sábado, 10 de dezembro de 2011

A Velhice

Medito sobre duas proposições famosas e, talvez, um pouco exageradas sobre a velhice:

1. "A velhice é uma merda" - William Bonner, dezembro de 2011.

2. "O Velho Francisco" - Chico Buarque, século passado, verbi gratia:

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O Mar

Veja esta canção que existe dentro de mim
eu sei que só sei amar
e é este o meu destino
eu só sei amar, amar, amar
sou assim desde menino
quando a vida era um rio e eu nem sabia do mar.

(Milton Nascimento, "Veja Esta Canção")

sábado, 1 de outubro de 2011

Duas Bikes

A W3 é uma rua solitária, nos sábados à tarde; mas hoje disse-me que a saudade, às vezes, deixa-se ir embora, aos pouquinhos; e, indo-se por bem, abre lugar para a gratidão, para um orgulho saudável e para o carinho que vive para sempre.

Hoje uma parte muito grande de um passado feliz mudou de mãos. Durante anos eu guardei, suspensas em seu takonoma na varanda, as bicicletas dos meus filhos. Eram ícones que evocavam presenças, sorrisos, risos, passeios, tombos, aprendizados, lágrimas e abraços, cheiro de suor, calor, força, amizade, confiança e aventura. Ícones muito amados que agora farão rir a outras pessoas, produzindo mais memórias, tão sólidas quanto fugazes, que viverão para sempre no seio da Alma Universal.

Obrigado, filhos! Valeu, bikes.

domingo, 11 de setembro de 2011

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Sapato Velho


Você lembra, lembra!
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho
De cowboy...
Você lembra, lembra!
Eu costumava andar
Bem mais de mil léguas
Prá poder buscar
Flores-de-maio azuis
E os seus cabelos enfeitar...
Água da fonte
Cansei de beber
Prá não envelhecer
Como quisesse
Roubar da manhã
Um lindo pôr-de-sol
Hoje não colho mais
As flores-de-maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis...
É! Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés...


Roupa Nova, "Sapato Velho"

Composição: Mu - Claudio Nucci - Paulinho Tapajós

domingo, 31 de julho de 2011

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Prudência



"Equo ne credite, Teucri! Quidquid id est, timeo Danaos et dona ferentis".

(Não confiem no cavalo, Troianos! Seja lá o que for, eu temo os gregos até quando dão presentes"): últimas palavras do sacerdote troiano Laocoonte, advertindo seus patrícios contra as artimanhas dos gregos, antes de ser atacado mortalmente por duas serpentes gigantes enviadas por Atena.


Laocoonte não tinha escolha. Precisava alertar seu povo e contava com a prudência de seus líderes, eufóricos com a "vitória" que a partida dos gregos evidenciava, e levados pelo vidente Chalcas, que os instava a trazer o enorme cavalo de madeira para dentro das impenetráveis muralhas. O plano de Atena, entretanto, não podia ser contrariado e estava decretado que a voz da Prudência seria calada pelo símbolo enganoso da Sabedoria.


Eis o Homem lutando, com todas as suas capacidades, contra o Destino; e eis a Providência manobrando a Vontade do Homem em proveito do Bem Maior.

Parece que, para ser senhor de seu Destino, o Homem precisa ter uma Vontade maior até que a Providência. Ou seja, a Natureza pode ser usada como aliada, mas de nada adianta opor-se a ela. O trabalho do Homem é perceber os caminhos da Natureza e evitar colocar-se em uma posição que a contrarie.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Atenção e memória



Acordei de uma estranha sucessão de símbolos, que hei de decifrar a cada mudança de ritmo, pressupondo que sua memória persista. De qualquer modo, lá estava a lembrança-mãe das últimas noites dos últimos anos, esgueirando-se veloz como um fantasma pela porta entreaberta, visível apenas pelo canto do olho.
Enquanto eu pensava nisso, algumas das mais belas impressões produzidas pela Humanidade vibraram pela sala, nas vozes e formas eletrônicas de Sofia e Dionísio, e o dia vestiu-se com as cores do Quênia, com os gestos trocados entre o caçador de elefantes e a dama urbana; e, em seguida, a Esperança veio e murmurou nos meus olhos sobre o meu filho.
O mundo é um livro, um livro mágico, cujas páginas abrem-se sempre que o leitor está de olhos abertos. Os anjos ensinam apenas a ler. Ler nas entrelinhas é o trabalho do Homem.
Eu ando pelo mundo
Prestando atenção em cores
Que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo
Cores!
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção
No que meu irmão ouve
E como uma segunda pele
Um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Ai, Eu quero chegar antes
Prá sinalizar
O estar de cada coisa
Filtrar seus graus...
Eu ando pelo mundo
Divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome
Nos meninos que têm fome...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm
Para quê?
As crianças correm
Para onde?
Transito entre dois lados
De um lado
Eu gosto de opostos
Exponho o meu modo
Me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Eu ando pelo mundo
E meus amigos, cadê?
Minha alegria, meu cansaço
Meu amor cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado...
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
Quem é ela? Quem é ela?
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle...
(Adriana Calcanhoto, "Esquadros")

