Diniz, de BH, publicado no seu blog "Crônica Política" em 8/1/2010. Degustem:


Arruda, profético, em 2001: "talvez o preço maior ainda não tenha sido totalmente saldado"













Você prefere o Arruda chorão de 2001...















... ou o fanfarrão de 2010?


Você, caro leitor, na certa assistiu ao debochado pedido de desculpas do (des)governador do Distrito Federal e mega-investidor da indústria de panetones, José Roberto Arruda, ontem, pela televisão.

Como certos políticos (e políticos incertos) têm o poder de sempre superar o limiar do escárnio, o bicampeão nacional de defenestração partidária, dessa vez, tinha um ridículo risinho de ironia no canto da boca, para dizer que perdoava os que o criticaram, a fim de alcançar o direito de ser perdoado.

Um fofo, não é mesmo?

Mas o que havia, de fato, atrás daquele patético gracejo, era a certeza da impunidade.

A bem da verdade, Arruda não poderia mesmo repetir a dose do choro, como fez em 2001, ao “pedir penico” no Senado Federal, depois de ter participado da violação do painel da Casa, de ter mentido que era inocente... e após ver a sua batata esturricar.

E olha só, caro leitor, como Arruda foi profético no lamurioso discurso de despedida do Senado, há quase nove anos: “... não roubei, não matei, não desviei dinheiro público [ainda, eu diria], mas cometi um grande erro, talvez o maior da minha vida. No primeiro momento, não percebi sua extensão [alienação conveniente]. Tentei negá-lo, Sr. Presidente [mentira evidente], e esse foi outro grave erro. Estou pagando caro por isso, um preço muito alto, MAS TALVEZ O PREÇO MAIOR AINDA NÃO TENHA SIDO TOTALMENTE SALDADO”.

E você? De qual Arruda “gosta” mais? Do chorão de 2001... ou do fanfarrão de 2010?

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Pax Mafiosa

Mais uma vez tomo a liberdade de inserir neste modesto blog uma opinião relevante, tomada de um jornalista que faz eco ao que eu tenho declarado aqui sobre o vínculo entre a corrupção no serviço público (incluídos aí o Legislativo, o Executivo e o Judiciário) e a criminalidade. A lúcida análise feita por Clóvis Rossi sobre artigo do Professor Juan Gabriel Tokatlián mostra o que está exatamente embaixo do nosso nariz -- e que esse nariz está plenamente enterrado na areia. Publicado na Folha Online de 25/11/2009.

Pax mafiosa

O título acima não é meu, mas de Juan Gabriel Tokatlián, professor de Relações Internacionais da Universidade Di Tella, da Argentina, e um dos maiores especialistas latino-americanos, talvez o maior, em segurança e defesa, temas que estuda há muitíssimo tempo.

A "pax mafiosa" é uma referência ao fato de que houve "um crescimento pavoroso do crime organizado", que se tornou uma ameaça à segurança nacional e também um "fenômeno sociológico".

"Não toda a América Latina, mas muitos ambientes regionais vivem a pax mafiosa", dispara Tokatlián. Inclui o México, a América Central, o Caribe insular e, sim, "centros urbanos no Cone Sul, inclusive Brasil e Argentina", para não falar obviamente da região andina, grande produtora de drogas, um dos principais "produtos" do crime organizado.

Mas não é o único produto, é bom que se diga. Há também contrabando em geral, de armas em particular, prostituição, tráfico de mulheres, enfim um elenco assustador.

Tokatlián identifica três fases no crescimento do crime organizado: a primeira é o que chama de "predatória", ou seja, a ocupação de espaços. Ele não citou o exemplo, mas é fácil enquadrar a guerra nos morros do Rio de Janeiro nessa fase.

A segunda etapa é a "parasitária", em que a atividade econômica derivada do crime organizado caminha junto com atividades legais.

Fecha o círculo a fase "simbiótica", em que há "um matrimônio entre a dinâmica criminosa e a legal".

Desconfio seriamente que o Brasil, ao menos parte dele, está já na terceira fase, mas faltam estudos capazes de dizer se é isso mesmo ou não.

O fato é que os criminosos compõem hoje "uma classe social emergente", com um efeito político óbvio: "Essa classe social emergente é, acima de tudo, reacionária", diz o estudioso argentino.

Completa: "Usa a democracia para manipulá-la".

Já Juan Pablo Corlazzoli, coordenador para América Latina e Caribe de Governabilidade Democrática do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, solta um dado que evidencia o casamento entre criminalidade e autoritarismo: em Honduras, antes do golpe que depôs o presidente Manuel Zelaya, uma pesquisa feita pelo PNUD mostrou que 59% apoiariam um governo autoritário desde que resolvesse a grave crise de segurança que o país vive, como toda a América Central aliás.

É óbvio que o golpe não foi dado a partir dessa pesquisa, mas é igualmente óbvio que o crescimento do crime, organizado ou não, predispõe a cidadania a aceitar qualquer coisa. Os números de homicídios dolosos na América Latina comparados a outras região são tremendos: foram 25,1 assassinatos por 100 mil habitantes em 1997, último ano para o qual há dados comparáveis. Na Europa Ocidental, apenas 1,4 por 100 mil.

O Brasil fica mal na foto: em 2001, 23 pessoas de cada 100 mil morreram assassinadas.

O que impressiona, além dos números, é o fato de que os governos, inclusive o brasileiro (o atual como os anteriores), são omissos. Não se vê ação em nenhum dos quatro pontos que Tokatlián acredita serem essenciais para enfrentar o problema: "maior presença do Estado; uma sociedade civil ativa; uma separação nítida entre o que deve ser feito pela polícia e o que deve ser feito pelos militares; e uma cooperação efetiva entre os países".

Ante a omissão, é natural que se vá impondo a "pax mafiosa".


Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Assina coluna às quintas e domingos na página 2 da Folha e, aos sábados, no caderno Mundo. É autor, entre outras obras, de "Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo e "O Que é Jornalismo".


quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Voltei duas vezes ao meu passado e, nas duas vezes, não te vi. Onde estavas, no meu passado?

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Queremos mais bandidos

O mais novo ministro do STF, Carlos Ayres Britto, votou pela extradição do terrorista italiano Cesare Battisti, condenado na Itália à prisão perpétua por assassinar quatro pessoas. A votação no Supremo ficou empatada e aguarda o voto do Presidente do Tribunal, Ministro Gilmar Mendes (aquele que até hoje não explicou o que significa a expressão "seus capangas do Mato Grosso", usada pelo Ministro Joaquim Barbosa).

