Às 16:36 da segunda-feira recebo um telefonema macabro do meu cliente: o documento que protocolei na sexta-feira junto a um órgão público continha um erro primário -- errei no extenso de um número, o que prejudicava o objetivo do documento inteiro. Digo que posso corrigir e o cliente pergunta:
- Dá pra protocolar novo documento, com a correção, ainda hoje?
- Dá. (afirmação temerária, já que eram 16:40 e os guichês de protocolo fecham às 17:00h, eu estava a vários quilômetros de distância do órgão e estava começando a hora do rush em Brasília).
Assim mesmo, e com vontade de me matar por causa do erro estúpido, procurei legislação e jurisprudência pra embasar novo documento, fiz as alterações cabíveis e... cadê cartucho de tinta pra imprimir o documento? Entupiu ou acabou, sei lá. A moderníssima impressora não imprimia nada.
Pus tudo no pendrive, entrei no carro e parei em frente à papelaria que, infelizmente, não podia imprimir, mas indicou a lan house do outro lado da rua (embaixo do meu prédio) pra fazer o serviço. Deixei o carro na papelaria, cruzei a rua em pleno rush, quase trombei numa moto, mas consegui chegar à lan house. Impresso o documento, perguntei: quanto é? - Dois e quarenta, responde o uruguaio bonachão. Reviro a carteira e só encontro dois Reais. A lan não recebe em cartão. Abro um sorriso amarelíssimo e pergunto: - Posso ficar devendo quarenta centavos? O homem diz que sim, saio correndo até a o trabalho da Yenny pra pedir um Real pra fazer uma fotocópia para protocolo. Por sorte tinha. Corro de volta à papelaria, faço uma cópia do documento, entro no carro, corro para o órgão público às 17:05h, sem a menor esperança de poder cumprir a promessa feita ao cliente.
Hora do rush. Carro que não acaba mais. Atormentado pelo erro idiota, não cesso de me perguntar "por que isso acontece?" Lembro que fiz o documento às pressas, no escritório do cliente, usando o PC dele, com mil interferências, documentos espalhados por toda parte, senhas pra abrir o PC e a impressora a cada cinco minutos. Só fico mais exasperado. Resolvo evitar o Eixo Monumental, dou a volta no autódromo e chego ao órgão por trás, pelas 17:20h. Estaciono, corro até a portaria, identifico-me ao recepcionista e nenhum elevador está funcionando. Subo até o quarto andar pelas escadas; 17:35 e, pra minha alegria, o guichê está aberto! Pergunto se posso protocolar um documento e a moça diz que sim! Carimbo vai, assinatura vem, pronto! Vejo na minha via do documento que errei uma data de referência. Pergunto no guichê se posso imprimir de novo a primeira página nos computadores da seção. E não é que o cidadão diz que sim?
- Tá com o pendrive aí?
- Tô.
Bolso da camisa. Bolso da calça. Outro bolso. Bolsos de trás. Abro a pasta e procuro. Tiro da pasta tudo o que tem dentro e nada do pendrive. Me desespero. Não continha documentos confidenciais, mas era o último pendrive que me restava. Além disso, preciso dele pra arrumar essa bagunça aqui.
Faço uma rasura no documento e digo que vou procurar o pendrive no carro. Ponho tudo de volta na pasta e desço as escadas correndo. No carro, nem sinal do pendrive. Volto à papelaria na 113 Norte. Nada. Corro até a lan house. Nada. Pago os quarenta centavos e volto desolado pro carro, quando vejo, no chão do estacionamento, diante da papelaria, ao lado do pneu de um carro, quem? quem? o pendrive!!! E intacto!!! Não acredito!!!!!!!
Corro de volta ao órgão, 18:30 já. Estão lá me esperando, e já haviam ligado para o telefone impresso no papel timbrado do meu cliente, à minha procura, e no escritório do cliente ninguém me conhecia.
- Mas me ligaram por quê?
Não é que eu tinha posto na minha pasta todo o material escolar e os trabalhos da faculdade da atendente? Mil desculpas depois, imprimi o documento, protocolei-o e voltei pra casa.
É devastador perceber que o Universo inteiro conspira a meu favor em pleno final de segunda-feira -- e que eu faço questão de avacalhar tudo.
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2 comentários:
Não deixe de escrever, vc tem um estilo de crônica muito leve, engraçado, mesmo quando a situação se apresenta trágica !
Rapaz, eu sempre acesso o teu blog quando entro na web, afim de encontrar mais uma dessas crônicas urbanas! Em vários sentidos, é um ambiente bastante enriquecedor.
Um grande abraço
Bush
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