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Like Paradise

Pra meus filhotes

I'd wash the sand off the shore 
Give you the world if it was mine 
Blow you right to my door 
Feels fine 

Feels like 
You're mine 
Feels right 
So fine 
I'm yours 
You're mine 
Like paradise 

Oooh what a life 
Oooh what a life 
Oooh what a life 
Oooh what a life 

I wanna share my life 
Wanna share my life with you 
Wanna share my life 

Oooh what a life 
Like paradise 

Sade Adu, "Like Paradise"

Banda Larga

"Quem vai soltar balão na banda larga
é alguém que ainda não nasceu".

A Tua Presença Estarrecedora

Eu sempre achei difícil falar de ti, sobre ti, de tão enorme e de tão contrária a ti mesma que és. E ainda hoje povoas várias de minhas noites com tua presença, plena de contrastes com os conceitos que inventei para te criar. 

Ao mesmo tempo em que me assustas nos sonhos, me assustas também quando desperto; e anseio e temo pelas noites futuras em que não voltarás mais.
Hoje a menina do sonho não veio me acordar
Quem sabe até tenha vindo e eu não soube sonhar
Quem sabe até tenha tentado me descobrir
Em meio ao sono pesado a dormir, a dormir
Quem sabe até tenha vindo visitar meu sono
E quem sabe era só o abandono da alma dormida na vida
O que havia no fundo de mim pra se ver
Que ela, menina do sonho, ficou comovida
E não fez nada mais que sorrir
Partindo logo em seguida a buscar por aí
Outra morada pro sonho, por ser ela fada
Fadada a viver, com seu corpo no nada
O instante, o espaço, o abraço real da ilusão de existir
Quem terá tido essa noite
O sonhar visitado por ela ou por um querubim
Já que a menina do sonho não veio pra mim?
Gilberto GIl, "Menina do Sonho"

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Deus é o Homem de Outro Deus Maior

I
Quando, despertos deste sono, a vida,
Soubermos o que somos, e o que foi
Essa queda até corpo, essa descida
Ate à noite que nos a Alma obstrui,
Conheceremos pois toda a escondida
Verdade do que é tudo que há ou flui?
Não: nem na Alma livre é conhecida...
Nem Deus, que nos criou, em Si a inclui

Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aquém não há no Mundo, Corpo Seu.

II
Mas antes era o Verbo, aqui perdido
Quando a Infinita Luz, já apagada,
Do Caos, chão do Ser, foi levantada
Em Sombra, e o Verbo ausente escurecido.

Mas se a Alma sente a sua forma errada,
Em si que é Sombra, vê enfim luzido
O Verbo deste Mundo, humano e ungido,
Rosa Perfeita, em Deus crucificada.

Então, senhores do limiar dos Céus,
Podemos ir buscar além de Deus
O Segredo do Mestre e o Bem profundo;
Não só de aqui, mas já de nós, despertos,
No sangue actual de Cristo enfim libertos
Do a Deus que morre a geração do Mundo.

III
Ah, mas aqui, onde irreais erramos,
Dormimos o que somos, e a verdade,
Inda que enfim em sonhos a vejamos,
Vemo-la, porque em sonho, em falsidade.

Sombras buscando corpos, se os achamos
Como sentir a sua realidade?
Com mãos de sombra, Sombras, que tocamos?
Nosso toque é ausência e vacuidade.

Quem desta Alma fechada nos liberta?
Sem ver, ouvimos para além da sala
De ser: mas como, aqui, a porta aberta?
.......................................

Calmo na falsa morte a nós exposto,
O Livro ocluso contra o peito posto,
Nosso Pai Rosacruz conhece e cala. 

