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A Grande Viagem

O Fascinante Caminho do Retorno

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

A Parábola da Gestão Doméstica Temerária


Sou um próspero cidadão emergente, ganho dez mil Reais por mês e tenho uma casa onde morar.

Tenho uma empregada doméstica, à qual pago sete mil Reais de salário por mês. Também pago o seu transporte, alimentação, plano de saúde de primeira linha e moradia e, caso seus trabalhos avancem pela madrugada, o que parece ser muito frequente, ela recebe um adicional.

Apesar disso, a minha casa é imunda, e só insistindo muito consigo que ela faça uma limpeza razoável de vez em quando. Os móveis estão sempre empoeirados e a porta de entrada não tranca mais. Ela fez greve na semana passada e não lavou os pratos nem preparou nenhuma refeição durante oito dias, mas não posso substituí-la por uma funcionária mais dedicada porque ela tem estabilidade no emprego. Ultimamente tem insistido para que eu contrate novos auxiliares para ajudá-la, inclusive uma prima ou duas, sob pena de greve branca.


Ela também é encarregada das minhas compras domésticas, usando o que sobra do meu salário. Traz os recibos do mercadinho que ela mesma escolheu criteriosamente, mas os preços dos produtos sempre me deixam  assombrado: uma caixa de fósforos, 120 Reais; um quilo de arroz, 250 Reais; uma dúzia de ovos, 100 Reais; e a continha dela e dos amigos no motel, 400 Reais. O computador do quarto dela, usado para jogar paciência no horário de trabalho, me custou doze mil Reais no cartão de crédito.

No próximo ano vou ter que trabalhar um pouco mais, e também precisarei economizar bastante em saúde, segurança e educação, caso contrário não conseguirei bancar o aumento de salário de 61,83% que ela exigiu no apagar das luzes de 2010, além dos pequenos reajustes mensais de praxe que ocorrerão ao longo de 2011.

Tomara que eu tenha saúde ainda por muitos e muitos anos, para poder trabalhar e manter o padrão de vida dela. Afinal, o que seria de mim sem minha empregada?
Postado por Euni às 08:54 Nenhum comentário:

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Sensíveis a pressão externa

O que será que o Brasil ganhou (ou deixou de perder) em troca da vida dos passageiros do Vôo 1907 da Gol? Qual terá sido a "pressão externa" que tanto sensibilizou os juízes federais que libertaram os pilotos americanos Lepore e Paladino?

Começamos a perceber que a maioria das realidades não é tão real assim; e que isso nem depende tanto dos nossos pontos de vista pessoais, como referido nas obras "A Ilha" (de Michael Bay), "Matrix" (irmãos Wachowski) e "1984" (Orwell).

Coisas obscuras como Itamaraty, Skull and Bones, Bilderberg, Illuminati et coetera parecem demonstrar diariamente que poucos de nossa raça conseguimos enxergar mais que um palmo adiante do nariz uma ou outra vez na vida.
Postado por Euni às 11:10 Nenhum comentário:

A Moda

O caderno "Mundo Ela" do Correio Braziliense trouxe, nesta semana, a seguinte chamada: "É importante ter cuidado na hora de garantir o bronzeado do verão". Uma foto mostrava uma dessas barrigas caríssimas e absolutamente efêmeras que constituem o Suplício de Tântalo do imaginário feminino.

Isso me fez pensar em quantas mulheres vão à praia pra nadar no mar e curtir a brisa e a sensação da areia molhada nos pés. Se não coincidir com o dia de lavar o cabelo, nada feito. Sem a canga da moda, jamais! E com o biquini do verão passado? Tá louca?????

Fico imaginando o dia em que a Prada lançar sandálias de praia: as meninas serão obrigadas a bronzear-se na calçada, pra pegar a "marquinha da sandália" sem estragar o caríssimo calçado.

Outro dia comentei que cresci numa época em que não era proibido usar a roupa que desse na telha: pelo contrário, o bom era ser original, ter seu próprio estilo, mesmo que não fosse estilo nenhum, já que ninguém ligava muito mesmo pra isso. Aliás, a etiqueta das vestimentas ficava do lado de dentro e as fábricas eram obrigadas a destacar-se pela qualidade, e não pelo investimento em comerciais de TV. Hoje, "ter seu próprio estilo" significa ter um Clio, morar num Flat da Via Engenharia, usar aquele acessório do qual só foram fabricadas quatrocentas mil cópias e chamar Lady Gaga de Diva.

Quem, nos loucos anos 60, imaginaria que Paz, Amor e Liberdade conduzissem à codebarrização do pensamento?

Ah, Bill Gates e Steve Jobs imaginariam, sim. Outros comerciantes perceberiam que os nerds são tudo menos doidos, e que os demais podem ser habituados a não pensar muito. E dar-se-iam bem, quod erat demonstrandum.
Postado por Euni às 09:22 Nenhum comentário:

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

A mulher de César

Reuniram-se nos dias 10, 11 e 12 de novembro de 2010,  no resort do Hotel Transamérica da Ilha de Comandatuba, na Bahia, juízes federais de todo o Brasil e suas famílias, em evento organizado pela AJUFE (Associação dos Juízes Federais do Brasil). O encontro foi patrocinado por várias empresas privadas e estatais e por um instituto de ética concorrencial (clique aqui para ver a reportagem na Folha).

Questionada quanto a aspectos éticos relacionados à aceitação desses patrocínios, a Associação defendeu-se com esta pérola: 

"A Ajufe informa que 'em todas as oportunidades anteriores adotou o mesmo modelo de encontro, concentrando os seus esforços de organização para proporcionar o debate de temas importantes para o Poder Judiciário e para a sociedade brasileira'".

Ocorre que, diante do lamentável espetáculo protagonizado por membros do STJ em cadeia nacional durante dois recentes julgamentos envolvendo políticos ficha-suja, é inevitável indagar até que ponto aquilo que interessa à sociedade brasileira tem importância para o Poder Judiciário. Nesse caso dos patrocínios, tudo indica que a magistratura afastou-se de tal forma da sociedade que parece já não enxergar o significado da expressão "conflito de interesses". Como resultado, todo o sistema jurídico do país vive hoje o drama de Pompéia, mulher de César -- tendo como agravante o fato de terem-se demonstrado procedentes muitas das acusações de improbidade feitas ultimamente contra juízes.

O efetivo controle sobre o serviço público é uma meta a ser intransigentemente perseguida pelo contribuinte. A Administração Pública chega a aplicar na folha de pagamento quase 80% do que arrecada (vide os números do Distrito Federal). O que sobra é insuficiente para que os serviços prestados ao cidadão sejam minimamente satisfatórios, mesmo porque boa parte desse saldo é mal administrada, desperdiçada e até desviada para cofres particulares, graças ao diuturno assalto ao Erário promovido por empresários destituídos de qualquer freio, auxiliados por servidores dóceis.

O que motivaria entidades como a Souza Cruz, o Sindicato das Distribuidoras de Combustíveis, a Caixa, o Banco do Brasil e a Eletrobrás, entre outros que preferem ficar anônimos, a patrocinar um evento luxuoso para juízes federais e suas famílias em uma ilha paradisíaca, se não a possível docilidade de algum magistrado?

A indagação é retórica, em especial diante das surradíssimas declarações da AJUFE e das eventuais justificativas desse Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), um dos patrocinadores do encontro e, talvez, o seu melhor símbolo.

Postado por Euni às 12:26 2 comentários:

Combustão total

Um artigo de Guilherme Genestreti na "Folha Online" de hoje trata de um transtorno relacionado ao trabalho, ao qual deu-se o nome de "burn out" (combustão total, em inglês). 

O fenômeno é objeto de pesquisa pela ISMA (International Stress Management Association), definida em seu website como "a mais antiga e respeitada associação internacional sem fins lucrativos voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento do stress no mundo".

Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas, citada no artigo, assim descreve o transtorno: "É a doença dos idealistas. O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao trabalho, que descobrem que nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena."