Ocorre que o Ministro Gilmar está fazendo o que pode (se está fazendo também o que não pode, eu não sei) pra não votar. Tem as razões dele lá para não se posicionar nesse caso.

Mas, para que o Ministro Gilmar não vote, é preciso mudar a votação original. Desse modo, busca-se agora fazer com que o calouro Carlos Ayres Britto mude seu voto. Mudar o voto! O homem vota conforme entende que deve votar mas é pressionado a desvotar. E vejam só como é a pressão: a defesa do réu contratou um ex-mestre do Ministro Carlos para convencê-lo a mudar o voto. Defesa é defesa e deve apelar pra tudo quanto é santo, mas como é que os advogados conseguem pressionar o juiz a mudar seu voto?????? A quem interessa que Battisti escape à punição por seus crimes, de resto já determinada pela justiça italiana? Quem somos nós, no Brasil, pra dizer que o crime de Battisti, cometido na Itália e julgado lá, é um "crime comum", um "ato terrorista" ou um "ato político"?

Nossa tradição jurídica é de anistiar criminosos, libertar criminosos, conceder benefícios a criminosos, dar penas brandas a criminosos ou, mais comumente, sequer puni-los.

Agora estamos exportando nossa expertise para o Lácio, como um carma desgraçado que volta para assombrar os juízes italianos.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Fora da ordem

Manchetes de hoje (22/10/2009) na Folha de S. Paulo:
  • "Menino de 13 anos é detido pela 12ª vez em São Paulo"
  • "PMs que liberaram assassinos do coordenador do Afroreggae cumprem prisão disciplinar"
  • "Concurso para garis atrai 22 mestres e 45 doutores no Rio"
  • "Escola pública de São Paulo cobra de aluno para fazer prova e vende uniforme"
  • "No Brasil, Cristo teria que se aliar a Judas, diz Lula"
Quem lê jornal, ouve rádio ou vê televisão sabe que os temas tratados nessas reportagens constituem, há muitos anos, o cotidiano de qualquer um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. A frouxidão das leis protege e garante a impunidade a criminosos desde tenra idade; não se pode confiar na polícia; não há trabalho para profissionais especializados; a massa de desonestos no serviço público distorce as políticas públicas e obriga os não-tão-desonestos a firmar verdadeiros pactos com o demônio para sobreviver.

Os leitores, ouvintes e telespectadores também sabem que isso tudo não é privilégio do Brasil; há gente ruim e desonesta espalhada pelo mundo todo, prejudicando o avanço da Humanidade de modo geral; uma classe de subumanos de índole pérfida, que aproveitam-se do acidente que lhes deu um cérebro inteligente para dar largas à sua natural inumanidade.

Entretanto, alguns países conseguiram em muitos casos refrear o instinto selvagem dessas semi-bestas travestidas de seres humanos; e têm punido aos que insistem em dar vazão a seu lado menos humano e mais bestial.

Alguns exemplos de sucesso são bem conhecidos: Nova York já foi a cidade mais violenta e insegura do mundo, até o dia em que um prefeito decidiu que a tolerância ao crime, qualquer crime, deveria ser zero -- e, a partir daí, a cidade voltou a ser um lugar onde se pode andar pelas ruas ou abrir negócios.

Na Grécia, um promotor sério pôs de joelhos os atrozes ditadores que massacraram seus próprios compatriotas a partir do golpe de estado de 1967.

No Japão, a tradição da honra leva corruptos ao suicídio quando são denunciados ou descobertos e, portanto, desonrados.

Nós brazucas somos provavelmente o povo mais complacente do mundo: os criminosos da ditadura militar foram anistiados e ficaram a salvo de qualquer julgamento justo ou imputação de responsabilidade; acolhemos oficialmente outros genocidas como o general paraguaio Alfredo Stroessner, que morreu feliz, rico e impune em sua mansão no Lago Sul, em Brasília; protegemos bandidos estrangeiros contra as decisões da justiça dos seus respectivos países, como no caso do terrorista italiano Cesare Battisti; e, aqui, gente ruim pode fazer o que lhe der na telha até completar dezoito anos de idade, enquanto aprende como fazer isso depois dos dezoito.

Será que o terror imposto pela ditadura militar no Brasil fez com que nos tornássemos tolerantes com o crime, lenientes com a corrupção, cegos ao absurdo de distorção que é o serviço público no Brasil? Perdemos completamente a capacidade de reagir, por sobre as gordas papadas das "autoridades", contra aquilo tudo que avilta a nossa vida e nos avermelha a cara de indignação?

Quando levanto essas questões, sinto que eu também deveria tomar uma atitude para conquistar terreno às quadrilhas de bestas-feras que tomaram à força o nosso lugar. Mas me sinto impotente. Onde estão os que ainda têm capacidade para indignar-se? Onde estão os que ousariam enfrentar o poder dos fantoches armados e defendidos pelos Monseigneurs de toga?

E, o pior: quem me garante que não sairia, dentre esses possíveis defensores da Humanidade, um novo Robespierre, um novo Fidel Castro, um novo Khomeini?

Insisto em afirmar que a desonestidade e o crime no Brasil têm jeito; muito embora eu não tenha, até agora, conseguido demonstrar essa tese com solidez.

Algo parece estar fora da ordem, defeituoso, até mesmo sem uma nova ordem mudial.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

As coisas que temos que fazer não têm preço. Fazêmo-las, custe o que custar.

Amigo de Si Mesmo

Cedo ou tarde chegamos à estressante conclusão de que não fomos exatamente aonde pretendíamos ir; e que o tempo está-se esgotando. A autocrítica que se segue a essa descoberta pode ser bastante severa.

O texto a seguir foi-me enviado por e-mail; trata disso e é atribuído a Martha Medeiros, pensadora e poetisa gaúcha, colunista do jornal Zero Hora, de Porto Alegre. Na Internet, quase tudo que reluz não é ouro, em termos de autoria, mas o texto é bom e vou reproduzi-lo aqui, até pra facilitar a releitura:

"Em seu recém-lançado livro "Quem Pensas Tu que Eu Sou?", o psicanalista Abrão Slavutsky reflete sobre a necessidade de conquistar o reconhecimento alheio para que possamos desenvolver nossa autoestima. Mas como sermos percebidos generosamente pelo olhar dos outros? Os ensaios que compõem o livro percorrem vários caminhos para encontrar essa resposta, em capítulos com títulos instigantes como Se o Cigarro de García Márquez Falasse, Somos Todos Estranhos ou A Crueldade é Humana. Mas já no prólogo o autor oferece a primeira pílula de sabedoria. Ele reproduz uma questão levantada e respondida pelo filósofo Sêneca: “Perguntas-me qual foi meu maior progresso? Comecei a ser amigo de mim mesmo”.