- Fernando Pessoa, "No Túmulo de Christian Rosenkreuz"

Eros e Psiquê


..."E assim vedes, meu Irmão, que as verdades que vos foram dadas no Grau de Neófito, e aquelas que vos foram dadas no Grau de Adepto Menor, são, ainda que opostas, a mesma verdade".
(Do Ritual Do Grau De Mestre Do Átrio Na Ordem Templária De Portugal)

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.


-Fernando Pessoa

Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa.
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda caverna,
Os Deuses despem-te mais:
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte.


- Fernando Pessoa

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Eu no Blog do Tony Ramos

Uma de minhas postagens na Folha de S. Paulo acabou provocando boas risadas no Blog do Tony Ramos (clique aqui para ver).

Nunca se sabe onde vai parar o que se escreve na Internet...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Desafio

Estou numa semana um tanto humorística. Depois de inserir no meu blog uma performance do Muppet Show, aproveito o clima para por no ar as considerações de um nobre deputado sobre a dura vida dos parlamentares.

quinta-feira, 31 de março de 2011

quarta-feira, 30 de março de 2011

Defensores da Humanidade (I)

Cidinha Campos, deputada fluminense de origem paulista, é uma dessas pessoas que a gente tem que amar, proteger e divulgar. Será a primeira, de uma série de seres que dignificam a raça humana, que pretendo postar neste humílimo blog.

Blog do Ricardo Gama



Eu nunca havia lido o blog do Ricardo Gama. Aliás, nunca tinha ouvido falar no próprio Ricardo até ler sobre o atentado  perpetrado contra ele na última quarta-feira, dia 23, no Rio de Janeiro. Ressalto que minha ignorância não é culpa do blogueiro, que tem hoje quase 1.500 seguidores e é definido pela Folha de S. Paulo como "conhecido por suas críticas aos governos Sérgio Cabral e Eduardo Paes".


Dei uma passadinha pelo blog e vi o seguinte: ex-filiado ao DEM e hoje sem filiação partidária, o advogado Ricardo Gama bate forte, com argumentos, notícias e vídeos, no governador e no prefeito do Rio e em qualquer servidor desses governos que tenha a infelicidade de ser apanhado em falta. Há denúncias contra policiais, juízes, advogados, associações de classe, ONGs, executivo, legislativo e judiciário.


O atentado a Ricardo pode ter sido planejado e executado por bandidos sem colarinho, que também são alvo do blog, ou por uma típica simbiose entre esses e os outros mais bem vestidos. Já que Ricardo sobreviveu, é possível que o número de seguidores do seu blog aumente, graças ao característico efeito de tiro no pé que sempre resulta da repressão violenta.


O blog do Ricardo desce aos níveis mais baixos da degradação moral promovida ou tolerada pelo poder público, enquanto eu tenho mencionado aqui, eventualmente, apenas o sofisticado andar de cima do crime organizado. Mas, mesmo não sendo exatamente a linha do meu blog, Ricardo passa, a partir de hoje, a fazer parte das indicações de blogs afins que faço aqui n'A Grande Viagem.


A Humanidade precisa defender-se das bestas que ainda circulam por aí em corpos humanos; e a melhor maneira de começar é divulgando informação relevante. Recomendo visitarem, além de outros, o blog do Ricardo.

sábado, 19 de março de 2011

Presente


Ganhei de um amigo baiano, irmão de guilda e companheiro de muitos combates, um dos mais belos presentes que alguém pode ganhar. Não me refiro ao traço delicado, à fluidez do movimento ou à maestria no uso da luz; nem à imaginação que reproduz a expressão do rosto, cria o olhar e imprime personalidade à imagem de alguém que nunca se viu.

O grande presente, oculto na imagem do guerreiro, é a consideração, o carinho, a delicadeza, a lembrança: a amizade. Um presente que transcende a distância, o tempo e a própria existência.

Pymm, por Vitor Marcelino Bessa / Out. 2009

quinta-feira, 17 de março de 2011

O amor quase impúbere



Zapeando no Youtube encontrei um clip do Slade cantando "Darling Be Home Soon", de John Sebastian. Gostei de rever a velha banda do fim da minha puberdade. Coloriu meu fim de tarde com a aquarela psicodélica daqueles amores cataclísmicos que devastavam, e depois aravam, o coração dos meninos e das meninas que, adolescendo, tateavam correndo pelos recém-descobertos caminhos do Universo.

