domingo, 28 de fevereiro de 2010

Certo é o certo é o certo é o certo

"É tão bom quando tudo dá certo"
-Zé Renato e Ana Terra, "Quando Tudo Dá Certo"

No início eram os posts, e os posts estavam às centenas ao final das reportagens sobre as autoridades do Distrito Federal envolvidas no Panetonegate. Depois foram diminuindo, tornaram-se dezenas e, por fim, só alguns. Hoje abro os novos artigos dedicados ao tema e não vejo mais um único post no final. É que as reportagens agora falam de prisões, expulsões, cassações, abertura de novos processos, vergonha, execração pública dos acusados.

Ou seja, as pessoas acham que o bem, finalmente, venceu. Que esses criminosos, pelo menos esses, serão punidos como devem sê-lo. E, quando as coisas caminham bem e seguem seu curso natural (o curso "do bem"), supõe-se que não há necessidade de mais posts.

Todavia, misteriosas e várias são as razões que impulsionam os homens públicos. Parece que, na esfera federal, por quaisquer motivos, por ora Arruda e seus cúmplices não têm amigos dispostos a sacrificar-se por eles. Mesmo as divinas criaturas que compõem o colegiado dos tribunais superiores, e que podem,sem temer absolutamente nenhuma consequência, tomar a decisão que lhes vier à telha, ou não tomar decisão nenhuma, parecem inclinadas a punir exemplarmente os outrora também poderosos governadores, deputados, secretários e ministros do Distrito Federal que tiveram a infelicidade de ter divulgadas imagens que mostram como são suas caras quando não estão nos palanques.

Pra dar certo mesmo só falta mostrar imagens dos outros que ainda não foram apanhados. Pessoas que já tiveram de renunciar a seus mandatos às pressas, e que agora dizem "meu Deus!" ao apontar o dedo contra os podres dos outros, na esperança de que as grandes favelas de gente simples ao redor do DF as protejam do seu histórico obscuro e as reelejam.

Não podemos esmorecer. Se quisermos, poderemos, sim, construir uma forma de governo que respeite o contribuinte, a partir da compreensão do que significa a expressão "servidor público" -- atualmente uma criatura que desacata e desrespeita, quando não desdenha e humilha, acintosa e impunemente, a seus patrões -- o público ao qual deveria servir.

Que os posts chovam sobre as declarações dos aspirantes ao poder que vem junto com o cargo público, e lavem a sujeira do meio dos homens de boa vontade.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Apagando o Disco Virtual

Puxa, desde outubro de 2008 eu não acessava meu disco virtual. De repente precisei dele para transportar alguns arquivos a serem usados no escritório de um cliente (para o caso de acontecer algum tipo de problema com o pendrive).

Havia lá um diretório: "Praia do Amor". E outro: "Fotos 2006". Precisando abrir espaço, selecionei as duas caixinhas correspondentes para deletar.

Subitamente, senti-me dividir: um lado queria apagar os diretórios, supostamente como parte de um pogrom destinado a suprimir fontes de lembranças dolorosas. Mas o outro lado dizia: "são lembranças tão lindas! Deixe-as aí..."

Sentindo uma vertigem como a de quem salta de uma ponte, com um único clique apaguei tudo.

Fantástica, a natureza humana: a reorganização de um conjunto de impulsos elétricos armazenados em código binário em algum remoto servidor é capaz de atingir tão profunda e delicadamente o meu coração.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Não está acontecendo

"O governador [em exercício, Paulo Octavio] quer mostrar para o Ministério Público Federal que o pedido de intervenção é fora de propósito. As escolas estão funcionando, a saúde está funcionando. A crise é grave, é política, mas para a população não está acontecendo".
- Secretário de Comunição do DF, André Duda, em 19/02/2010.

Com o governador Arruda preso pela Polícia Federal a mando do STJ, juntamente com mais oito dos seus deputados, secretários e assessores, "para garantir a manutenção da ordem pública" após um clamor popular tal que os três poderes do Distrito Federal não conseguiram sufocar nem mesmo a golpes de cassetete, a frase do secretário André Duda revela o colossal distanciamento entre os políticos e a realidade.

Se puderem, alegarão insanidade ao responder por seus crimes. E todas as evidências serão apenas favoráveis à hipótese.