Como sempre, nosso bem-estar emocional é alcançado com soluções simples, mas poucos levam isso em conta, já que a simplicidade nunca teve muito cartaz entre os que apreciam uma complicaçãozinha. Acreditando que a vida é mais rica no conflito, acabam dispensando esse pó de pirilimpimpim.

Para ser amigo de si mesmo é preciso estar atento a algumas condições do espírito. A primeira aliada da camaradagem é a humildade. Jamais seremos amigos de nós mesmos se continuarmos a interpretar o papel de Hércules ou de qualquer super-herói invencível. Encare-se no espelho e pergunte: quem eu penso que sou? E chore, porque você é fraco, erra, se engana, explode, faz bobagem. E aí enxugue as lágrimas e perdoe-se, que é o que bons amigos fazem: perdoam.

Ser amigo de si mesmo passa também pelo bom humor. Como ainda há quem não entenda que sem humor não existe chance de sobrevivência? Já martelei muito nesse assunto, então vou usar as palavras de Abrão Slavutsky: “Para atingir a verdade, é preciso superar a seriedade da certeza”. É uma frase genial. O bem-humorado respeita as certezas, mas as transcende. Só assim o sujeito passa a se divertir com o imponderável da vida e a tolerar suas dificuldades.

Amigar-se consigo também passa pelo que muitos chamam de egoísmo, mas será? Se você faz algo de bom para si próprio estará automaticamente fazendo mal para os outros? Ora. Faça o bem para si e acredite: ninguém vai se chatear com isso. Negue-se a participar de coisas em que não acredita ou que simplesmente o aborrecem. Presenteie-se com boa música, bons livros e boas conversas. Não troque sua paz por encenação. Não faça nada que o desagrade só para agradar aos outros. Mas seja gentil e educado, isso reforça laços, está incluído no projeto “ser amigo de si mesmo”.

Por fim, pare de pensar. É o melhor conselho que um amigo pode dar a outro: pare de fazer fantasias, sentir-se perseguido, neurotizar relações, comprar briga por besteira, maximizar pequenas chatices, estender discussões, buscar no passado as justificativas para ser do jeito que é, fazendo a linha “sou rebelde porque o mundo quis assim”. Sem essa. O mundo nem estava prestando atenção em você, acorde. Salve-se dos seus traumas de infância.

Quem não consegue sozinho, deve acudir-se com um terapeuta. Só não pode esquecer: sem amizade por si próprio, nunca haverá progresso possível, como bem escreveu Sêneca cerca de 2.000 anos atrás. Permanecerá enredado em suas próprias angústias e sendo nada menos que seu pior inimigo".

(Martha Medeiros, "Amigo de Si Mesmo")

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Michael

O trailer de "This Is It" é soberbo. Feito para despertar uma emoção diferente a cada segundo, é alegre, estimulante, feliz, luminoso, e passa a imagem de um Michael muito amado, abençoado e iluminado. Deixa o coração esgarçado por tanta energia, como se tivéssemos feito uma hora de ginástica aeróbica a todo vapor. Faz relembrar a perseguição absurda levada a cabo pelo puritanismo do Novo Mundo; os aproveitadores de plantão e o monte de sanguessugas, agora também órfãos do seu imenso talento e de sua incrível capacidade de gerar sucesso e riqueza.

O filme aquece o coração de várias maneiras e deixa tristeza quando vai embora.

Amanhã?

O passado passou a noite comigo, enquanto o presente dormia e suspirava. E, relembrado em cada falta, hoje pela manhã o futuro olha pra mim com uma notável reprimenda nos olhos.

sábado, 26 de setembro de 2009

Tecnologia outra vez

Deu na Folha Online de hoje:

Japão estuda construir central de energia solar no espaço
(clique
aqui para ver a reportagem na íntegra)

"O Japão, país que, apesar de não
ter muitos recursos
naturais,
ocupa a dianteira no desenvolvimento de tecnologia de ponta, planeja construir
uma central solar espacial para enviar energia à Terra através de raios laser ou
micro-ondas".

Diz a reportagem que o projeto vai estar inteiramente operacional em 2030. Uhu, eu ainda vou ver isso.

P.S.: a foto que ilustra este post é da ISS, feita pela NASA durante uma aproximação do Atlantis.

Tecnologia x relacionamentos

O campo é vastíssimo. A tecnologia faz parte de nosso cotidiano, para o bem e para o mal. Mas vou ater-me apenas a uma dentre as inúmeras possibilidades de interferência da tecnologia sobre os relacionamentos humanos: o chat.

Pior: o chat com som. Atire a primeira pedra quem nunca esqueceu o microfone ligado e acabou enfrentando uma saia justa, mas o exemplo do meu amigo foi tão exemplar (ui) que eu não pude deixar de mencioná-lo neste modesto blog.

Bem: estava eu placidamente a jogar no computador quando...

birosca:

Skype malditooo
tava falando com uma menina q fico
e tomando coca cola
dai deu uma baita vontade de arrotar
dai pensei vou por no mudo o microfone e mandar ver
foi o q fiz
so escuto ela falando do outro lado
''eiita falta de educaçao''
u.u
quase morro
e a mae dela tava perto

Eu:
essa foi de lascar

birosca:
se foi
=(
to com vergonha aqui
skype maldito =/


Peço perdão pelas risadas (hahahahaha), mas amigo é, também, pra essas coisas. Acredito, sinceramente, que os nerds programadores do Skype tenham preparado essa pegadinha de propósito. E, a essa altura, provavelmente estão rindo a bandeiras despregadas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Direitos Humanos

Eu sei, tá batido. Mas teorizemos. Os anos de ditadura criaram, no Brasil, um repúdio da sociedade ao autoritarismo, à intervenção do Estado na vida do indivíduo e, parece, às punições.

