quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Parábola da Gestão Doméstica Temerária


Sou um próspero cidadão emergente, ganho dez mil Reais por mês e tenho uma casa onde morar.

Tenho uma empregada doméstica, à qual pago sete mil Reais de salário por mês. Também pago o seu transporte, alimentação, plano de saúde de primeira linha e moradia e, caso seus trabalhos avancem pela madrugada, o que parece ser muito frequente, ela recebe um adicional.

Apesar disso, a minha casa é imunda, e só insistindo muito consigo que ela faça uma limpeza razoável de vez em quando. Os móveis estão sempre empoeirados e a porta de entrada não tranca mais. Ela fez greve na semana passada e não lavou os pratos nem preparou nenhuma refeição durante oito dias, mas não posso substituí-la por uma funcionária mais dedicada porque ela tem estabilidade no emprego. Ultimamente tem insistido para que eu contrate novos auxiliares para ajudá-la, inclusive uma prima ou duas, sob pena de greve branca.


Ela também é encarregada das minhas compras domésticas, usando o que sobra do meu salário. Traz os recibos do mercadinho que ela mesma escolheu criteriosamente, mas os preços dos produtos sempre me deixam  assombrado: uma caixa de fósforos, 120 Reais; um quilo de arroz, 250 Reais; uma dúzia de ovos, 100 Reais; e a continha dela e dos amigos no motel, 400 Reais. O computador do quarto dela, usado para jogar paciência no horário de trabalho, me custou doze mil Reais no cartão de crédito.

No próximo ano vou ter que trabalhar um pouco mais, e também precisarei economizar bastante em saúde, segurança e educação, caso contrário não conseguirei bancar o aumento de salário de 61,83% que ela exigiu no apagar das luzes de 2010, além dos pequenos reajustes mensais de praxe que ocorrerão ao longo de 2011.

Tomara que eu tenha saúde ainda por muitos e muitos anos, para poder trabalhar e manter o padrão de vida dela. Afinal, o que seria de mim sem minha empregada?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sensíveis a pressão externa

O que será que o Brasil ganhou (ou deixou de perder) em troca da vida dos passageiros do Vôo 1907 da Gol? Qual terá sido a "pressão externa" que tanto sensibilizou os juízes federais que libertaram os pilotos americanos Lepore e Paladino?

Começamos a perceber que a maioria das realidades não é tão real assim; e que isso nem depende tanto dos nossos pontos de vista pessoais, como referido nas obras "A Ilha" (de Michael Bay), "Matrix" (irmãos Wachowski) e "1984" (Orwell).

Coisas obscuras como Itamaraty, Skull and Bones, Bilderberg, Illuminati et coetera parecem demonstrar diariamente que poucos de nossa raça conseguimos enxergar mais que um palmo adiante do nariz uma ou outra vez na vida.

A Moda

O caderno "Mundo Ela" do Correio Braziliense trouxe, nesta semana, a seguinte chamada: "É importante ter cuidado na hora de garantir o bronzeado do verão". Uma foto mostrava uma dessas barrigas caríssimas e absolutamente efêmeras que constituem o Suplício de Tântalo do imaginário feminino.

Isso me fez pensar em quantas mulheres vão à praia pra nadar no mar e curtir a brisa e a sensação da areia molhada nos pés. Se não coincidir com o dia de lavar o cabelo, nada feito. Sem a canga da moda, jamais! E com o biquini do verão passado? Tá louca?????

Fico imaginando o dia em que a Prada lançar sandálias de praia: as meninas serão obrigadas a bronzear-se na calçada, pra pegar a "marquinha da sandália" sem estragar o caríssimo calçado.

Outro dia comentei que cresci numa época em que não era proibido usar a roupa que desse na telha: pelo contrário, o bom era ser original, ter seu próprio estilo, mesmo que não fosse estilo nenhum, já que ninguém ligava muito mesmo pra isso. Aliás, a etiqueta das vestimentas ficava do lado de dentro e as fábricas eram obrigadas a destacar-se pela qualidade, e não pelo investimento em comerciais de TV. Hoje, "ter seu próprio estilo" significa ter um Clio, morar num Flat da Via Engenharia, usar aquele acessório do qual só foram fabricadas quatrocentas mil cópias e chamar Lady Gaga de Diva.

Quem, nos loucos anos 60, imaginaria que Paz, Amor e Liberdade conduzissem à codebarrização do pensamento?

Ah, Bill Gates e Steve Jobs imaginariam, sim. Outros comerciantes perceberiam que os nerds são tudo menos doidos, e que os demais podem ser habituados a não pensar muito. E dar-se-iam bem, quod erat demonstrandum.