A professora alerta que a apatia gerada pelo "burn out" pode sugerir depressão ou síndrome do pânico, dificultando o diagnóstico. O transtorno também não deve ser confundido com estresse: "O estresse tem um componente biológico forte, ligado a situações em que o corpo tem de responder ao perigo. Já o 'burn out' é um estado emocional em que a pessoa não sente mais vontade de produzir. Quem apresenta exaustão emocional, não se envolve mais com o que faz e reduz as ambições pode estar sofrendo do transtorno."

O "burn out" não é uma coisa de mariquinhas. Muita gente raçuda, valente e perfeccionista conheceu momentos kafkianos em que considerou que o trabalho mereceu de si um nível de atenção incompatível com os reflexos desse esforço em sua vida pessoal. O transtorno parece vitimar justamente os que nunca dizem não a um desafio e que não se contentam com resultados meramente satisfatórios.

Ainda segundo o artigo da Folha, Marilda Lipp diz que, além de psicoterapia e antidepressivos, recomendados para minimizar os sintomas, o tratamento deve incluir uma reavaliação do papel do trabalho na vida da pessoa: "aprender a dizer não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam."

Problemático mesmo é convencer os "burnt out" a fazer isso. Comentei o artigo com um amigo que se define como "ex-workaholic" e que se encontra atualmente em uma fase difícil da carreira. A reação do sujeito foi: "ainda bem. Pensei que eu tivesse ficado preguiçoso".
Postado por Euni às 09:17 Nenhum comentário:

sábado, 6 de novembro de 2010

Os excluídos

Parece que, afinal, prevaleceu a opinião pública de que lugar de ficha-suja é fora das eleições -- pelo menos numa boa maioria dos casos. Os TREs e o TSE entenderam que a lei aplica-se imediatamente; e o STJ acabou ratificando esse entendimento.

Claro que a ratificação da lei pelo STJ foi difícil. Metade dos ministros acredita, ou parece acreditar, que o estrito respeito à Constituição assegura o bem-estar social e a manutenção do estado de direito. Isso talvez seja verdadeiro em lugares como a Inglaterra ou a Noruega. No Brasil, país com meros 500 anos de idade, cuja cultura colonial foi reforçada por 25 anos de ditadura, a Constituição é regularmente reescrita por velhas oligarquias, com o objetivo de dar a impressão de evolução, mas somente a impressão. Para piorar, é crescente a intervenção do crime organizado sobre a vida política do país e, consequentemente, sobre suas leis, que há décadas são redigidas por gente que frequentou, frequenta ou frequentará o noticiário policial.

Alguns, alçados à mais alta corte do país, comportam-se como se fosse mais necessário manter intocadas essas normas do que atender aos anseios da sociedade por probidade, moralidade e responsabilidade na lide com a coisa pública. Chegam mesmo a criticar a pressão exercida sobre o poder público pela sociedade em busca do respeito a esses princípios universais, como o fez explicitamente o Ministro Gilmar Mendes durante o julgamento do caso Jader Barbalho.

Como boa parte da população brasileira, eu gostaria de sair às ruas, de peito aberto e soprando minha vuvuzela (ainda se vende vuvuzelas?), comemorando essa pequena, rara, mas importante vitória da sociedade sobre os criminosos infiltrados no serviço público. Mas nós, brasileiros, somos gatos escaldados. Sabemos que um número enorme de gente rica, poderosa e de mau caráter pode comprar um número ainda maior de gente sem caráter, egoísta e imediatista que, não por acaso, ocupa posições-chave na administração pública. Não convém comemorar antes que uma vitória definitiva e irretratável demonstre-se cristalinamente.

O recente reforço ao poder de José Sarney no governo federal, por exemplo, deverá criar obstáculos adicionais à plena observância do contrato social. A população brasileira gosta de política mas tem mais o que fazer: gostaria que os tribunais de contas e as câmaras legislativas exercessem sua função de fiscalizar o Erário, e só levanta de seu berço esplêndido quando os servidores públicos extrapolam todos os limites de ganância e irresponsabilidade. Um pouco mais de presença da sociedade na fiscalização faria maravilhas pelo orçamento da República e, por conseguinte, pela saúde, pela segurança e pela educação dos brasileiros, aproximando-nos de ideais de justiça, de administração pública e de bem-estar que temos o direito de almejar.
Postado por Euni às 11:13 Nenhum comentário:

sábado, 16 de outubro de 2010

O Eleitor do DF

Imagem: Datafolha / Folha Online, 16/10/2010
Não surpreende que invistam na mulher-laranja empresários corruptores, servidores corruptos e outros beneficiários de gentilezas do Erário e do Legislativo, ou aqueles que, degradados à categoria de subcidadãos, vivendo nas favelas-esgoto criadas por Roriz, sejam-lhe gratos por terem obtido um lugar onde morar.

Ainda assim, poderia causar estranheza aos forasteiros ver 35% dos eleitores do Distrito Federal desprezarem o enorme volume de informação posto à sua disposição e cederem ao discurso emocional-religioso do crime organizado, declarando sua preferência  por uma candidata a governadora cuja absoluta incapacidade político-administrativa já foi irretorquivelmente demonstrada por ela mesma a cada aparição na TV.

A quem estranha tudo isso cabe lembrar que, por mais que Brasília ostente seu vanguardismo arquitetônico, seu urbanismo paradisíaco e uma impressionante renda per capita, o DF recebeu e recebe a afluência de povos do Oiapoque ao Chuí e, assim, reflete também o que há de ignorância, pobreza cultural, analfabetismo funcional e macunainismo no Brasil.

Vendo por esse ângulo, os 35% de Dona Weslian são um percentual até bem menor do que seria de se esperar.
Postado por Euni às 10:34 Um comentário:

sábado, 9 de outubro de 2010

Música e Letra

Eu amo ouvir música. Cresci ouvindo minha mãe cantar pela casa, meu pai cantando no quintal, tios tocando Dilermando Reis e Baden Powell em seus DiGiorgio com cheiro de pinho e aço, tias tocando acordeons repletos de teclas misteriosas. Meus filhos cantam e cantarolam o tempo todo. Se me descuidar, eu canto.

Boa parte da minha educação musical veio com a coleção de música erudita que papai comprou semanalmente à Abril Cultural quando eu tinha uns 6, 7 anos. De cara gostei de Handel. No meu rádio, ouvia Carpenters, EltonJohn, The Jacksons, Nazareth e todos os Beatles, juntos ou solo, sem entender uma única palavra -- mas as melodias eram encantadoras. Tinha um primo rico que comprava discos do Queen, Yes, Black Sabbath, Led Zeppelin, Uriah Heep, Deep Purple, Alice Cooper, T.Rex, Slade, Pink Floyd, David Bowie, Kiss e todas as vertentes do rock em 1970.

Frequentei as quartas-feiras do prédio da Reitoria da UFPb, onde os músicos da OSPB apresentavam-se em quartetos de sopro, quintetos de cordas, cameratas e sinfonias estupendas juntamente com o coral da Universidade. Fui barata de auditório e de coxia quando Caetano Veloso, Gilberto Gil, Arrigo Barnabé e Nara Leão faziam shows de três dias no Theatro Santa Roza e no Cine Tambaú.

No grupo de flautas do SESC aprendi a gostar de Vivaldi, Paganini e Bach, e descobri Mozart.

Amigos, amigas, grandes amores e até inimigos contribuíram para que eu passasse a ouvir Andreas Vollenweider, Chick Corea, Pat Metheny, Tom Jobim, Milton Nascimento, Joe Satriani, Sade, Legião Urbana, Ultraje a Rigor, Engenheiros do Hawaii, Capital Inicial, Ed Mota, Paralamas, Cidade Negra, Madredeus.