A sociedade brasileira comporta-se, quanto a isso, como pais que foram absurdamente severos com o primeiro filho e que tentam mitigar o sentimento de culpa sendo absolutamente permissivos com o filho mais novo.

Assim é que aprovamos leis que praticamente absolvem, por antecipação, criminosos reincidentes de todas as idades e, em especial, criminosos que ainda não têm 18 anos de idade. Disso se aproveitam os próprios criminosos que, não bastasse terem na ponta da língua todos os seus direitos, são amparados por outros criminosos que conseguiram obter diploma de advogado ou o cargo de juiz. Outros bandidos, mais ambiciosos, despidos de qualquer qualificação técnica mas com um apoio popular expressivo, sagram-se legisladores, escancarando ainda mais as já enormes brechas da lei, em proveito próprio e do submundo do crime. Ainda outros bandidos, contratados pelo Estado com o dinheiro do contribuinte para serem policiais, fiscais, etc. facilitam as coisas mediante uma propinazinha qualquer.

Se, apesar de todas essas salvaguardas, o azarado bandido acaba na mão de um cidadão honesto que virou policial, e esse cidadão, indignado com a covardia do estuprador, não resiste à tentação de pelo menos dar-lhe uma bofetada, ainda aparecem as célebres organizações de defesa dos direitos humanos, para defender... o estuprador, lógico.

Aí está: as organizações de defesa dos direitos humanos no Brasil estão-se celebrizando pela defesa de criminosos que, por uma extrema infelicidade, acabam sendo presos -- e é frequente a reclamação de que nunca visitaram uma única vítima de criminosos. Esses grupos de "defesa dos direitos humanos" deviam ir gritar na cara de um policial norte-americano ou passar uns dias numa prisão francesa, pra ver como é que os civilizados tratam os fora-da-lei.

Tais organizações frequentemente têm em suas fileiras aqueles advogados que já citei acima, que conhecem os juízes que citei acima, que se aproveitam das brechas legais criadas pelos legisladores citados, etc., etc. São como os estudantes que a gente vê passar de cara pintada de verde e amarelo, num sete de setembro, gritando, felizes, "1, 2, 3, Fora Sarney", sem saber que o líder deles recebeu uma graninha pra organizar o movimento -- e que o movimento nada tem de popular.

A pena máxima, no Brasil, não importa quão hediondo seja o crime, e nas raras oportunidades em que é punido, o é com no máximo trinta anos de prisão, dos quais se cumpre 1/6, ganha-se progressão para regime semi-aberto, e desaparece-se num indulto de Natal. Bandidos bem pagos pelo contribuinte possuem imunidade parlamentar, quando não o mandato divino que é concedido aos que se tornam juízes. O judiciário constrói todo dia maiores e mais opulentos palácios, compra togas maravilhosas e nem olha para as famílias cujos chefes foram mortos por assaltantes e que amargam um longo processo, à míngua, sem poder pagar os caríssimos advogados do tráfico e sem esperança de qualquer compensação por parte do Estado.

Claro está que nem todos os juízes, parlamentares e policiais são bandidos. Há os bem-intencionados que esbarram na inércia estatal e acabam acomodando-se a meramente cumprir a lei, sem se preocupar com critérios subjetivos como justiça, por exemplo. Mas as notícias nos jornais indicam ser uma parcela pequena desse obscurecido universo.

Ou se veta o acesso dos bandidos aos cargos de juízes, advogados, legisladores e policiais ou nunca haverá segurança, imagine justiça, para o cidadão comum no Brasil.

Papo WYD

No meio do expediente, com a mesa cheia de papéis, prazos e telefones, me liga o TK-CCE. Iniciamos um chat rápido pelo Skype, repleto de tudo o que torna o WYD um ambiente único: ninguém, mas ninguém mesmo, se preocupa com o politicamente correto, com netiqueta, gramática, notações léxicas ou com coisíssima alguma. A linguagem de chat é rica em grafismos e onomatopeias, numa substituição da exuberante gesticulação adolescente. É uma autêntica previsão do que tende a ser a Humanidade nas próximas décadas. Desfrutem:

TK-CCE: OU EMO SEU BLOG E ATUALIZADO TDS OS DIAS?

The Pymm:
nao so quando da na telha ^^

TK-CCE: k me entrevista la q nem vc fez com a kyseisa

The Pymm: boa ideia mas eu nao entrevistei kyseisa ^^

TK-CCE: ahh foi so 1 dialogo?

The Pymm: nao tem nada de kyseisa publicado no meu blog ^^ onde vc viu isso?

TK-CCE: tem s eu vi la emo

The Pymm: ouxe vou olhar

TK-CCE: kkkkk lol

The Pymm: sera q hackearam meu blog?

TK-CCE: oO rss

The Pymm: aaahhhhhhhh kkkkkkkkkkkkkkkkk foi um dialogo no msn kkkkk to doido

TK-CCE: oO

The Pymm: ae gostei da sugestão mas agora to no trabalho nao vai dar

TK-CCE: oks

The Pymm: como ta sua agenda pra hoje a noite?

TK-CCE: q hra vc chega nada vazia

The Pymm: umas 19 h

TK-CCE: oks

The Pymm: bele

TK-CCE: affz parei de jogar por enquanto ta osso o wyd CHATOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
The Pymm: pior q ta mesmo baniram todo mundo q deixava o wyd emocionante

TK-CCE: POISE

The Pymm: rex300, rosalia, elcomedor, bizunga

TK-CCE: MTO PAIA

The Pymm:
quando o pau comia

TK-CCE: A BIZUNGA Q BOTAVA FOGO AI O PAU COMIA rss

The Pymm: kkkk eles tao todos no jogo so q tao na moita nao podem aparecer muito

TK-CCE: pow esse negocio de tds os sv serem aliados e chato d++

The Pymm: coisa de emo o legal sao as guerras vamos fomentar a inimizade entre os povos

TK-CCE: shuashua

The Pymm: ae a entrevista vai ser sobre isso mais tarde bele?

TK-CCE: oba bele

The Pymm: t + ^^

TK-CCE: t+++^^

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Terapias alternativas

Deu hoje na Folha Online:

"A polícia alemã prendeu um médico neste domingo depois que duas pessoas morreram e uma entrou em coma em uma terapia em grupo em Berlim. O médico é acusado de prescrever o uso de drogas ilícitas às pessoas do grupo.

