terça-feira, 31 de julho de 2007

Terra, 2007 A.D.

Meu irmão me manda, por e-mail, uma mensagem com título que denota uma brincadeira. Nem abri ainda, mas até já imagino o sorriso dele, gozador e maroto, em fente ao computador, antecipando a minha risada.

De Brasília, minha nova amiga muito querida me manda um torpedo de puro afeto: eu estou melhor? Tomei o chá? Penso em como é bom estar com ela, estar na memória e na pele dela, ela pensando em mim.

Pela WebRadio, Chick Corea me presenteia, sem saber a quem, com uma inacreditável polifonia espanhola, fazendo meus elétrons passearem pela Ibéria inteira em poucos segundos.

Lá fora, São Paulo me acena com seu beijo gelado de noite estrelada, e retribuo com um gesto de Malbec 2005, com sabor de Mendoza.

Há poucos instantes, um filhote abandonou o game pra me atender ao telefone, falando-me com a alegria de quem me espera.

É muito bom estar aqui.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Atento e forte


"As you journey through life take a minute every now and then to give a thought for the other fellow. He could be plotting something".

(Hägar the Horrible - Dik Browne)

domingo, 29 de julho de 2007

Aprendizado

Ser uma personagem é uma prisão: moldes, modus operandi, gosto disso e não daquilo, fronteiras, a necessidade de coerência absoluta sem conhecer muito sobre muito. Ora, rap também pode ser bom, e só não danço forró por mera timidez, e não por não gostar. É que música é uma coisa, ambiente cultural é outra e dançar é ainda uma outra coisa.

Aprender a ler todas as línguas, mesmo sem dominar a todas; distinguir as cores dentro das cores; conhecer os ritmos e suas origens; distinguir o oboé e a viola dentro da orquestra: isso é ouvir quando o Criador fala; é ler os manuscritos da Mente Universal espalhados por toda parte.

Distribuir o que for viável. Receber sem constrangimento. Beber só pelo paladar. Amar até cair. Despencar com elegância. Renascer como quem emerge do mar.

A Blossom Fell

(Nat King Cole)
A blossom fell from off a tree
It settled softly on the lips you turn to me
The gypsies say and I know why
A falling blossom only touches lips that lie
A blossom fell and very soon
I saw you kissing someone new
Beneath the moon
I thought you'd love me
You said you love me

We planned together
To dream forever
The dream has ended
For true love died
The day a blossom fell
And touched two lips that lied

sábado, 21 de julho de 2007

Amanhece

A longa noite termina, por fim. Ainda há no céu a memória do escuro e, no ar, ainda cortam a bruma e o gelo. Mas dentro de pouco tempo será manhã; e o frio, a solidão, os ruídos noturnos fugirão para o horizonte, perseguidos pela luz.

Enfim, enfim, enfim, a luz.

Em breve restará do frio apenas a carícia do orvalho, atestando que tudo passa e que apenas o que é belo permanece na memória.

Bem-vinda tu, Terra, Água, Fogo e Ar. Que a Paz seja sobre ti, a Luz seja tua, a Vida cubra a nossa superfície e as fontes cantem novamente em um tom maior; e que, libertada, a alma do Homem aqueça, cintile, mova as árvores e abrace novamente o Universo, como se abraça um irmão querido a quem há muito tempo não se via.

Nascente

(Beto Guedes)
Clareia manhã
O Sol vai esconder a clara estrela
ardente
Pérola do céu refletindo
seus olhos
A luz do dia a contemplar seu corpo
sedento
Louco de prazer e desejos
ardentes...

quinta-feira, 12 de julho de 2007

Coisas que amo

Adoro ver criança feliz, passeando com os pais. Adoro ver pessoas ansiosas no aeroporto, esticando o pescoço pra ver outras pessoas que chegam, antecipando o abraço e o sorriso. Adoro o calor humano do meu colega de avião, a solidariedade da moça que espera até que eu consiga tirar minha bagagem e sair da frente. Amo ver o sol e ver as pessoas espalhadas na grama recebendo toda essa energia. Pássaros. Entardecer. Boa música, vinho, queijo, perfume de madeira e alma boa.

Adoro quando meu filho me telefona. Futucar na Internet. Ser acordado à meia-noite por primos e irmãos pra um papo virtual via MSN com cerveja. Minha mãe e meu pai.

Gosto do orvalho nos pés. Da atenção da amiga tão boa que eu nem mereço. De preguiçar no domingo. De abraço. De sonhar. De querer, com força, ser feliz.

Arreda, peste!

Não sei o que essa menina viu em mim, que resolveu não sair mais da minha cabeça. Chega a ser irritante: saio pra caminhar e lá vem ela. Vou ao teatro, ao cinema, à festa, à cama, e - ops! ela de novo! Enfrento as filas de Congonhas, até me aborreço com as gracinhas da Polícia Federal e, quando penso que tô livre, lá vem a peste pra minha boca, encher meus olhos.

Desprezo, menosprezo, desdém, agressões comuns e atípicas, repetidas a curtíssimos intervalos, nada disso deu resultado: ela continuava lá. Por fim, chutou o pau e a barraca, arrasou estradas, explodiu pontes e queimou navios; apagou com um aceno o presente e o futuro e, contra toda a minha resistência, entrincheirou-se nalguma das minhas poucas sinapses neuronais. E pronto: volta e meia, é ela!, de novo em cena, em campo, na raia, no tom, em toda parte, como uma Guardiã do Umbral, como uma nevralgia generalizada, me contar como a vida era e como poderia ser. Assim não dá.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Amigos batem duro

Minha amiga pedagoga e psicóloga me disse outro dia, com aquela alma carioca que ela tem, que a minha necessidade de ir à Catedral e aproveitar pra ser abraçado irmanamente foi pautada por uma extrema carência afetiva, dessas que aproximam as pessoas da religião. Disse isso na minha cara, como quem dá uma travesseirada. E doeu! Mas amiga é pra isso mesmo, pra acordar a gente.

Hoje outra amiga mandou dizer que "aquele projeto de vida acabou, meu filho. Faça outro". Doeu e não foi pouco.

O fato é que os amigos nos dizem aquilo que a nossa consciência mais profunda não consegue dizer-nos diretamente.

Por exemplo: num dia lindo como hoje, é f**** descobrir que você não faz falta nenhuma às pessoas de quem sente falta. Segue-se que é preciso tomar umas belas bolachas na cara, bem fortes e duras, como a vida pode ser, pra não embarcar na canoa furada da autocomiseração.

Ainda bem que existem os amigos pra nos espancar.