Mas tudo isso é pra dizer que no fim-de-semana passado ouvi, como quem ouve o povo da Atlântida ou da Lemúria, a Cor do Som!, e fiquei a semana inteira cantarolando sem parar algo que eu nunca, mas nunca na vida toda consegui entender. Sequer acreditava que a letra que eu estava cantando fosse a correta. Procurei na Internet, e, para minha surpresa, não é que eu estava cantando quase certo, quando pensava estar fazendo uma paródia? Vejam isto:


ZanzibarComposição: Armandinho/Fausto Nilo
No azul de Jezebel
No céu de Calcutá
Feliz constelação
Reluz no corpo dela
Ai tricolor colar

Ás de maracatu
No azul de Zanzibar
Ali meu coração
Zumbiu no gozo dela
Ai mina aperta a minha mão
Alá meu “only you”
No azul da estrela

Aliás bazar da coisa azul
Meu “only you”
É muito mais que o azul de Zanzibar
Paracuru
O azul da estrela
O azul da estrela
Essa canção tem um ritmo genial e uma melodia viral, e viria a ser a mãe do que ficou conhecido depois como "axé music". Tenho quase certeza de que, ao compô-la, Armandinho e Fausto Nilo estavam em algum tipo de transe induzido pela flora baiana. Somente décadas depois de ter ouvido pela primeira vez essa canção, somente hoje!, compreendi qual o processo mental necessário para acompanhar o sentido, puramente emocional, de uma letra assim: primeiro é preciso dormir pouco e mal durante uma semana, trabalhando duro e sem ganhar nada; em seguida, é preciso entrar no estado de letargia imposto pelas súbitas mudanças de umidade e temperatura dos primeiros dias da primavera de Brasília. Aí sim: ao ler a letra, sempre esquecendo a frase anterior, você guarda apenas o conteúdo emocional de cada verso, o que lhe dá o sentido da frase que você está lendo. Repetindo esse processo em todos os versos, você "pega" a carga emocional do texto, a qual só de modo figurado tem a ver com a letra.

Eis o mistério do axé: a letra não é letra, é pura carga sensorial que passa pela amígdala direto para o sistema límbico, sem nenhuma intervenção do neocórtex.

Postado por Euni às 14:37 Nenhum comentário:

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Caos de fim de tarde

Às 16:36 da segunda-feira recebo um telefonema macabro do meu cliente: o documento que protocolei na sexta-feira junto a um órgão público continha um erro primário -- errei no extenso de um número, o que prejudicava o objetivo do documento inteiro. Digo que posso corrigir e o cliente pergunta:

- Dá pra protocolar novo documento, com a correção, ainda hoje?
- Dá. (afirmação temerária, já que eram 16:40 e os guichês de protocolo fecham às 17:00h, eu estava a vários quilômetros de distância do órgão e estava começando a hora do rush em Brasília).

Assim mesmo, e com vontade de me matar por causa do erro estúpido, procurei legislação e jurisprudência pra embasar novo documento, fiz as alterações cabíveis e... cadê cartucho de tinta pra imprimir o documento? Entupiu ou acabou, sei lá. A moderníssima impressora não imprimia nada.

Pus tudo no pendrive, entrei no carro e parei em frente à papelaria que, infelizmente, não podia imprimir, mas indicou a lan house do outro lado da rua (embaixo do meu prédio) pra fazer o serviço. Deixei o carro na papelaria, cruzei a rua em pleno rush, quase trombei numa moto, mas consegui chegar à lan house. Impresso o documento, perguntei: quanto é? - Dois e quarenta, responde o uruguaio bonachão. Reviro a carteira e só encontro dois Reais. A lan não recebe em cartão. Abro um sorriso amarelíssimo e pergunto: - Posso ficar devendo quarenta centavos? O homem diz que sim, saio correndo até a o trabalho da Yenny pra pedir um Real pra fazer uma fotocópia para protocolo. Por sorte tinha. Corro de volta à papelaria, faço uma cópia do documento, entro no carro, corro para o órgão público às 17:05h, sem a menor esperança de poder cumprir a promessa feita ao cliente.

Hora do rush. Carro que não acaba mais. Atormentado pelo erro idiota, não cesso de me perguntar "por que isso acontece?" Lembro que fiz o documento às pressas, no escritório do cliente, usando o PC dele, com mil interferências, documentos espalhados por toda parte, senhas pra abrir o PC e a impressora a cada cinco minutos. Só fico mais exasperado. Resolvo evitar o Eixo Monumental, dou a volta no autódromo e chego ao órgão por trás, pelas 17:20h. Estaciono, corro até a portaria, identifico-me ao recepcionista e nenhum elevador está funcionando. Subo até o quarto andar pelas escadas; 17:35 e, pra minha alegria, o guichê está aberto! Pergunto se posso protocolar um documento e a moça diz que sim! Carimbo vai, assinatura vem, pronto! Vejo na minha via do documento que errei uma data de referência. Pergunto no guichê se posso imprimir de novo a primeira página nos computadores da seção. E não é que o cidadão diz que sim?

- Tá com o pendrive aí?
- Tô.

Bolso da camisa. Bolso da calça. Outro bolso. Bolsos de trás. Abro a pasta e procuro. Tiro da pasta tudo o que tem dentro e nada do pendrive. Me desespero. Não continha documentos confidenciais, mas era o último pendrive que me restava. Além disso, preciso dele pra arrumar essa bagunça aqui.

Faço uma rasura no documento e digo que vou procurar o pendrive no carro. Ponho tudo de volta na pasta e desço as escadas correndo. No carro, nem sinal do pendrive. Volto à papelaria na 113 Norte. Nada. Corro até a lan house. Nada. Pago os quarenta centavos e volto desolado pro carro, quando vejo, no chão do estacionamento, diante da papelaria, ao lado do pneu de um carro, quem? quem? o pendrive!!! E intacto!!! Não acredito!!!!!!!

Corro de volta ao órgão, 18:30 já. Estão lá me esperando, e já haviam ligado para o telefone impresso no papel timbrado do meu cliente, à minha procura, e no escritório do cliente ninguém me conhecia.

- Mas me ligaram por quê?

Não é que eu tinha posto na minha pasta todo o material escolar  e os trabalhos da faculdade da atendente? Mil desculpas depois, imprimi o documento, protocolei-o e voltei pra casa.

É devastador perceber que o Universo inteiro conspira a meu favor em pleno final de segunda-feira -- e que eu faço questão de avacalhar tudo.
Postado por Euni às 20:11 2 comentários:

domingo, 29 de agosto de 2010

A Reinvenção da Roda

Certas canções que ouço
cabem tão dentro de mim
que perguntar carece:
- Como não fui eu que fiz?
(Milton Nascimento, "Certas Canções")

Tenho erguido meu punho furioso, neste blog e alhures, contra a irresponsabilidade de magistrados que utilizam a lei como um padeiro utiliza a massa, fazem dela o que bem entendem e não respondem pelos prejuízos que, com seus muitos erros crassos, preconceitos, alienação social, vaidade, egocentrismo e até por corrupção, causam aos jurisdicionados  -- e, no caso dos juízes de tribunais superiores, a toda a sociedade. Em todas as vezes que protestei contra isso, senti-me como que pregando no deserto.

Eis que, no meio de uma pesquisa, surge um texto de Fábio Konder Comparato, intitulado "A Espada e a Justiça", que me dá a relaxante sensação de não ser um exilado, um apátrida, um alienígena sem planeta. No texto, o jurista comenta a infeliz decisão do STF ao julgar a ADPF nº 153, favorecendo os criminosos do regime militar (a propósito de "criminosos", vide Estatuto do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg, de 1945, art. 6, alínea c). Ao tratar da responsabilidade dos juízes, Comparato faz eco ao que eu estou careca de dizer:
"Além disso, seria de grande importância instituir ouvidorias populares dos órgãos da Justiça, em todos os níveis, com competência para exigir explicações oficiais sobre a atuação administrativa dos magistrados. O Judiciário tem sido tradicionalmente, aos olhos do povo, o mais hermético de todos os Poderes do Estado. É inútil procurar reduzir a desconfiança dos jurisdicionados em relação aos juizes, se entre uns e outros continuarmos a manter uma linha divisória intransponível.

