sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Harmonizar-se

"Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo".
Esse trechinho de "Serra do Luar", de Walter Franco, sempre me prendeu a atenção. É como uma exortação ao equilíbrio. E eu, presa fácil das emoções, bem que sempre precisei equilibrar-me.

A música frequentemente me serviu de guia, para o bem, para a obliteração ou para a alienação plena. Mas lembro que, numa das minhas adolescências, fui resgatado da gandaia por ninguém menos que Monsieur Binot: "Bom é não fumar / Beber só pelo paladar"...


quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Ideologia


" A ideologia seria de tal forma insidiosa que até aqueles em favor de quem ela é exercida não perceberiam o seu caráter ilusório". (Maria Lúcia Aranha e Maria Helena Martins, comentando Marx).
Existe, no debate ideológico, um primeiro nível, o do maniqueísmo, destinado a produzir o "inocente útil". Depois, há um nível mais elevado de conhecimento, todavia cerceado pela ideologia, que gera o radical  e o extremista. E há o nível dos que preferem o conhecimento à acomodação do próprio pensamento às necessidades do pensamento alheio. Sílvio Rodríguez, célebre compositor cubano, chamaria essa terceira fase de "hombre despierto", somente muitos anos depois vindo a perceber a armadilha ideológica em que então se encontrava.

Aquilo que se canta deve, mesmo, ser moído e refeito habitando-se o tempo, mesmo porque nós crescemos, mudamos de paladar, definimo-nos e ampliamos o nosso olhar; e, num belo dia, começamos a pensar livremente, passando a não mais ultrajar aos mortos de nossa felicidade.


O futuro

Casei de novo. Yenny é um oceano de doçura e propus-lhe que, em todas as circunstâncias, lembrássemos de quem somos, de como somos e o que sentimos. E nunca esquecermos que, hoje, o que sentimos é real.

Assim, se, um dia, houver escuridão e nem mesmo essas luzes puderem reacender a chama, haveremos de continuar a lembrar de quem somos, de como somos e do que um dia sentimos; e tudo terá existido e nos iluminado para sempre.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meu blog é quadradinho



Tem tanta criatividade por aí! Blogs em chamas, dialógicos, temáticos, engraçadíssimos, úteis, informativos, únicos.

Mas meu blog é quadradinho, parece comigo. Gostaria de ser algo grande, grandioso, opulento, efervescente, venusiano, esplendoroso, admirável. Conseguiu ser apenas quadradinho.

Um quadradinho que nasceu para me ouvir. Fez humor de si próprio, indignou-se com as tramas dos homens maus, acusou, defendeu-se, posicionou-se, sonhou, riu e conversou. Esperou ser visto e querido. Contemplou, discutiu, debateu, amou, lembrou. Questionou-se, esqueceu.

Teve uma vida quase humana e, pela vida toda, mereceu meu afeto mais sincero. Em paz consigo, reflete o brilho de outros blogs mais vistosos, mais inteligentes, precisos, incisivos; e acolhe cada bobagem, susto, dor e alegria, com o carinho de uma mãe.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Insight

              
"Existem três jeitos de se fazer as coisas: o jeito certo, o errado e o jeito Máximo Poder".

- Homer Simpson

Perder-se


Clique na imagem para ver o vídeo
A repórter Serene Brenson aparentemente sofreu um AVC ao vivo durante a cobertura do Grammy pela CBS hoje em Los Angeles. Após errar a pronúncia da palavra "heavily" e tentar novamente sem sucesso, a tarimbada profissional proferiu uma torrente de palavras que soaram como inglês mas que absolutamente não fizeram sentido. A expressão de angústia que gradualmente substituiu seu sorriso refletiu o terror de perceber que algo ia terrivelmente mal no seu cérebro.

Isso me fez lembrar de um filme cujo título esqueci por completo, no qual, durante uma conversa trivial com a esposa na cozinha, um homem começa a usar a palavra "dinossauro" no lugar de "sanduíche", e novas substituições, inclusive de substantivos por verbos e pronomes, começam a surpreender aos circunstantes nos dias seguintes, enquanto o dito marido nem percebe o que está acontecendo e acha que todos estão ficando loucos.

Deve ser assustador perder-se dentro da sua própria mente, tendo consciência de talvez nunca reencontrar o caminho de volta.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Tempo


"O tempo tem uma boca imensa. Com sua boca do tamanho da eternidade ele vai devorando tudo, sem piedade. O tempo não tem pena. Mastiga rios, árvores, crepúsculos. Tritura os dias, as noites, o sol, a lua, as estrelas. Ele é o dono de tudo. Pacientemente ele engole todas as coisas, degustando nuvens, chuvas, terras, lavouras. Ele consome as histórias e saboreia os amores. Nada fica para depois do tempo. As madrugadas, os sonhos, as decisões, duram pouco na boca do tempo. Sua garganta traga as estações, os milênios, o ocidente, o oriente, tudo sem retorno. E nós, meu neto, marchamos em direção à boca do tempo".

(Bartolomeu Campos Queirós, in "Por Parte do Pai", BH, 1995)