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Todo mundo sabe mas, para conhecimento do secretário (e do governador), informo: a arrecadação de impostos em Brasília é o dobro da de Recife, de Belo Horizonte, de Porto Alegre, de Salvador; e o triplo ou quádruplo de qualquer outra capital brasileira. Só perde para o Rio e São Paulo. Tudo isso com uma população menor, sem ter um pólo industrial, com uma agricultura inexpressiva, sem pecuária que mereça o nome, sem porto, sem exportação. A estupenda arrecadação de IPTU, ICMS, ISS e de radares eletrônicos explica o milagre.

Entretanto, as escolas públicas funcionam graças à abnegação de diretores e professores mal pagos e com a ajuda financeira adicional dos pais dos alunos; e vá procurar atendimento no HRAN ou em qualquer, mas qualquer, qualquer hospital público (excetuando-se o SARAH) pra ver como anda a saúde.

Ressalte-se que, em Brasília, apesar dos desvios promovidos por fatia expressiva, senão pesadamente majoritária, dos governantes e administradores públicos locais, os serviços essenciais ainda são melhores que no resto do País. Os corruptos daqui simplesmente não têm o tempo necessário para comer tudo antes que chegue mais. Sem eles, a expectativa de vida da população daria um salto e a criminalidade sem colarinho poderia chegar perto de zero.


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Quem se beneficia com a ineficiência do sistema jurídico brasileiro?

Novamente tomo a liberdade de copiar e colar neste modesto blog uma opinião relevante, vinculada à questão da ordem social no Brasil. Desta vez é uma entrevista realizada pela jornalista Fabiana Seragusa, com o promotor de justiça Marcelo Cunha de Araújo. O artigo foi publicado na Folha Online no dia 28/01/2010.
O promotor explica por quê no Brasil só é preso quem quer, e o que tudo isso tem a ver com posição social e dinheiro.Segue:

28/01/2010 - 09h45

Até criminosos confessos ficam livres no Brasil, diz promotor e autor de livro

FABIANA SERAGUSA
colaboração para a Livraria da Folha

O promotor de justiça criminal Marcelo Cunha de Araújo, do Ministério Público de Minas Gerais, resolveu contar por que o sistema brasileiro é tão complicado e ineficaz. Em seu recém-lançado livro "Só É Preso Quem Quer!" (Brasport), ele fala sobre diversos temas que envolvem o "mundo do crime", sempre com uma linguagem clara e acessível, com o objetivo de dar uma resposta à população sobre as deficiências jurídicas em nosso país.

Divulgação
Marcelo Cunha de Araújo (foto) mostra por que o sistema brasileiro é ineficaz
Marcelo Cunha de Araújo (foto) mostra ineficiência das leis no Brasil

Em entrevista à Livraria da Folha, o advogado diz que a falta de vontade política é a grande responsável pela impunidade, pois "os que mais se beneficiam com a ineficiência do sistema são justamente aqueles que detêm o poder de mudança."

O promotor também conta que qualquer criminoso pode usar as brechas das leis para se livrar das acusações --inclusive aqueles que confessaram o crime. "Desde que não tenha sido preso em flagrante, seu caso não caia na imprensa e tenha advogados atuantes, estatisticamente existe uma possibilidade imensa dessa pessoa ficar impune."

Mas o especialista faz questão de dizer que, mesmo que o caso se enquadre nas características acima --flagrante e alarde por parte da imprensa--, o crime "pode acabar caindo na impunidade".

Em "Só É Preso Quem Quer!", Marcelo dá alguns exemplos dessas situações, além de deixar claro por que ricos e pobres são tratados de forma diferente e revelar por que a justiça é lenta e injusta --falando sobre assuntos que os juristas preferem ocultar.

Abaixo, leia a entrevista com o promotor Marcelo Cunha de Araújo, na qual o promotor fala sobre crimes do colarinho branco, da influência do dinheiro nas decisões judiciais e das possíveis soluções para o problema.

*

Livraria da Folha - Quanto tempo seria necessário para que o sistema se tornasse justo?
Marcelo Cunha de Araújo - Apesar de a impunidade ser a resultante de um conjunto de microdecisões, para resolver os problemas do sistema não são necessárias muitas mudanças substanciais. O que falta é a vontade política, uma vez que os que mais se beneficiam com a ineficiência do sistema são justamente aqueles que detêm o poder de mudança.