Toda essa reforma institucional, no entanto, será vã, caso não logremos mudar a mentalidade de nossos magistrados, a qual, sob a aparência de fiel adesão ao princípio republicano e ao ideal democrático, permanece de fato essencialmente oligárquica e subserviente aos 'donos do poder'."

Para meu alívio, o texto de Comparato eu juraria que fui eu quem fez.
Postado por Euni às 13:55 Nenhum comentário:

sábado, 28 de agosto de 2010

A Fuga

Capítulo I - Gigantes Caminham Entre Nós

Foi prevista nova inundação da Terra. Um de nós, que chamarei de O Mais Alto, acaba de passar-me essa informação. Para minha surpresa, a casa dele, onde estamos, havia sido preparada ao longo dos anos para a fuga. As salas amplas, minimalistas, com grandes janelas brancas envidraçadas, permitem ver, no exterior, os primeiros sinais dos tempos. Ao longe, O Pateta já está preso em uma parede de água, retendo a respiração por mais alguns minutos apenas, as mãos no bloqueio de vidro, olhando tristemente em nossa direção. Três andares abaixo de nós, no chão, famílias correm para se abrigar da destruição anunciada pelo tsunami. Ajoelho-me sobre o aquecedor perto da janela e chamo três vezes pelo nome de Deus, sem coragem para olhar aquela cena; um dos meus companheiros pergunta-me desdenhosamente se eu preferia estar lá fora, patetando no lugar daquelas pessoas, e sai, deixando-me atordoado.

Capítulo II - Tenho Tudo

Dentro da nossa casa começa a divisão dos ambientes entre as pessoas. Eu vou ficar em uma república, vizinha ao quarto do Mais Alto. No quarto dele, a movimentação de cargas é intensa, e eu brinco com a Mais Alta que precisarei aprender a nadar até aquele quarto durante a nossa longa travessia do Cosmos. Nisso percebo que outras pessoas estão também movimentando víveres, ainda que em menor quantidade, e descubro que eu também deveria juntar meus próprios víveres, ao invés de endeusar e mendigá-los a quem os tem. Apresso-me também, então, até a enorme geladeira, onde ainda encontro algumas peças de carne defumada, das quais me aposso imediatamente, deixando aos próximos apenas alguns pacotes de carnes de segunda. Recolho rapidamente mais alguns alimentos nas grandes despensas.

Tudo pronto, volto à sala menor com suas grandes janelas brancas e vejo um enorme trator amarelo passar rente à nossa casa e sumir por baixo dos telhados do lado direito, roncando alto e soltando fumaça enquanto a casa toda começa a vibrar e inclinar-se. Um comunicado vindo do Mais Alto informa que seremos reposicionados pelos equipamentos da S.H.I.E.L.D., e vejo vários outros tratores amarelos com guinchos muito altos no jardim. A casa de três andares é então removida dos seus alicerces, posta em posição horizontal e girada como uma funda dentro do pomar repleto de macieiras carregadas de frutos verdes, ácidos e maduros, e percebo que, em cada um deles, há uma frase escrita: "J#w quer" ou "eu quero" -- a vontade do Mais Alto está impressa em tudo ao nosso redor.

Capítulo III - Partida

As pessoas que moram no imenso condomínio ao nosso redor olham espantadas para a nossa casa, que em seguida é arremessada como um foguete sem motores ao longo de uma estrada pavimentada com plástico, ladeada por grandes árvores frutíferas e, agora, tomada por manadas de animais de todos os portes. A casa flutua no ar e muda de altitude somente quando necessário. Sobrevoamos um grupo de enormes paquidermes rosados, que o Mais Alto diz apreciar muito e, em seguida, encontramos um rebanho de touros parecidos com bisões, que contraem os abdômens em espasmos súbitos para emitir sons em frequência inaudível, o que faz parecer que estejam rindo. Nesse momento estamos a pé na estrada de plástico enquanto o Mais Alto repreende a todos, dizendo que matará quem se perder novamente do grupo. Seguimos todos a pé e vou conversando com A Mulher na retaguarda da tropa, olhando as casas vazias ao redor, quando de súbito percebemos que o grupo sumiu.

Capítulo IV - Separados do Grupo Superior

Agitados, olhamos para os lados e para o céu, procurando por eles, e vemos várias figuras aladas que se movem rapidamente em direção ao poente. Alçamos vôo procurando por nosso grupo entre as dezenas de voadores e não há sinal deles. Lembramos da advertência do Mais Alto e acreditamos que a morte virá automaticamente, se ficarmos para trás. Assumimos, então, nossa nova posição no eclético e desorganizado Grupo Intermediário, seguindo os bandos em direção ao Oeste, e insto A Mulher a voarmos mais alto, para podermos ver mais longe. Para trás, ficam os que não podem voar.

Capítulo V - O Obstáculo Ocidental e Meditação

Atingimos, então, uma gigantesca construção que era utilizada como ginásio, e que barra a passagem de todos. Entramos no imenso prédio, procurando maneiras de passar para o outro lado, e vemos que algumas pessoas já escalam as paredes ocidentais, apoiando-se em pequenos estribos de corda presos a intervalos curtos, e acessam diminutas janelas corrediças envidraçadas, que permitem ver o exterior. Subimos e estimulo A Mulher a passar por uma das janelas, enquanto esforço-me para passar por outra, anotando mentalmente as grandes lições de amadurecimento e prevenção, cuidados, atenção, foco, persistência, urgência, força e orientação que a Fuga nos ensina.
Postado por Euni às 07:08 Nenhum comentário:

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Batman no Brasil

Uma leitora da Folha de SP postou a seguinte frase, mistura de pergunta e apelo, abaixo de uma reportagem noticiando mais um assalto a joalherias em shopping centers da capital paulista: -"Cadê Batman?"

Outro leitor perguntou se era pra rir.

Batman é um símbolo de justiça sendo feita sem que o agente necessariamente prenda-se às amarras da Lei, mas sem que se cruze a fronteira entre o combate ao crime e o crime propriamente dito (a ruptura do contrato social).

Quando se clama por Batman, pede-se a desobstrução dos caminhos que levam da Lei até a Justiça, e isso passa pela limpeza não apenas do Judiciário, mas do Legislativo (principalmente) e também do Executivo. E, claro, pela óbvia necessidade de mobilização social organizada.

Pôr o Batman a serviço de qualquer político é uma temeridade, daí o emaranhado de Leis e ritos jurídicos presentes nos Estados democráticos: eles são um freio à plena aplicação da justiça; mas são, principalmente, uma salvaguarda contra o totalitarismo -- o que, sabemos na pele, não impede a ação de pequenos Napoleões em momentos de crise social.

Assim, uma bandeira que gostaríamos muito de ver nos palanques, neste momento em que a sociedade brasileira adquire, através das dores da experiência, conhecimento de sua situação de sitiada, é a do pleno cumprimento do contrato social: eu, cidadão, entrego minhas liberdades ao governo e recebo, em troca, justiça -- rápida, plena e incontestável.

Não é o caso de rir.
Postado por Euni às 10:38 Nenhum comentário:

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Friends

(for Yenny)

So no one told your life was gonna be this way
Your job is a joke, you're broke, your love life's D.O.A.
It's like you're always stuck in second gear
When it hasn't been your day, your week, your month, or even your year but...

I'll be there for you
When the rain starts to fall
I'll be there for you
Like I've been there before
I'll be there for you
Cause you're there for me too...

You're still in bed at ten
And work began at eight
You've burned your breakfast
So far... Things are going great
Your mother warned you there'd be days like these
But she didn't tell you when the world has brought
You down to your knees and

I'll be there for you
When the rain starts to pour
I'll be there for you
Like I've been there before
I'll be there for you
Cause you're there for me too...

