sábado, 8 de janeiro de 2011

O Meu Anjo


"Quando eu fui ferido Vi tudo mudar / Das verdades que eu sabia / Só sobraram restos / Que eu não esqueci".
(Guilherme Arantes - "Meu Mundo e Nada Mais")

Quando caí, esqueci do meu anjo.

Andei atordoado no escuro e cada passo era uma armadilha, cada armadilha uma dor. Resolvi ficar quieto e não me mover: eu tinha uma lembrança do meu karma bom e aproveitei-me dele para tentar não sentir dor. Karma, como todos sabem, é pura energia cinética de longa data; o meu tem energia suficiente pra levar a vida na valsa, mas não pra gerar um bem-estar ótimo. Com outros anjos dependendo de mim, urgia levantar, mas não havia planos.

Enquanto eu recuperava a vontade de me erguer, meu anjo acolheu-me em suas asas, nutriu-me, aqueceu-me com muitas vozes e me contou histórias de outros mundos, de outras esferas, de muitas vidas; acordou-me dos meus pesadelos e cantou enquanto a vida passava, cineticamente. Cantou até que eu levantasse.

Meu corpo ainda dói e a alma vai sentir dor ainda por várias vezes. Mas já posso correr, posso planejar, posso querer de novo.

Voar, agora, é somente uma questão de quando.