Livraria da Folha - Na sua opinião, quais são as leis mais ineficazes atualmente?
Marcelo - Os campeões da impunidade no Brasil são os crimes do colarinho branco. Entre eles, destaco as fraudes à licitação e a lavagem de dinheiro. Em segundo lugar, aponto os crimes de trânsito, que geram consequências gravíssimas às vítimas e a seus familiares e têm a impunidade garantida. Em terceiro lugar, de uma forma geral, qualquer tipo de crime, desde homicídios a estupros, passando pela prostituição infantil e por golpes de estelionato, desde que praticados por pessoas que tenham alguma condição econômica.

Livraria da Folha - Qualquer pessoa pode se safar de qualquer tipo de crime, se souber usar as brechas das leis?
Marcelo - Sim. Desde que não tenha sido preso em flagrante, seu caso não caia na imprensa e tenha advogados atuantes, estatisticamente existe uma possibilidade imensa dessa pessoa ficar impune. É bom que se diga que, em certos casos, mesmo com a prisão em flagrante e com o caso na imprensa, tal crime pode acabar caindo na impunidade, como explicito em vários exemplos reais em meu livro. Ainda é interessante se falar que não se trata de uma questão de prova ou de certeza de autoria, uma vez que o criminoso pode até confessar. Trata-se de uma questão de inoperosidade do sistema.

Livraria da Folha - O pobre deve ficar realmente mais apreensivo do que o rico quando é preso?
Marcelo - Com toda certeza! O pobre é o escolhido por esse sistema perverso como bode expiatório para gerar a ilusão, na população em geral, de que o sistema funciona. Assim, apesar do título da obra (que foi pensado apenas como provocativo), não é para todos que vale a máxima de que "só é preso quem quer". Na obra, na verdade, tento explicar, de forma pormenorizada, como se constrói algo que percebemos no cotidiano: o fato de "uns serem mais iguais que os outros", apesar de as leis e os juízes não dizerem isso explicitamente.

Livraria da Folha - O fato de o acusado ter dinheiro interfere diretamente na decisão final do juíz?
Marcelo - Sim, mas não de uma forma direta e explícita. Essa interferência se dá de uma maneira latente e não manifesta, escondida nos recônditos das microdecisões tomadas pelos legisladores e pelos operadores do sistema (policiais, promotores de justiça, juízes etc.).

Livraria da Folha - Você acha que os leitores ficam mais desmotivados ou esperançosos após ler seu livro?
Marcelo - Em primeiro lugar, o leitor tem a sensação de serenidade pela objetivação de um sentimento até então abstrato de indignação em relação à impunidade. Assim, o leitor que não conhece o direito e que não entende como a impunidade é "fabricada" consegue aplacar um pouco a sua angústia em relação ao absurdo diário de nosso país, já que agora consegue ter uma visão muito mais profunda sobre o problema. Num segundo momento, creio que nasce uma ponta de esperança gerada pela conscientização de que a mudança, apesar de difícil, é possível, uma vez que consegue enxergar seu caminho. Quando se pode ver o destino, o caminho, apesar de tormentoso, torna-se menos massacrante.

*

"Só É Preso Quem Quer!"
Autor: Marcelo Cunha de Araujo
Editora: Brasport
Páginas: 144
Quanto: R$ 36
Onde comprar: Pelo telefone 0800-140090 ou pelo site da Livraria da Folha.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Confiança

No need for greed or hunger
A brotherhood of man
Imagine all the people
Sharing all the world
- John Lennon, "Imagine"

"O corrupto impede que esse dinheiro vá para a saúde, a educação, o transporte, e assim produz morte, ignorância, crimes em cascata. Mais que tudo: perturba o elo social básico que é a confiança um no outro".
- Renato Janine Ribeiro, in "A República"

Poucas coisas são tão boas quanto poder confiar. Todo mundo quer uma empregada doméstica "de confiança", um gerente honesto, um caixa correto, um sócio íntegro. Ao comprar um carro usado, queremos confiar no vendedor e acreditar que não teremos prejuízo na transação. Ao casarmos, queremos ter certeza de que não se trata de um "golpe do baú"; que o cônjuge será, para sempre, leal e fiel; e que, se sobrevier uma separação, não haverá abuso ou malandragem, ainda que legal.