No one could ever know me
No one could ever see me
Seems you're the only one who knows
What it's like to be me
Someone to face the day with
Make it through all the rest with
Someone I'll always laugh with
Even at my worst I'm best with you, yeah

It's like you're always stuck in second gear
When it hasn't been your day, your week, your month, or
even your year

I'll be there for you
When the rain starts to pour
I'll be there for you
Like I've been there before
I'll be there for you
Cause you're there for me too...

"I'll be there for you" - Friends Theme - Warner Brothers

Postado por Euni às 18:36 Nenhum comentário:

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Tarde

Uma menina me ensinou
Quase tudo que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei
Ela fazia muitos planos
Eu só queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir
Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar
Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
E eu me agarrava a ela
Porque eu não tinha mais ninguém
E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei
Ela falou: - Você tem medo.
Aí eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém
Ela me disse: - Eu não sei mais o que eu
sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê.

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo, cedo, cedo, cedo.

Ico-Ouro Preto / Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Marcelo Bonfá - "Ainda é Cedo"

Postado por Euni às 13:26 Nenhum comentário:

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Kit de privilégios

A indignação, no Brasil, veste-se frequentemente de humor e ironia, graças a uma herança cultural de, historicamente, não se poder fazer muito contra o crime organizado institucionalizado e instalado na hierarquia governamental, protegido por foro privilegiado e dotado de imunidade parlamentar, e que distribui, com o chapéu do contribuinte, gentilezas a mancheias, justamente a quem menos faz por merecê-las.

Recebi por e-mail um protesto nessa linha, encaminhado por uma querida amiga que sequer tem perfil de ativista político, o que prova que todos já estão de saco cheio. Achei que alguns dos comentários eram até de gosto discutível, como uma menção às cotas para negros nas universidades e a imagem de um palhaço sobre a bandeira nacional com buracos de balas no lugar das estrelas. A mensagem circula por aí de computador em computador, externando o mal-estar do cidadão quanto aos privilégios dados a uns em prejuízo dos demais.

Os donos do poder bem que poderiam evitar a repetição da história francesa de Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que começou exatamente assim e deu no que deu.

Postado por Euni às 10:16 Nenhum comentário:

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Releasing a moment

The ghosts are slowly leaving the house, a multitude of dim lights seizing the stars. Nevertheless, they are not yet fully gone, and every now and then quietly wake me up, just to show themselves to me -- and quickly fade away.

This is one of such moments, which I decided not to imprison . Instead, there it goes, free as an ocean bird, to live abroad forever and never to come back.

"Why Should I Care"

Was there something more I could have done?
Or was I not meant to be the one?
Where's the life I thought we would share?
And should I care?

And will someone else get more of you?
Will he go to sleep more sure of you?
Will he wake up knowing you're still there?
And why should I care?

There's always one to turn and walk away
And one who just wants to stay
But who said that love is always fair?
And why should I care?

Should I leave you alone here in the dark?
Holding my broken heart
While a promise still hangs in the air
Why should I care?

(Carole Bayer Sager, Linda Thompson & Clint Eastwood, "Why Should I Care?")




Postado por Euni às 15:30 Nenhum comentário:

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Banalidade e tabu (2)

Por ter sido vinculado a uma suposta exigência de pensão alimentícia, o caso envolvendo o jogador Bruno e sua "ex-amante" Eliza ganhou espaço na série "Banalidade e Tabu", iniciativa deste blog para discutir as mazelas que atrapalham o bom convívio entre os gêneros.

Nada justifica a barbaridade levada a efeito contra a moça. Entretanto, esse tipo de crime persistirá enquanto a Justiça legitimar o uso da gravidez para fins de ascensão social.

Manutenção e alimentação são uma coisa; exploração e chantagem são outra bem diferente. Pessoas como Mick Jagger e Paul McCartney preferiram abrir mão de parte de suas fortunas para pagar indenizações astronômicas às golpistas que os apanharam dormindo sem touca. Outros, menos esclarecidos e mais impacientes, como Bruno, precipitaram-se ao ponto de destruir suas vidas, por não concordarem com o achaque e decidirem dar uma solução simplista ao problema.

Como a questão revela-se mundial, cabe debater até que ponto uma ação positiva, como a proteção dada pelo Estado moderno à mulher que quer o reconhecimento paterno dos seus filhos, pode ser utilizada de má fé, garantindo a essas mulheres excessos na concessão de direitos que arranham os conceitos básicos de justiça.
Postado por Euni às 09:55 Nenhum comentário:

sábado, 10 de julho de 2010

Sobre a violência praticada por mulheres

Luciana Saddi, blogueira da Folha de S. Paulo, abordou em seu blog o tema da violência exercida pela mulher contra o homem. Tabu de dois gêneros, o assunto é tratado com timidez e de forma ainda incipiente. Eu mesmo tentei, outro dia, escrever sobre isso. Meu post, publicado também nos comentários da Folha Online, incluiu muita coisa que ninguém quer discutir e foi duramente criticado por quase todas as mulheres que tiveram acesso ao texto (nenhum homem se manifestou contra ou a favor). Fui acusado de estar "de mal " com as mulheres, de ser machista, retrógrado, supersimplificador e ouvi tudo o que era de se esperar. Como meu comentário (intitulado "Banalidade e Tabu") incluía mesmo algum irrefreado machismo, cheguei a removê-lo do blog, mas ei-lo reabilitado pela coragem da jornalista.

O texto de Luciana tem suas pinceladas de feminismo e expõe a mágoa contra a dominação masculina, mas já é um bom começo para tratar do assunto. Uma discussão séria, ainda que provavelmente apaixonada, desse tema, poderá iniciar um movimento que eventualmente venha a sanar as graves injustiças cometidas diariamente contra o gênero masculino pelas sociedades modernas.

Segue a análise da escritora, psicanalista e blogueira Luciana Saddi.



Sobre a violência praticada por mulheres

"Um leitor se queixa da forma generalizante como a violência doméstica é abordada - não apenas na resposta que dei para o internauta no dia 22 de junho. Alega que nunca se fala em violência cometida por mulheres contra os homens e sugere que isso ocorre por causa do feminismo. Passou por mim o mesmo tipo de preocupação, enquanto elaborava a resposta para a questão sobre a irmã que sofria nas mãos do marido violento. Precisei de muitos dias e do email provocador desse internauta para elaborar as seguintes idéias:

Quando falamos em violência nos referimos a uma das formas de exercer o poder. A violência física, o terror, o estupro, a tortura, o cativeiro e o aprisionamento sem julgamento são formas históricas de dominação. As mulheres não tiveram muitas chances de exercer o poder dessa maneira, foram mais vítimas do que algozes, porém desenvolveram formas disfarçadas de praticar a violência no âmbito que lhes foi permitido participar. No âmbito familiar por meio do controle da casa, das rotinas e dos filhos - os abusos cometidos contra crianças merecem um capítulo a parte. A situação de dependência aumenta a vulnerabilidade ao exercício do poder: quem estiver com mais medo se colocará e será colocado mais rapidamente na posição de vítima.

Mulheres envenenam com palavras. Atingem o calcanhar de Aquiles de seus homens, intuitiva ou propositalmente, ao colocá-los em posição de jamais satisfazê-las. Também provocam a competição de seus parceiros com outros homens: – fulano de tal tem um supercarro e me telefonou ontem! Manipular por meio da culpa e da pena é uma das armas infalíveis dessa guerra. E cada um usa as armas que tem.

Se há complementaridade na violência doméstica contra mulheres, quando as vítimas fazem conluios inconscientes com maridos e namorados, há também um conluio dos homens que se tornam vítimas das mulheres, pois se colocam em missões impossíveis de realizar como: satisfazer completamente a esposa e os filhos. Também quando não conseguem evitar algum desafio ou competição com outro macho, propostos, mesmo que inconscientemente, por uma mulher de seu interesse.

Porém quantos homens não se sentem vítimas do poder sexual de uma mulher? A provocação sexual, a recusa ou esfriamento são instrumentos extremamente poderosos nas mãos delas. Muitas vezes elas nem sequer precisam jogar os jogos de poder usuais, alguns homens são tão vulneráveis e odeiam tanto o poder de excitação do corpo feminino que apedrejam, estupram e matam".