As autoridades acreditam que o médico, de 50 anos, conduzia uma misteriosa sessão de terapias em grupo no distrito de Hermsdorf, em Berlim. Ele confessou ter prescrito drogas como heroína, anfetaminas e ecstasy para "expandir a consciência dos seus pacientes".

Dois homens - um de 59 anos e outro de 28 - teriam morrido em uma das sessões no sábado, quando a polícia foi chamada.

Algumas das 12 pessoas que participavam do grupo foram hospitalizadas com suspeita de envenenamento. Uma delas, um homem de 55 anos, está em coma, em situação grave. Todas dizem ter recebido um coquetel de drogas ilícitas pesadas.

O médico alegava que oferecia "ajuda em crises espirituais". A mulher do médico também participava das sessões".

O fato de existirem as ditas terapias "alternativas" em todos os lugares onde há porralouquice não espanta tanto quanto o outro fato, o de os membros da comunidade bicho-grilo mundial serem absolutamente desprovidos de sentidos básicos de preservação da sua integridade física, mental e espiritual.

Outro dia deu na TV que um conferencista "holístico", contratado para elevar o moral dos funcionários de uma empresa paulista, fê-los andar sobre brasas, objetivando demonstrar o poder da mente sobre a matéria. As impressionantes queimaduras nos pés das infelizes criaturas sequer chamuscaram a reputação do "coach" de vanguarda ou o assombroso número de membros do seu fã-clube.

No afã de levantar recursos financeiros, já pensei em abrir uma igreja, em fazer workshops de regressão, em escrever livros com títulos "místicos" a partir de mitos antigos adaptados ao cotidiano do Século XXI, mas até agora não me equipei o suficiente para reclamar admissão a tão seleto clube.

A gente nasce, digamos, picareta? Ou pega o jeitão, já que o incansável público apanha, paga caro e uiva pedindo mais?

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Harmônica

Sempre houve música em casa. Minha mãe amanhecia cantando suas marchinhas; meu pai tocando chorinho na harmônica, que ele sempre chamou de realejo... Eu mesmo cantarolo o tempo todo, até quando estou no trabalho. Nem percebo. Meu caçula cantarola sem parar. Meu filhote mais velho produz musicais.

Lembro de ouvir Beethoven, vibrante, colérico, terrível, na radiola ABC Canário, enquanto olhava sua foto na parede do corredor com aquele cabelo despenteado, a carranca que aprendi a amar. Mozart, Liszt, Dvorak, Handel, Nelson Gonçalves, Chopin e Roberto Carlos moravam na sala de estar. Minha tia tocava música italiana no acordeon. Meu tio dedilhava Dilermando Reis no Di Giorgio lustroso, com cheiro de madeira boa, caprichando nas posições que lhe permitissem fazer com os dedos algum gesto que me divertisse. Desde pequeno diferencio um Del Vecchio de um Giannini só de ouvir tocar.

Numa manhã, dessas manhãs cheias de luz (aaaahhh vocês tinham que ouvir essa) acordei de um sonho feliz, ainda ouvindo meu pai cantar uma de suas canções favoritas:

Sul mare luccica, l’astro d’argento
Placida è l’onda,
Prospero è il vento.

Venite all’agile, barchetta mia,
Santa Lucia, Santa Lucia!


Comentei isso com ele pelo telefone, e rememorei o cheiro metálico do estojo revestido internamente de feltro vermelho, do realejo que eu pegava às escondidas quando ele saía, pra tentar tocar... Pois não é que, alguns dias depois, recebi uma caixinha láááá de João Pessoa? E o que tinha dentro?! O próprio. Nem acreditei que ele ainda existisse! Agora o querido instrumento repousa na minha estante de lembranças de casa, perto das fotos dos manos, das novas manas, dos filhos, de mamãe e de papai; meio emudecido, mas feliz de reencontrar-me, velho companheiro de aventuras de infância.

Amor como confetti

Saudade da minha mãe! Ouço sua voz nos espaços mais doces da minha memória, cantando a marchinha de David Nasser, com sua voz melodiosa, em algum lugar lá dentro da casa espaçosa e acolhedora:

Confete
Pedacinho colorido de saudade
Ai, ai, ai, ai,
Ao te ver na fantasia que usei

Confete
Confesso que chorei
Chorei porque lembrei
Do carnaval que passou
Daquela Colombina que comigo brincou

Ai, ai, confete
Saudade do amor que se acabou...


De repente fiquei doidim pra ir passar o próximo carnaval com ela, com meu pai, meus irmãos, meu filhote, meus amigos, minha preta.

domingo, 13 de setembro de 2009

Tratado da mutabilidade das impossibilidades

Ponderava eu sobre como dar ao filhote distante a notícia definitiva da minha impossibilidade financeira de passar com ele as férias de julho deste ano, quando percebi o alerta de chamada do msn. E quem era?? Ele mesmo, usando o nick do personagem do WYD e a forma característica de escrever utilizada no jogo.

Travou-se então o seguinte diálogo:

Kyseisa diz:
iae pim
beleuza di creuza?

Euni diz:
oi filho
bom dia
tudo beleuza
e tu?

Kyseisa diz:
tudu
passei por media ingles
to di ferias ^^

Euni diz:
eeeeeeeeeeeee
parabens filhoteeeeeee
você é dezzzzzzzzzzzzzzzz

Kyseisa diz:
^^
to vendo o horoscopo aki

Euni diz:
eita
tá bom ou ta ruim?

Kyseisa diz:
ta bom
^^ vo ve o de kalokas

Euni diz:
^^

Kyseisa diz:
o teu agora
"Momento de maior estabilidade e segurança pessoal, e isso tende a fazer com que você sinta que a sua vida está bem assentada e que tudo está funcionado de acordo. A fase é favorável para a sua saúde, e você poderá ainda aproveitar as coisas boas da vida sabendo desfrutá-las e tendo a moderação necessária. Aproxime-se das coisas que você valoriza".

Kyseisa diz:
^^
aproximixi di mim

Fiz as malas e fui pra João Pessoa.

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Eu, consumidor

Ainda é sobre o Catho, mas abrange a questão do respeito ao consumidor no Brasil.