Os fracos de caráter cedem facilmente à tentação de aproveitar-se da confiança neles depositada, envenenando toda a cadeia de eventos que, sem eles, seria simples, eficiente e rápida. A laranja podre infecta a tudo que toca, pondo o lote inteiro a perder. Ao criar um desvio de conduta, o homem corrompido torna permanente, por sua simples presença, a existência de um atalho, "furando a fila" e levando outros a fazer o mesmo de vários modos, rompendo, assim, a ordem social. Por isso o corrupto deve ser removido o mais rapidamente possível, ainda que à custa do direito individual, em benefício da sociedade, do caráter dos demais e da inestimável confiança no outro.

Devemos trabalhar para inserir a seriedade no trato da coisa pública, removendo sumariamente de seus cargos, independentemente do processo penal cabível, aqueles que forem apanhados confundindo o bem público com o bem privado.


segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Paralelos

Na obra "1984", de George Orwell, um tirano criou o "Ministério da Verdade", para divulgar notícias falsas que convinham ao governo.

Em 2009, o Governador José Arruda criou a Secretaria da Ordem Pública e Corregedoria do Distrito Federal, demonstrando que a vida não apenas imita a arte, mas é capaz de superá-la.

Anjos incautos

O primeiro passo é o seguinte:

Nasce da guerra, da demolição
E assim viemos nós, vida improvisada
Apocalípticos arautos da explosão


E, entre mortos e feridos, todos viajaram
Todos percorreram a mesma canção
Juventude transviada do século vinte
Os anjos incautos da emoção


Stone washed, blue dreams...


E essas pedras
que rolaram no nosso caminho
É que desbotaram a nossa emoção
E agora ficou difícil
Fazer com que a pedra lave
Todo o blue jeans da minha geração.


Stone washed, blue dreams...

(M. Hecker / Joyce, "Stone Washed")


domingo, 14 de fevereiro de 2010

Brasília, Amor e STJ

Quem vem para Brasília odeia-a ou se apaixona para sempre. O Blog da Conceição descreve, com sensibilidade, o amor de quem veio e ficou porque quis ficar.

Mas, com sua imagem ligada ao cenário político e à corrupção protagonizada por homens (e mulheres) públicos daqui e dalhures, Brasília sofre com o preconceito de uma parte expressiva da população do país.

No post transcrito a seguir, a jornalista comemora um batismo, uma purificação iniciada com a prisão do governador Arruda e de oito de seus auxiliares. O texto de Conceição cai como uma chuva leve e cintilante de fim de tarde, com sol e bem-te-vis, sobre os extensos gramados da cidade.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010 - crônica da cidade

Brasília Brasil
- do Blog da Conceição

"A decisão do STJ, de prender o governador José Roberto Arruda, merece ser celebrada, dure o tempo que durar. Ela tem um sentido simbólico do qual Brasília jamais se esquecerá. Mais do que um presente aos 50 anos da cidade, o melhor deles, a decisão do Superior Tribunal de Justiça tem um sentido muito maior. Não apenas o de avançar no saneamento da vida pública brasileira. A decisão do STJ dá um passo inédito na aproximação do Brasil com sua capital.

O pedido de intervenção federal em Brasília que seria feito pela Procuradoria-Geral da República, caso aconteça, será a confirmação de que a cidade nascida de um gesto de bravura e genialidade brasileiras passa a receber o que sempre mereceu e nunca teve: o reconhecimento do país. Claro que a corrupção deve ser combatida com igual rigor em Rio Branco ou em Palmas, no Rio de Janeiro ou em Belém do Pará.

Brasília, porém, é mais do que uma capital da federação. Ela é a cidade que representa todo o país. E foi criada com o que de melhor o Brasil possuía, à época, no campo da liderança política, da capacidade administrativa, da capacidade criadora e da força e valentia física. Ela é uma conquista brasileira e o Brasil não sabe disso. O Brasil estranha Brasília, desconhece, tem preconceito, mistura o território político com a imensidão de cidade que abriga, contando o Entorno, 4 milhões de brasileiros. A decisão vigorosa da Justiça lava a alma de Brasília que tem estado tão amargurada, tão descrente, tão envergonhada.

Mesmo se agora, quando o leitor percorre esta crônica, o panorama tenha mudado, o gesto já marcou a história da cidade. A sensação é a de que alguém olha por nós. De que Brasília não está à deriva. E que a indignação nacional surtiu efeito.

Pode ser que todos os acontecimentos desta quinta-feira, até o momento em que escrevo, sejam apenas uma miragem. Pode ser que hoje, sexta, tudo volte a ser como antes — são muitos, intrincados e misteriosos os motivos que movem os homens públicos. Mas a decisão do STJ pode ter outra consequência, a de reativar no brasiliense o orgulho por sua cidade.