Luciana Saddi é psicanalista e escritora. Foi titular da coluna "Fale com Ela", publicada na Revista da Folha.

Postado por Euni às 07:25 5 comentários:

quarta-feira, 7 de julho de 2010

O Sonho do Retorno

Al mar eché un poema
que llevó con él mis preguntas y mi voz
Como un lento barco se perdió en la espuma
Le pedi que no diera la vuelta
sin haber visto el altamar
y en sueños hablar conmigo de lo que vió
Aún si no volviera
yo sabría si llegó
Viajar la vida entera
por la calma azul en tormentas sozobrar
poco importa el modo si algun puerto espera
Aguardé tanto tiempo el mensaje
que olvidé volver al mar
y así yo perdi aquel poema
grité a los cielos todo mi rencor
lo hallé por fin pero escrito en la arena
como una oración
El mar golpeó in mis venas
y libró mi corazón.


(Pedro Aznar / Pat Metheny, "The Dream of the Return")

Postado por Euni às 22:58 Nenhum comentário:

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Perdemos a Copa

É claro que este não é um post sobre futebol. Explico.

Vínhamos em pleno oba-oba, com feriados sucedendo a feriados, que levaram inclusive ao fechamento de escolas, postos de saúde e outras repartições públicas, com custos fixos bancados pelos que trabalham e recolhem impostos mesmo durante os jogos da Copa. Os contribuintes, embalados pela alegria de ver seu time vencer, relevavam a tudo isso e mais.

A frustração com o Mundial de Futebol, quero crer, porá novamente os brasileiros cara-a-cara com o Brasil. E isso não poderia acontecer em melhor hora.

É época de eleições, que contarão com muitos "fichas sujas" com suas candidaturas liberadas por seus pares do STF. Espero que o retorno antecipado dos Canarinhos provoque tão grande mau humor na nossa torcida que inviabilize as próximas artimanhas dos capangas dos Gilmares, em Brasília, no Mato Grosso e em qualquer lugar.

Perdermos a Copa pode criar uma oportunidade para ganharmos o Brasil.
Postado por Euni às 15:33 Nenhum comentário:

Vibração com o Ficha Limpa (II)

"Gilmar Mendes suspende primeira inelegibilidade de político com ficha suja" (Folha Online, 01/07/2010)

"Ministro do STF suspende lei Ficha Limpa para deputada de Goiás" (Folha Online, 02/02/2010)

Nem deu tempo começar a vibrar com a entrada em vigor da Lei Ficha Limpa: sem surpreender a ninguém, o ministro Gilmar Mendes, do STF, chegou para lembrar a todos que alegria de cidadão dura pouco. Dias Toffoli pegou a deixa e deu também sua contribuição à perpetuação da criminalidade no legislativo.

As frequentes decisões tomadas pelo STF, favorecendo o crime organizado, têm causado prejuízos imensos à sociedade brasileira, dentre os quais o pior nem é o colossal dano ao Erário, mas sim a sensação de impotência do cidadão ante o avanço do poder dos criminosos -- impotência e poder que parecem crescer a cada manifestação do Supremo.

Ao lutar contra a máfia em seu país, o promotor italiano Giovanni Falcone chegou a declarar: "A concepção de uma guerra frontal entre a política e a máfia não pode ser aplicada ao combate de uma organização criminosa. Podemos dar-nos por satisfeitos se conseguirmos reduzir as ações ilegais da máfia a um nível menos assustador".

Assim como seu antecessor, Falcone foi assassinado pela máfia, embora, depois disso, a Itália tenha feito avanços consideráveis no combate ao crime instalado nas instituições públicas.

Essa luta, no Brasil, ainda é incipiente mas, com a imposição do Ficha Limpa ao Congresso, a sociedade demonstrou que não tolera mais a dilapidação diária da coisa pública, promovida por criminosos que desejam concorrer a ou permanecer em cargos eletivos.

Resta encontrar mecanismos capazes de desmantelar o auxílio luxuoso prestado ao crime organizado pelos tribunais brasileiros.


Postado por Euni às 06:27 Nenhum comentário:

domingo, 27 de junho de 2010

Vibração com o Ficha Limpa

"Anônimo" comentou simpaticamente neste blog que esperava alguma vibração da minha parte, diante da aprovação do Projeto Ficha Limpa.

Vibrei ma non troppo, ante o temor de que os efeitos práticos da Lei pudessem ser anulados por atos do crime organizado infiltrado no Congresso e nos Tribunais. Mas, apesar das votações apertadas, alguns "indecisos" juntaram-se aos poucos cidadãos de bem instalados nessas instituições e votaram a favor da sociedade, o que já é um avanço que não tem tamanho.

Vibrarei mesmo, a plenos pulmões e até com vuvuzelas, quando vir a primeira candidatura ser impugnada por motivo de bandidagem, malandragem, safadeza ou roubo.


Postado por Euni às 12:33 2 comentários:

Um povo e sua cultura estranha

Brasília é uma dessas cidades onde as pessoas parecem presas ao "comportamento típico" do lugar. Em outras paragens, o "comportamento típico" reveste-se de folclore, vestimentas, sotaques e, não raro, muito calor humano. Mas não aqui.

Muitas são as desculpas para o comportamento anti-social visível nesta nossa linda cidade -- caracterizado pela violência inata dos seus cidadãos e pelo desprezo absoluto pelo bem-estar do outro.

Em mais um dos exemplos diários disso tudo aí, um bando de mulheres cortou, com uma garrafa quebrada, o rosto de outra mulher que tocava uma vuvuzela durante um dos jogos da Copa em um bar da Asa Norte, prejudicando-lhe, talvez definitivamente, os movimentos faciais. Pelo que se noticia, o grupo agressor teria pedido que a moça parasse de tocar a corneta, para que se pudesse ouvir os comentaristas esportivos durante a transmissão. A moça, sentindo-se no direito de tocar sua vuvuzela, comprada com seu dinheiro e soprada pelos seus pulmões, não parou. As outras, sentindo-se no seu direito de usar as garrafas de cerveja pagas com seu dinheiro e manipuladas por suas próprias mãos, foram às vias de fato.

Um leitor do Correio Braziliense resumiu o episódio (não isolado) com acuidade: "Numa cidade em que você não dá e não recebe sequer um bom dia de seu próximo, espera o quê? Qualquer incidente já é motivo para agressão ou morte. Êta cidade atrasada chamada Brasília, com um povo e sua cultura estranha".
Postado por Euni às 08:55 Nenhum comentário:

quinta-feira, 17 de junho de 2010

4 a.m.

Escondo-me
Mas as luzes voltam de madrugada
envoltas em mistério, afeição e calma
e não me deixam dormir.
Postado por Euni às 05:04 3 comentários:

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Omissão do Estado e Reação Social

O episódio dos festeiros que, com a ajuda do dono do Posto de Combustíveis da 214 Sul, agrediram brutalmente um cidadão que pedia silêncio às 3 da manhã, é representativo de uma das piores faces de Brasília, e que a maculam periodicamente: a dos jovens de classe média que unem-se em grupos para praticar todo o tipo de barbárie, desde incendiar índios adormecidos a espancar garçons em outras cidades, em episódios tão violentos que atraem a atenção do país inteiro e repercutem inclusive em outros países.

A reação ao episódio da 214 Sul também é a cara de Brasília: a população engajou-se em uma campanha de boicote ao posto de combustíveis que, até o dia da agressão, tolerava e encorajava a realização de festas com som alto e bebedeira madrugada adentro, no meio de quadras residenciais.

A omissão do Estado, evidenciada nos depoimentos de todos os brasilienses que reclamam de barulho em postos de combustíveis e bares em áreas residenciais do Plano Piloto, sem que a polícia atenda aos pedidos de ajuda, é também a cara da cidade e, de resto, do Brasil inteiro. Apesar do desperdício de dinheiro do contribuinte que essa omissão representa, a ruptura do contrato social, protagonizada pelo próprio governo, obriga os cidadãos a mobilizarem-se em torno de demandas que acabam por sacudir as autoridades do seu sono letárgico.