Depois de tentar inutilmente cancelar meu contrato (aquele, da Promoção 7 Dias Grátis do Catho Online), e de ver o débito programado e não autorizado na minha conta bancária, resolvi protestar em todos os sites possíveis. No Brasil há vários, então saí postando alucinadamente a minha história, engrossando as fileiras das centenas de reclamações existentes na internet sobre o mesmo assunto. Poderia ter ficado aí, como ficaram as referidas centenas. Mas eu sou brigão. Quando vi que o "serviço" 7 dias grátis também estava sendo oferecido pelo Catho em Portugal, nem pensei duas vezes: entrei no site de reclamações do governo português e pus minha denúncia lá. En passant, escrevi também para o Correio da Manhã, jornal de grande penetração em terras lusas. Ato contínuo, pus minha reclamação no Correio Braziliense e mandei um e-mail para o Ministério Público.

Ah, também inseri minha contribuição no verbete "Catho", da Wikipedia. Após uma breve guerra de edições (o pessoal do Catho recusava-se a aceitar minhas edições e as apagava tão logo eu as inseria), acabei conseguindo o apoio dos mediadores e a edição ficou lá. É uma seção intitulada "Catho, PROCON e Ministério Público".

No primeiro dia útil seguinte, recebi um telefonema do Catho informando que, em atenção à minha postagem no Reclame Aqui, estavam cancelando minha assinatura e os débitos indevidamente lançados.

Puxa vida, não poderiam elegantemente ter-me poupado todo o trabalho? Por que não atender ao consumidor quando ele quer ser atendido pacificamente em uma demanda justa?

Alguém faça o favor de explicar-me o raciocínio que leva o fornecedor de bens e serviços a levar o cliente à loucura antes de atender ao seu pedido.

...

Em tempo: pedi e o Banco do Brasil aceitou cancelar o débito resultante da assinatura ("gratuita") feita por Yenny. Mas a pessoa que me telefonou do Catho pra informar sobre o cancelamento da minha assinatura disse que Yenny teria que ligar pra lá pra pedir o cancelamento da assinatura dela, ou eles continuariam enviando o débito pra minha conta. Ligar de novo? Vou ver o que acontece se eu aumentar a pressão. Entre os meus planos está um BO na Polícia Civil e uma reclamação formal no Procon-DF.

sábado, 5 de setembro de 2009

Truque da Catho Online S/C Ltda para levantar recursos financeiros: Promoção 7 dias gratuitos

Reclame Aqui > Catho Online S/C Ltda - Promoção 7 dias gratuitos

(Posted using ShareThis)

Pois bem: eis-me aqui com cara de otário, dizendo ao mundo que também caí no golpe da Catho, como caiu o rapaz do link acima. Mas eu caí duas vezes!!

Na primeira vez assinei a Catho por um ano. Paguei religiosamente em dia, postei centenas de currículos para centenas de anúncios, e nunca recebi qualquer resposta. Meu currículo não é tão ruim assim. Somente agora, depois de ver na Internet as dezenas de posts, scraps, reclamações e PROCONS sobre a Catho, é que me caiu a ficha.

Perguntaríeis: "mas cara, por quê você resolveu, assim de repente, pesquisar sobre a Catho na Internet"?

Respondo:

Recentemente, já atuando como consultor, aproveitei a "Promoção 7 Dias Grátis" que aparece na página inicial do site da Catho para buscar novas oportunidades de prestar algum servicinho B2B. A promoção diz que o assinante pode usar o site por 7 dias gratuitamente, desde que opte por um plano de assinatura, para o caso de gostar do serviço (assinatura mensal, trimestral, etc.) e informe o número de conta bancária para eventual débito dos valores desses planos, just in case (com o perdão do trocadilho infame). Ao tentar cancelar, no sexto dia, descobri que já estavam me cobrando a primeira parcela mensal, desde o segundo dia da assinatura. Tentei cancelar o débito no site e não consegui, já que a opção de cancelamento obriga o cliente a pagar uma mensalidade. Liguei pra obter ajuda, mas me disseram que o cancelamento só pode ser feito pelo site.

A atendente disse que não podia cancelar, já que EU havia optado por pagar, confirmando isso em TRÊS TELAS DO SITE (meu queixo caiu: EU fiz isso?) .

Claro que não fiz, e fui enfático. Insisti que queria meu caso solucionado. Ela disse que iria passar pra outra atendente. Lembrei a ela que, pelas regras de call center, ela era obrigada a resolver o assunto sem transferir pra mais ninguém. Ela me disse (juro que ela deve ter morrido de rir enquanto dizia isso) que o serviço de atendimento telefônico do Catho era "CENTRO DE ATENDIMENTO" e não "CALL CENTER", o que a desobrigava de cumprir a lei.

A atendente seguinte brindou-me com um texto que, na visão do Catho, justificava cabalmente a incancelável cobrança. A qualquer pergunta que eu fizesse ou a qualquer argumento que eu apresentasse, ela repetia o script inteiro, palavra por palavra, e não adiantava tentar interrompê-la. Pra finalizar, disse que, se eu não pagasse, iria pro SPC e SERASA.

Fiquei pensando no que fazer com tudo isso.

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P.S.: Se você acha que estou exagerando, pesquise na Internet a expressão "armadilha do Catho 7 dias" ou clique aqui pra ver os resultados do Google.

P.P.S: Aproveite e pesquise a palavra "catho" no Twitter.

domingo, 5 de julho de 2009

Arte Moderna

Nesta semana fui assistir a "A Casa" (bela adaptação d´"A Casa de Bernarda Alba", de García Lorca), encenada por grupo da Faculdade Dulcina de Moraes. Montada na ótima Sala Plínio Marcos, da Funarte, a peça conta com um elenco de talentos notáveis, respeitável direção, músicos e cantores de indiscutível competência, contra-regra e iluminação profissionais. Aplaudi de pé, junto com a sala inteira.