Desde o estouro de Pandora, tenho ouvido e lido confissões de desalento, mesmo de quem cultivou ao longo dos últimos 50 anos uma paixão comovente por esta cidade. Gente que se pergunta, afinal, se gosta mesmo de Brasília. Brasilienses que não sabem mais onde ancorar a sua admiração pela capital, tantas são as suas facetas deploráveis.

Não será uma prisão que vai recuperar a salubridade do ar que se respira nos meandros do poder em Brasília. Mas que é um bom começo, lá isso é. Dá pra gente até pensar que nossos netos um dia podem habitar uma cidade melhor e mais limpa num país que se orgulhe de tê-la construído — tão bela, tão única".

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Cruisin'

(Smokey Robinson)

Baby let's cruise away from here
Don't be confused
the way is clear


And if you want it you got it forever

This is not a one night stand babe

Let the music take your mind


Just release and you will find

We're gonna fly away,
glad you're going my way

I love it when we're cruising together


Music was made for love,
cruising is made for love
I love it when we're cruising together

Baby tonight belongs to us

Everything's right, do what you must

And inch by inch we get closer and closer
Every little part is in touch

Music was made for love,
cruising is made for love
I love it when we're cruising together.

Geisy, a Canção

Taí um fenômeno que é a cara do Brasil. Nem sei se pode ser a cara de muitos outros lugares; mas que é a nossa cara, isso é.

Uma pessoa comum sofre assédio de uma multidão de alunos em sua própria faculdade por usar um vestido considerado curto demais (uma mistura explosiva de concorrência feminina, rejeição masculina, inconsequência adolescente e comportamento de massa). Em decorrência das investigações promovidas pela faculdade, é expulsa pelo conselho diretor (a vítima é a culpada, quando é pobre). Pressionado pela imprensa e pela sociedade, o reitor revoga a expulsão (inconsequência, preguiça e irresponsabilidade).

Geisy fica famosa da noite para o dia e ganha uma canção. Passa a fazer ensaios fotográficos, ganha cirurgias plásticas, é convidada a desfilar no carnaval.

A choradeira das despeitadas e a revolta dos rejeitados persiste nos comentários anexos a todas essas notícias, alimentando a fama da garota, ajudando a receita dela e gerando pequenas fortunas aqui e ali.

O Brasil é famoso pela irresponsabilidade das pessoas, da imprensa, das autoridades. Alguém tinha que se beneficiar disso -- e ainda bem que é a vez de uma moça pobre e sem maiores predicados, ao invés da corja de sempre.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Afinal?

Rompeu-se um elo, um rim, uma sinapse: distancio-me de ti com facilidade, coisa que até há poucas semanas não me era absolutamente possível. O magnetismo, a gravidade, ainda estão ali, exercendo o seu papel, antigas aliadas do fascínio do teu desconhecido, do teu imprevisto, do teu imprevisível caos de suspeita. Mas fortaleci-me e posso, eventualmente, fugir ao abraço mortal, amortecedor, doloroso, da tua predizível e tantas vezes prometida ausência. Fiz isso e não me faltou ar.

Parece que uma estrela se apagou na vastíssima constelação do querer. É uma luz a menos, gravidade a menos. Mas... olhar e não ver pode ajudar a partir. Finalmente é um começo.

Meus filhos

Kaio viajou hoje para NY. Na volta, vai aproveitar pra conhecer a Disney em Orlando, sonho antigo que não pude concretizar. Depois disso vai morar no Rio, e eu só poderei vê-lo de tempos em tempos.

Victor voltou ontem para João Pessoa, após um mês de férias em Brasília. Não fizemos muita coisa, já que meu faturamento caiu drasticamente desde Novembro, mas tivemos vários bons momentos e, uai, "quality time".

Nem faz 24 horas que eles foram embora e eu já estou com uma saudade imensa dos olhos, dos sorrisos, dos abraços, das vozes, de tentar ajudá-los da melhor maneira que eu puder, extraindo deles aquela alegria enorme, quase impossível, que transborda com a maior facilidade.

Os filhos são o sal da vida -- e a minha é muito bem temperada. E daí que eles me faltem de vez em quando? É só relembrar, e a corda me leva de volta pra eles.