Exemplos recentes dessa mobilização foram as manifestações públicas que resultaram na prisão do ex-governador do DF e de alguns Deputados Distritais e sua posterior cassação; o Projeto Ficha Limpa, empurrado goela abaixo de um Congresso apodrecido pela corrupção; e o boicote ao posto da 214 Sul, que já tem blog e página no Orkut.

Brasília tem uma classe média relativamente politizada e educada (no sentido da educação curricular formal), capaz de reagir citadinamente à omissão do Estado, e o faz eventualmente. Mas e o resto do País, repleto de pessoas pobres (e, portanto, sem voz), sem auto-estima e ignorantes dos seus direitos constitucionais? Essas populações enormes acumulam dores e frustrações todos os dias, sendo empurradas gradativa e consistentemente em direção à revolta, cuidadosamente dominada através da instilação diária do conhecimento da sua impotência -- divulgada pela TV através das decisões absurdas tomadas diuturnamente pelo Judiciário e pelo Legislativo contra a sociedade, com o apoio silencioso e ativo do Executivo, em todas as esferas.

Somente essa opressão psicológica separa as camadas mais pobres da sociedade brasileira da estupidez de uma guerra civil, em que os sem-privilégio formem fileiras contra os próprios agentes públicos, que recebem dinheiro da população para protegê-la, dar-lhe educação, saúde e dignidade, e que apropriam-se de tudo isso como se fosse coisa privada.

Todavia, estão instalados os elementos para o messianismo que cria sujeitos como Hugo Chávez, Khomeini, Fidel Castro e outros tiranos que, aproveitando-se de uma população iletrada e psicologicamente adaptada à opressão, realizam sua "revolução" pessoal para em seguida sangrar (literal e economicamente) a sociedade em benefício de seus egos. Esperemos que, no Brasil, esses sejam tempos idos.

Postado por Euni às 11:01 Nenhum comentário:

domingo, 16 de maio de 2010

Voz de Mulher

Desde que nasci
A voz da mulher
Me embala
Me alegra
Me faz chorar
Me arrepia os cabelos
Me faz dançar
Me cala ressentimentos
Me ensina a amar

Uma mulher cantando nas Antilhas
Uma voz de mulher nos rádios do Brasil
Minha mãe que cantava
Lembrança tão bonita
E as negras americanas
Dos hinos e dos blues

Amor, amor
Me leva esta voz
Nas asas das canções
Eu quero ouvir por toda a minha vida
Uma mulher cantando para mim


(Sueli Costa / Abel Silva, "Voz de Mulher")
Postado por Euni às 17:34 Nenhum comentário:

terça-feira, 11 de maio de 2010

Banalidade e tabu

Uma matéria publicada na Folha Online na noite de 10 de maio de 2010 chama atenção pela dupla qualidade da ocorrência relatada: sua banalidade e o tabu que a envolve. Eis a chamada, já com o link para a reportagem:

Pedreiro é preso em SP após discutir com a mulher e matar seu cachorro

Segundo a Secretaria da Segurança Pública, o pedreiro --que não teve o nome revelado-- discutiu com a mulher porque ela não o deixava dormir. Nervoso, ele atirou quatro vezes contra o cachorro da família.

Violência doméstica relacionada a brutalidade masculina constituem o lado já banalizado do cotidiano. O que não está na chamada nem na reportagem é, obviamente, o tabu.

Rompendo com alguns paradigmas que me são próprios (a autocensura por medo da repercussão negativa, para começar), resolvi tratar do assunto em tópicos. O que se discute, neste post, é um lado obscuro da violência contra a mulher. Aqui vai:

1) Além de não deixar o cara dormir, a pentelha ainda chamou a polícia pra prender o marido. Quem tem uma mulher assim não precisa ter inimigos.

2) Se a arma ficava no armário da casa, o que impedia a mulher ameaçada de morte de usá-la para também ameaçar o marido? Ou de entregar a arma à polícia? Ou de divorciar-se e ir embora pra longe do marido brutal, ameaçador, pobre e, talvez, até feio?

3) A reportagem não diz que o marido batia na mulher. Nenhuma testemunha declarou isso. A mulher diz que o cara é violento, mas não diz que usa de violência física contra ela. O cara perdeu a cabeça a ponto de atirar no cachorro e, se fosse um desses que ficam batendo em mulher, poderia ter batido ou atirado nela na ocasião, mas, pelo teor da reportagem, não o fez.

4) Pode-se até imaginar o que aconteceu: o pedreiro deixou transparecer alguma pista de relacionamento extra-conjugal, real ou não, ou parou de levar flores, ou ficou no bar até tarde, ou estava muito cansado pra fazer sexo, ou qualquer outro deslize; a mulher resolveu levar o sujeito à loucura falando sem parar; o cara começou a reclamar em voz alta que queria dormir; o cachorro (como acontece com qualquer cachorro) começou a latir feito louco durante a discussão em voz alta entre seus donos; o cara deve ter dito alguma besteira sobre o cachorro, a mulher disse que ele não era homem pra fazer aquilo, o idiota caiu na armadilha e provou que era homem e imbecil; e a mulher pôde vingar-se e dormir em paz.

5) Não faço a menor idéia de como seria exercida a plena justiça num caso cotidiano como esse (embora nem todos os casos tenham o mesmo clímax). Sei que meu comentário é politicamente incorreto e agride a mentalidade feminina mais ingênua e vai levantar protestos por parte dos "homens cordiais" que se borram de medo das mulheres. Vão dizer que eu defendo a agressão à mulher (não defendo), que eu sou machista (não sou), que provavelmente não sou um cavalheiro (sou sim) e que devo ter sido rejeitado por alguma mulher, o que me deixou traumatizado (pode até ser, sei lá). Mas há que se respeitar as diferenças entre os gêneros. A psique masculina é naturalmente agressiva, teve que ser, para proteger a espécie durante milhares de anos. A psique feminina é naturalmente ardilosa, em substituição à natural ausência de força física -- teve que ser, para proteger os filhotes contra criaturas cheias de manhas, como cobras, chacais, hienas, tigres, insetos e sabe-se lá o que mais, durante as prolongadas ausências dos homens em suas caçadas e guerras, por milênios e milênios, e mais ainda para fazer face à competição com outras mulheres. É fácil, para uma mulher, manipular um homem, e todo mundo sabe disso. Se uma mulher quiser, pode conduzir um ou um bando de homens docilmente, a vida inteira, na palma da mão. Se quiser, também pode levá-los a cometer as maiores bobagens, como a História está careca de demonstrar: é só usar os atributos naturais do homem contra ele mesmo. E isso é crime? Só quando o feitiço vira contra a feiticeira. Ou contra o coitado do cachorro, esse sim, desprovido de livre-arbítrio e incapaz de subtrair-se às forças primordiais da Natureza.

Postado por Euni às 14:44 Um comentário:

sábado, 8 de maio de 2010

Roriz de novo não

Ótimo Blog, com a biografia que realmente interessa e novidades sobre a probidade administrativa do ex-senador e ex-governador Joaquim Roriz.

http://rorizdenovonao.com.br/

Como o bendito Google-analytics não me deixa alterar o layout do meu próprio blog, vou por o link nesta postagem, por enquanto.
Postado por Euni às 23:09 Nenhum comentário:

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Armas

Contrariamente à vontade da população, as armas não foram legalizadas. Só é possível ter uma arma se ela ficar guardada em casa, mesmo que seja devidamente registrada pela Polícia Federal.