Corte para "O Beijo No Asfalto", também parte da IX Mostra Dulcina. Exibida na sede da própria Faculdade, "O Beijo" conta com todas as desvantagens possíveis em matéria de espetáculo, e ainda cria outras. Pra começar, a sala onde é exibida só comporta trinta pessoas, como informa o release e o cordial recepcionista que distribui os "convites" na calçada do Conic. Quando cheguei ao local a primeira sessão já estava esgotada, mas garantiram aos presentes que em 40 minutos começaria a segunda sessão. Enquanto isso, disse o alegre host, nós poderíamos participar da vernissage em andamento no primeiro andar. Segundo ele, o buffet estava bom. E estava mesmo, guardadas as devidas proporções. Já a exposição... Eu nem gosto de falar de arte moderna, já que, pra mim, Juan Miró devia receber acompanhamento de alguma professora primária pra aprender a fazer garatujas. Mas fui ver assim mesmo, já que não tinha nada melhor pra fazer e a esperança é a última que morre. Pois a tal vernissage espancou minhas esperanças até o nível de UTI. Coisa resistente, a esperança. No tal primeiro andar vimos a apresentação silenciosa de um bailarino-performático aos pulinhos e bailados pela sala, completamente sem simancol. Tinha uma luminária-mosquitéiro por trás de um lençol de chita. Tinha uns quadrinhos feitos de caixinhas vazias de geléia de hotel viradas pelo avesso; uma mulher (de verdade) costurando um enorme manifesto-faixa-de-chita que não entendi o que dizia; um ensaio fotográfico do tipo doméstico, onde apareciam algumas mulheres estáticas e um homem que mudava de traje a cada foto, concluindo por ficar nu, para horror das mulheres até então estáticas; e mais algumas coisas "criativas"que achei melhor não olhar de perto. Temendo ter meu senso crítico abalado se me demorasse no lugar, fugi para o saguão para esperar pela segunda sessão d´" O Beijo". Pra meu azar, no saguão dei de cara com uma instalação composta por duas tíbias verdadeiras de boi (boi tem tíbia?), do tipo carniça, amarradas por arame farpado e pendentes do teto por uma singela correntinha de prender vira-lata, sob a qual havia uma poça de sal grosso. Nem vou citar as demais instalações, porque isso aqui não é blog de horrores.

Bem: voltamos a esperar pela segunda sessão d´" O Beijo". Tínhamos duas opções: o calçadão do Conic ou o hall da Dulcina. No hall não deu, pois estava infestado por moças em adolescência permanente, cujos hormônios pareciam impedir que dissessem alguma coisa que não fosse aos gritos. Esperamos do lado de fora, aturando o pessoal do cigarro. Após cerca de uma hora e meia de eternidade foi anunciado o próximo início da segunda sessão, o que espicaçou ainda mais os hormônios das ditas moças: em segundos o status do ambiente saltou de desagradável para risco de agravo à saúde. Enfim, após ter decidido, pela centésima-nonagésima vez, que ia ficar pra ver a peça, descemos para o porão do Conic. No estreito corredor subterrâneo sem janelas e sem ventilação, um ator fumava furiosamente ao redor da fila, enquanto balbuciava em estado de choque um resumo do enredo da peça ("mulher atropelada" e não sei o quê mais). Uma profusão de panfletos semiqueimados no chão formava um cenário digno da Cinelândia depois de uma CowParade fantasma. Realista, fazia a gente imaginar o cheiro de urina e criolina e querer sair dali o mais depressa possível. Complementando o clima, uma luz vermelha fantasmagórica por trás de um biombo iluminava o local, acompanhada de um rangido arrigobarnabístico que saía de alguma caixa de som em algum lugar. Enquanto isso, um sapatão (lésbica é lésbica, mas sapatão é sapatão) adolescente dentro de um grupo atrás de mim fazia questão de perguntar aos coitados dos amigos se eles sabiam o que mais irritava a ela. E, como o grupo não parecia muito preocupado em adivinhar, o sapato ficava repetindo que era tesão reprimido. Senti-me transportado às festas do Piniqueiral promovidas pelo DCE da UFPb em 1980. Tem coisa que, definitivamente, não evolui. Mas, prossigamos no corredor mal-assombrado: pra entrar na sala de exibição tínhamos que assinar um caderno lá, a pedido de uma sorridente hostess. Assinei e me esgueirei pela ante-sala mais kitsch que já vi na vida, por entre um emaranhado de faixas plásticas zebradas de amarelo e preto, dessas usadas pela polícia americana pra fechar locais de homicídio nos filmes. Tenho certeza de que havia um retrato de Kafka, se borrando de rir, em algum lugar. Por fim, eventualmente chegamos à porta da sala de exibição, onde uma outra hostess olhou nossos "convites" (números 2 e 3) e disse que os nossos lugares eram em pé num canto de parede perto da entrada, atrás de umas oito pessoas que já se espremiam ali. De cara notei que não ia caber nem meu pé esquerdo, e fui pra outro lugar qualquer. Isto é, tentei ir, já que a sala, abarrotada de móveis enormes, só comportaria trinta pessoas na imaginação de alguma mente doentia. Dez ficariam quase confortáveis. Quase todo mundo estava de pé na sala minúscula, sem ventilação nem saída de emergência, o resto apinhado em alguns dos monstruosos sofás e poltronas disponíveis, ironicamente numerados.

Caro leitor, se você acha que este post é um trabalho de ficção, vá assistir ao "Beijo", mas não diga que não avisei.

Enfim: pra mim foi demais. Em protesto contra tantas agressões ao bom senso, à arte dramática, ao consumidor, aos olhos, aos pulmões e aos ouvidos, dei meia-volta sem ver a peça e devolvi o ingresso à sorridente hostess. Refiz o caminho do labirinto para a superfície e dei de cara com o também incansavelmente sorridente primeiro host, que me perguntou alegremente se eu tinha gostado do espetáculo. Como o pobre homem não merecia o que eu tinha a dizer, limitei-me a dizer que "não" e fui embora do Dulcina jurando nunca mais voltar.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um Advir

Hoje cumprimentei meu mais novo sobrinho, filho de Augusto, no portão da escola. Ele nem me conhecia antes disso, mas os genes, a aura, a semelhança são facilmente reconhecíveis até para uma criança em um sonho.

Ele estava no meio de uma operação conjunta de puxar alguém para fora do corredor de entrada: algo como um cabo-de-guerra sem corda.

Quieto (ou, pelo menos, mais quieto que os outros), zen, A CARA de Victor com a serenidade do pai. Cumprimentei-o: "e aí, sobrinho"?, levando o punho fechado em sua direção. "E aí, tio"? foi a contra-senha, carregada das vibes da família, enquanto batia o cotovelo e o punho contra a minha mão.

sábado, 6 de junho de 2009

Certas canções que ouço

Não acordo mais às três da manhã. Não monologo repetindo antigas conversas. O caminho bucólico voltou a ser apenas um caminho. Antigas canções... bem, não tenho ouvido antigas canções, mas isso não significa que não tenha cicatrizado. É que cicatriz não dói, mas também não é pele comum. E deve ser tratada como cicatriz.
Certas canções que ouço
Cabem tão dentro de mim
Que perguntar carece:
"Como não fui eu que fiz?!"

