O milho derramava seu doce sabor amanteigado pelas frestas da tarde e Kate convidou-nos a jantar antes da chegada dos convivas. A pequena Cathy, ainda de camisola, encontrou rapidamente a sua espiga e acomodou-se sobre a grossa prancha de madeira escura que dava continuidade ao balcão de mármore da cozinha.
Kate não estava para conversa. Criticou os modos de Cathy, que instantaneamente retraiu-se mas não largou o milho. Chamou minha atenção para o fato de que "essa forma inculta de usar a língua inglesa" era insultante na Inglaterra e que eu "não devia por o rosto dentro da panela" porque isso não era higiênico. Disse que, aliás, meus hábitos não eram muito saudáveis, já que minha toalha e a de Cathy ainda estavam, molhadas, largadas sobre a cama, e minhas calcinhas estavam expostas à execração pública, estendidas no varal no fundo do espaçoso quintal. Que tipo de mulher expunha despudoradamente sua intimidade daquela forma?
Eu quis argumentar que todo mundo estendia suas roupas nos quintais, já que queriam que elas secassem, e que eu não podia tirar o milho da panela sem olhar o que estava fazendo, mas isso só alimentou a fúria de Kate, que passou a admoestar-me, o rosto vermelho de raiva, uma mão na cintura delgada e forte, enquanto a outra descrevia arabescos de prata com o garfo no ar, a voz dançando uma coreografia cada vez mais perigosa, enquanto eu me assustava sem tirar os olhos das cintilações do garfo.
Desesperada de terror, saltei para adiante e a abracei, imobilizando o brilho da prata, e as nossas respirações se fundiram, seu coração apoiou-se no meu e Kate começou a chorar, e não sei o que ela dizia, mas mal tentava libertar-se do meu abraço de camponesa, a voz agora um fio de amargura e tristeza. Eu só conseguia dizer "nós não, Kate, nós amamos você, nós amamos você", e com cuidado trouxe sua cabeça para o meu colo, e naquele abrigo a menina saiu da prisão da mulher, e Kate derramou as lágrimas represadas de sua tristeza, lágrimas demais para seus poucos vinte anos. (continua)
Kate não estava para conversa. Criticou os modos de Cathy, que instantaneamente retraiu-se mas não largou o milho. Chamou minha atenção para o fato de que "essa forma inculta de usar a língua inglesa" era insultante na Inglaterra e que eu "não devia por o rosto dentro da panela" porque isso não era higiênico. Disse que, aliás, meus hábitos não eram muito saudáveis, já que minha toalha e a de Cathy ainda estavam, molhadas, largadas sobre a cama, e minhas calcinhas estavam expostas à execração pública, estendidas no varal no fundo do espaçoso quintal. Que tipo de mulher expunha despudoradamente sua intimidade daquela forma?
Eu quis argumentar que todo mundo estendia suas roupas nos quintais, já que queriam que elas secassem, e que eu não podia tirar o milho da panela sem olhar o que estava fazendo, mas isso só alimentou a fúria de Kate, que passou a admoestar-me, o rosto vermelho de raiva, uma mão na cintura delgada e forte, enquanto a outra descrevia arabescos de prata com o garfo no ar, a voz dançando uma coreografia cada vez mais perigosa, enquanto eu me assustava sem tirar os olhos das cintilações do garfo.
Desesperada de terror, saltei para adiante e a abracei, imobilizando o brilho da prata, e as nossas respirações se fundiram, seu coração apoiou-se no meu e Kate começou a chorar, e não sei o que ela dizia, mas mal tentava libertar-se do meu abraço de camponesa, a voz agora um fio de amargura e tristeza. Eu só conseguia dizer "nós não, Kate, nós amamos você, nós amamos você", e com cuidado trouxe sua cabeça para o meu colo, e naquele abrigo a menina saiu da prisão da mulher, e Kate derramou as lágrimas represadas de sua tristeza, lágrimas demais para seus poucos vinte anos. (continua)
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