Quando fiz curso de tiro, na época em que existia autorização para o cidadão comum portar sua arma, o instrutor da PM dizia sempre que "lugar de arma não é em casa, não é no porta-luvas: é na cintura". Hoje não é mais assim, e o proprietário de arma é obrigado a deixá-la em casa -- só serve para inibir tentativas de invasão, e isso se você estiver em casa na hora. E pra causar acidentes com crianças, do tipo noticiado quase diariamente em algum lugar do país.

Numa sociedade como a nossa, em que o contrato social foi rompido há muito tempo pelo próprio governo, e onde há uma progressiva volta ao estado de natureza devido à assombrosa apatia do Estado, a arma é uma necessidade que se impõe para a segurança do cidadão.

Outro dia presenciei um latrocínio. Um senhor de 69 anos saiu do Banco do Brasil e foi baleado e morto por dois ladrões bem na minha frente, no gramado da quadra em que morava. Consegui, com o celular, fazer uma foto do ladrão na hora em que ele passou correndo por mim com o produto do roubo e a arma na mão, fugindo em meio a outros espectadores atônitos. A foto que fiz ficou bem centralizada: se fosse uma arma, ao invés de um celular, o sujeito não assaltaria mais.
Postado por Euni às 07:15 Nenhum comentário:

terça-feira, 20 de abril de 2010

Picadeiro Distrital

Em mais um espetáculo circense, a Câmara Legislativa do Distrito Federal elegeu um de seus pares para o mandato de governador-tampão.

Por determinação do ex-presidiário José Roberto Arruda, e com a fiel aquiescência da CLDF, eis o novo governador, Rogério Rosso, ex-diretor da Codeplan e companheiro de lutas de Joaquim Roriz e do próprio Arruda. Trata-se de um rosto que até agora não foi exposto nos vídeos da Operação Caixa de Pandora e que pode dar uma "cara limpa" ao crime organizado instalado na Administração Pública no Distrito Federal.

Eleito por seis dos personagens que aparecem nas famosas filmagens embolsando, encuecando e emeiando maços de dinheiro, Rosso conta ainda com o auxílio luxuoso do jornal "Correio Braziliense", que agora dedica-se a criar uma imagem imaculada do novo governador, afastando-o do seu impressionante currículo.

Depois do panetone, o circo. E o palhaço, quem é? Você e eu, nobre leitor, contribuinte, cidadão.

Postado por Euni às 15:39 Nenhum comentário:

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Ficha Limpa (2)

Na votação ocorrida na Câmara dos Deputados em 7/4/2010, posicionaram-se contra a aprovação imediata da Lei Ficha Limpa o PT, o PMDB, PP, PR e PTB, segundo informado pela Folha de S. Paulo e pelo Estado de S. Paulo.

A mesma reportagem declina ainda nomes de alguns dos deputados que pronunciaram-se contrariamente à aprovação do Projeto: o líder do PT na Câmara, deputado Fernando Ferro (PE) e o líder do PP na Câmara, deputado João Pizzolatti (SC).

No dia da votação, ontem, enviei um e-mail a cada um dos deputados federais da bancada do Distrito Federal, pedindo um posicionamento quanto ao assunto. O título da mensagem era o número do Projeto (PLP 518/09) e perguntava como o deputado iria votar. O deputado Rodrigo Rollemberg respondeu a favor do projeto. Quatro deputados apagaram o e-mail sem o ler: Rodovalho, Jofran Frejat, Laerte Bessa e Augusto Carvalho. Os demais (Alberto Fraga, Geraldo Magela e Tadeu Filipelli) não deram qualquer retorno.

O adiamento da votação faz com que o Projeto Ficha Limpa seja enviado à CCJ para emendas. Na prática, impede que a Lei seja implementada para as próximas eleições, e permite que os deputados modifiquem o texto, inserindo emendas que amenizem as restrições à eleição de políticos corruptos.

O presidente da Câmara, deputado Michel Temer (PMDB-SP), diz que se a CCJ não apresentar as emendas até o fim do mês, o PMDB "dará o número necessário de assinaturas para que o projeto siga em regime de urgência para votação no plenário". Você acredita nas boas intenções do deputado? Eu também não.

Devemos prestar atenção a esses senhores e aos seus partidos. Ao agir contra a vontade da população, favorecendo criminosos, perdem a legitimidade para representar os interesses da sociedade.



O que é o Ficha Limpa

O projeto PLP 518/09, de iniciativa popular, já tem mais de 1,8 milhão de assinaturas na defesa da sua aprovação. O projeto prevê veto aos políticos condenados em primeira instância por um colegiado de juízes e vale para uma lista de crimes, a maioria ligados à administração pública, como crimes contra o sistema financeiro, eleitorais, abuso de autoridade, patrimônio público e privado, lavagem de dinheiro -- além de outros como tráfico de drogas, racismo, formação de quadrilha e terrorismo.

O Ficha Limpa impede que os políticos renunciem aos mandatos com o objetivo de escapar de processos de cassação, e determina que devem ficar inelegíveis por até oito anos depois de cumprirem a pena estabelecida pela Justiça.

Postado por Euni às 07:32 Nenhum comentário:

terça-feira, 6 de abril de 2010

Intervenção x Eleições Indiretas no DF

Deu n' "O Estado de S. Paulo":

DF desvia R$ 107 mi de verbas federais, diz CGU

Auditoria constata 177 irregularidades, como pagamentos indevidos e superfaturamento, no período de 2006 a 2009

06 de abril de 2010 | 0h 00


...E Suas Excelências os Deputados Distritais ainda querem impor um de seus pares como governador-tampão até dezembro. Com dezenas de licitações fraudadas por dia; com as obras colossais em andamento nas rodovias do DF; com o desbravamento do Setor Noroeste e a construção da nova sede da CLDF, por exemplo, pode-se levantar uma verdadeira fortuna em superfaturamentos nesse período, às custas do sofrimento de quem procura -- e não acha -- atendimento hospitalar, remédios, educação e segurança pública.

As instituições do Distrito Federal estão minadas pela falta de seriedade e pela corrupção, e isso, obviamente, não será solucionado mantendo-se o status quo. Por outro lado, em caso de intervenção federal, haverá servidor público sério, honesto e suficientemente capaz para a tarefa hercúlea de limpar os estábulos em que se transformaram essas instituições?

Postado por Euni às 06:40 Um comentário:

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Ficha Limpa

Parabéns ao PV pela iniciativa pioneiríssima e histórica de adotar critérios que impeçam o ingresso de candidatos com "ficha suja" no partido. É um gesto de grandeza sem precedentes e que não passará despercebido à população brasileira, ansiosa por um Legislativo que afinal represente os cidadãos, os contribuintes e as famílias. Esperemos que os demais partidos e a Administração Pública de modo geral não tardem em despertar para a necessidade de eliminar-se das decisões nacionais aqueles cujos interesses não se coadunam com a legalidade, a moral, a ética, a ordem, o progresso e o bem-estar do povo brasileiro.

A adoção do Ficha Limpa tornou verde o meu coração de uma hora para a outra! Isso deve ter acontecido a milhões de brasileiros que viram a notícia. Se o PV puder demonstrar à população que tem condições de administrar com seriedade e força esse oceano de interesses pessoais que é hoje o Congresso Nacional, mantendo a governabilidade e a estabilidade institucional, social e econômica alcançadas por Lula, não há dúvida de que o partido superará o preconceito hoje enraizado em diversos segmentos populacionais que atribuem aos ativistas ecológicos um certo grau de imaturidade.

Se fizer isso, o PV conquistará os brasileiros que votam com base em análises mais amplas do que sentimentos pessoais. Se o fizer rapidamente, Marina será a próxima presidente do país.


Mexa-se

A Lei Ficha Limpa removerá das eleições candidatos que cometeram crimes sérios como desvio de verba pública, corrupção, assassinato e tráfico de drogas. Dia 7 de abril o Congresso irá finalmente votar o Projeto de Lei Ficha Limpa. Nós temos poucos dias para convencê-los a aprovar essa lei ousada, que promoverá avanços sem precedentes e mudará a política brasileira para sempre!

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Postado por Euni às 08:10 Nenhum comentário:
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