Certa emoção me alcança
Corta-me a alma sem dor
Certas canções me chegam
Como se fosse o amor

Contos da água e do fogo
Cacos de vida no chão
Cartas do sonho do povo
E o coração do cantor

Vida e mais vida ou ferida,
Chuva, outono ou mar,
Carvão e giz, abrigo,
Gesto molhado no olhar

Calor, que invade, arde, queima
Encoraja, amor
Que invade, arde, carece de cantar
Calor
Que invade, arde, queima
Enconraja, amor
Que invade, arde, carece de cantar...

(Tunai / Milton Nascimento, "Certas Canções"

Celestial


TransKnight
Duas espadas Caliburn Ancient
Griupan
Andaluz Negro

Amo Muito Tudo Isso :>

Medonho

É verdade que não falo muito sobre o meu mais recente casamento. Tenho um medo imenso de ser infeliz, de ter errado.

Evidente enxerto de complexo de avestruz + um otimismo que beira a porralouquice. E eu que me vejo tão sério!
"Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar".

HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA
HAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA

terça-feira, 28 de abril de 2009

Pelos Santos Óleos

Não se justifique: os amigos não precisam -- e os inimigos não vão mesmo acreditar.
Querido Blog, há quanto tempo! Nem reclame do meu sorriso amarelo, pois eu tenho zilhões de justificativas para o fato de havê-lo quase abandonado. Entretanto, não vou apresentar nenhuma, em consideração à nossa longa amizade.

Nesse ínterim, casei! Não se sinta triste pela ausência do convite: o casamento foi muito mais que informal e repleto de particularidades que, por enquanto, constituem o enunciado de uma teoria, em fase de comprovação, e que só funcionam mesmo na minha cabeça. Por falar nisso, algumas teorias anteriores, já comprovadas na prática, foram completamente desobedecidas para que a nova pudesse vingar. O que só prova que o Universo admite a coexistência das mais absurdas contraposições e que pode-se exercer plenamente o direito de voltar atrás.

Nesse ínterim, pela primeira vez, desisti! Ou procuro converncer-me de haver desistido, com argumentos sólidos e lógica insofismável. Com a desistência notei um efeito colateral inesperado: minha eterna busca pela coerência (isso é default, embora seja uma falha quase insuportável) leva-me a desistir de todo o resto. Virei um gato gordo domesticado. Isso demonstra que a virtude que leva alguém a manter uma continuidade em suas ações pode ser uma trava mortal -- seja qual for o lado para que se leve isso. Portanto, eis o meu manifesto: Abaixo a coerência!

Nesse ínterim passei a praticar TaiChi com o Mestre Woo. É meio besta, mas é algo pra fazer e evita que eu caia na preguiça e comece a acordar tarde. O TaiChi começa às seis da manhã (aaaaaaaarrrrrghhh!!!). Eu vou.

Nesse ínterim o Banco do Brasil me rapelou duas vezes, e fiquei sem internet, sem telefone e quase sem poder trabalhar. A imagem da galinha dos ovos de ouro me vem frequentemente quando penso nesse povo.

Virei celestial, saí a contragosto da Mirmidões e voltei com prazer para a Family. Falei com Shel. Vou postar algo nos sites das guildas. (imagino que pouquíssimos leitores irão entender o que eu disse neste parágrafo. Visitem www.wyd.com.br)

A questão do dinheiro continua incomodando, embora o trabalho esteja pra lá de confortável. Com a ajuda de Buda, Yeovah, Allah, Tupã e de todas as manifestações físicas da Consciência Cósmica, vou fechar um contrato bom brevemente, pra parar de me lamentar. Nem eu aguento mais isso.

Querido blog, tô aproveitando uma pausa entre uma coisa e outra coisa pra atualizar as notícias. Em breve poderemos conversar melhor. Abração!

terça-feira, 24 de março de 2009

On The Road



Aumenta que isso aí é rock'n'roll : )

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Mail para Dom Pablito

Bom dia, meu querido amigo!

Tenho recebido suas mensagens e morrido de rir com algumas delas, que acabo enviando a outras pessoas queridas. Nesta manhã de terça-feira, faltando uma semana para o carnaval de 2009 Anno Domini, estou sentado diante do meu computador, pensando: "que diabos eu estou fazendo aqui"?

A questão não é lá muito original, e fico imaginando quantas pessoas já se fizeram esta mesmíssima pergunta, em várias fases da vida, em toda a história da Humanidade.

Idade, trabalho, relacionamentos afetivos, e o cara sozinho pra tomar as decisões certas. Provavelmente não acertei nem 20% delas até hoje. Por enquanto estou (talvez injustificadamente) feliz, embora sinta falta de algumas coisas e de algumas pessoas, sonhos que não vingaram e sonhos ainda por vingar, velhos e novos. Também estou preocupado. E agora bateu a fome.

Foi bom falar com você. Espero que esteja bem, e que a maior parte das suas decisões tenham-se provado acertadas, ou pelo menos aquelas essenciais. Até onde eu vejo, parece que sim. Eis uma das alegrias da vida.

Dê meu beijo fraterno na sua querida esposa e um afago na filhota. Para você um abraço do amigo de sempre

Euni

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Salada Quarta-Feira

(ou: Como Limpar A Geladeira E Ainda Se Dar Bem)

- 1 folha de alface americana
- 1 folha de alface roxa
- 1 folha de alface comum
- 1 folha grossa de presunto cozido Sadia
- 50 g de queijo gorgonzola (eu só tinha Campolindo, vai Campolindo mesmo)
- queijo parmesão ralado
- maionese
- molho de limão
- mostarda
- mel
- molho rosé
- catchup (ora bolas, por quê não?)
- 2 colheres de chá de geléia de goiaba
- 50 g de penne com ovos

Cozinhe o penne com alho, sal e azeite. Separadamente, pique a alface e o presunto e misture-os bem aos outros ingredientes, acrescentando azeite. Quando o penne estiver al dente, misture tudo e sirva num prato de porcelana grande e discretamente decorado. Acompanhe com um pouco (eu disse um pouco!!) de vinho branco Monbazillac 2005.

Bom apetite! : )

Não esqueça de voltar e me dizer como foi a sua experiência. A minha foi transcendental. Até lembrei de agradecer ao Grande Arquiteto do Universo pelo mimo feito ao corpo e ao espírito.