"Come
And talk of all the things we did today
Here
And laugh about our funny little ways
While we have a few minutes to breathe
Then I know that it's time you must leave
But darling be home soon
I couldn't bear to wait an extra minute if you dawdled
My darling be home soon
It's not just these few hours 
but I've been waiting since you toddled
For the great relief of having you to talk to"


Caramba, em 1976 o amor era assim!... No século 21 os corações ainda têm tanta energia? Espero que sim, e que essa fase absurdamente luminosa, pura, selvagem, tempestuosa e magnífica da vida humana nunca se perca.


segunda-feira, 14 de março de 2011

Momento rebelde


Batatĩa quando nasce
Cispa rama pelo chãl
A minina quando dorm
Põiamãl nu coraçãl.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Amazing Grace

  
"Através de muitos perigos, trabalho e armadilhas
Eu já passei;
Foi a Graça que me trouxe a salvo até aqui
e a Graça me conduzirá para casa".

A Física e o Caos


Recentemente, o playboy socialista muçulmano árabe africano (isso mesmo) Muamar Kadafi protagonizou, ou foi levado a protagonizar, uma sequência de eventos que parece um padrão primoroso de organização:
  1. Após vinte anos de invisibilidade concedida pela imprensa internacional, o nome de Kadafi volta aos jornais, sem qualquer menção ao PanAm 103 ou ao Iran Air 655;
  2. Pouco tempo depois de sua desinvisibilização, Kadafi deixa de ser referido no noticiário como "presidente", passando a receber o título de "ditador", simultaneamente em todos os veículos de comunicação;
  3. Na esteira das revoltas populares árabe-africanas, a Líbia entra em guerra civil e torna-se alvo da atenção mundial, enquanto o choque de realidade  causa divisão entre os apoiadores do regime, ensaiando atingir até os filhos do ditador, que viveram mergulhados na ideologia da dominação durante toda a sua vida e que, durante a crise, passam a trocar acusações, na tentativa de salvar o pescoço do pai e, por conseguinte, os seus próprios;
  4. Em seguida, os EUA retiram seu apoio ao dirigente líbio, seguidos por diversos países europeus e finalmente pela ONU, ajudando a Inglaterra e a OTAN a livrarem-se de um incômodo aliado, há muito tempo cravado em suas gargantas;
  5. De dentro dos seus quartéis, Kadafi continua a lutar, se não tanto pelo poder, agora pela própria pele, esbravejando contra os clãs inimigos e contra o colonialismo estrangeiro, assustado pelos fantasmas de Nicolae Ceausescu e de Saddam Hussein, exemplos claros do fogo e da frigideira.
Isso não parece obra do acaso, embora a relação entre os levantes desencadeados pela auto-imolação do engenheiro tunisiano Mohamed Buazizi e a Líbia pareça equilibrar-se entre as leis de Newton e a Teoria do Caos. Apesar de essas revoltas populares terem sido o pano de fundo para as subsequentes preocupações de Kadafi, a sequência dos eventos aponta para inteligência, método, sistema e ordem. É possível perceber o mesmo padrão aplicado, por exemplo, aos casos de Zine Ben Yali e de Hosni Mubarak, apenas com as diferenças características das respectivas personalidades.

Quem terá virado para baixo o poderoso polegar que moveu a imprensa mundial e deu o sinal para que governos, governantes, astros da música pop, organizações supranacionais e alianças militares negassem Kadafi por três vezes e o abandonassem à própria sorte?

Kadafi em meio a líderes regionais, em outubro de 2010

sexta-feira, 4 de março de 2011

Post de Carnaval



A vida é uma aventura
Um mar cheio de surpresas
Por tudo se faz loucura
de nada se tem certeza
Viver é fazer um samba
é beber mais um gole
é cantar pra ela

Que a vida jogada fora sempre volta pela janela...

Às vezes o tempo é curto
E tem tanta coisa pra se viver
Lição de sabedoria
É ter paciência para aprender
Viver é fazer história
É deixar a lembrança gravada nela

Que a vida jogada fora sempre volta pela janela...



(Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, "Vida Jogada Fora")

terça-feira, 1 de março de 2011

Judiciário, censura, revolução e outras crenças


Novas informações sobre o modo de pensar dessa estranha máquina que é o CNJ são trazidas a público nesta semana: "STJ ignora teto e paga supersalário a seus ministros(Folha Online, 27/02/2011).

A notícia, publicada no foro privilegiado da imprensa (na página "Poder", e não na página policial), revolta não pela exposição  do fato, já comum, de servidores públicos utilizarem subterfúgios "legais" para apropriar-se das riquezas produzidas pela sociedade, não obstante já desfrutarem salários e privilégios inacessíveis à absoluta maioria da população. O que causa indignação são as justificativas tortuosas apresentadas por esses senhores: "Você precisa confiar nas instituições. Se o CNJ permite, é porque fez de acordo com a Constituição"


Ou seja: eu vou à assembléia do CNJ, voto a favor do uso de adendos que "não são remuneração, são auxílios, abonos de permanência e adiantamentos de férias e salários" (sic) para burlar a Lei e, depois, ponho a culpa no CNJ.


Com o sangue batendo nas têmporas ante tanto cinismo, comentei na Folha Online:
"Os representantes do crime organizado no Judiciário brasileiro não estão preocupados com o cumprimento da lei e sim com a defesa dos seus próprios interesses. Utilizam-se imoralmente das brechas deixadas pelos seus comparsas do Legislativo para assaltar os cofres públicos e zombar da população que sua sangue e lágrimas para gerar as riquezas de que eles indecentemente se aproveitam. O mundo inteiro está vendo o resultado disso nos países árabes".
Meu comentário gerou 107 avaliações positivas de leitores da Folha, além de sete comentários favoráveis. Quem freqüenta o espaço para debate bem-comportado da Folha de S. Paulo sabe que esses números não são comuns. Evidentemente há o outro lado, e seis pessoas avaliaram negativamente o meu post, mas nenhuma delas quis manifestar as razões do repúdio.

Um dia depois, meu comentário havia sido expurgado pela Folha, restando em seu  lugar apenas a informação genérica: "O seu texto infringe os termos de uso do serviço e por isso foi removido".

O motivo da censura ao meu comentário pode ter sido a já notória arbitrariedade do censor da Folha; porém, mais provavelmente, terei sido julgado e condenado por tentativa de sublevação. Já adianto que minha intenção não era iniciar um tumulto ou uma revolução que apeasse do poder a classe dominante. Sempre haverá uma classe dominante, composta de modo geral pelos mesmos elementos e, considerados o indivíduo comum e os círculos externos da sociedade, de pouco valem as revoluções além do exercício da simples vingança e do revanchismo. Eu não sou um revolucionário: sou um homem comum que ainda não perdeu a capacidade de indignar-se. Não compactuo com a injustiça e sou absolutamente intolerante à que é praticada por servidores do Judiciário, todos os dias, sob a inaceitável desculpa da observância à letra fria da Lei. Sabemos muito bem quem redige e aprova essas leis, de resto cheias de "brechas". O que eu quis dizer foi que é possível exercer o poder com, digamos, "sustentabilidade", e que a exploração predatória da natureza humana costuma por em ação a primeira e a terceira leis de Newton, como a História está careca e depilada de tanto demonstrar. Por quê não restringir o uso do poder a quem tenha condições mínimas de fazê-lo com sabedoria, evitando essas dolorosas guerras civis que acontecem todo dia em algum lugar? Então o pacífico povo brasileiro não é igual ao resto da Humanidade, e isso jamais acontecerá aqui? Hmpf.

Voltando à notícia: é claro que há homens probos, decentes, corretos e justos no Judiciário brasileiro. Mas seu silêncio diante do que todos sabem acontecer dentro da corporação aponta para fraqueza de caráter, medo e conivência. Os Ministros e juízes são, na prática, pessoas físicas e jurídicas invioláveis, invulneráveis, intocáveis. Não há por que temerem os seus pares. Se os juízes honestos unirem-se, não precisarão temer a ira das organizações criminosas infiltradas em seu meio. Seu dever inescapável é denunciar essas organizações, diminuir seu poder e sua influência e, a cada oportunidade, extirpá-las do seu -- e do nosso -- convívio.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Harmonizar-se

"Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo".
Esse trechinho de "Serra do Luar", de Walter Franco, sempre me prendeu a atenção. É como uma exortação ao equilíbrio. E eu, presa fácil das emoções, bem que sempre precisei equilibrar-me.

A música frequentemente me serviu de guia, para o bem, para a obliteração ou para a alienação plena. Mas lembro que, numa das minhas adolescências, fui resgatado da gandaia por ninguém menos que Monsieur Binot: "Bom é não fumar / Beber só pelo paladar"...