Lembro de ouvir Beethoven, vibrante, colérico, terrível, na radiola ABC Canário, enquanto olhava sua foto na parede do corredor com aquele cabelo despenteado, a carranca que aprendi a amar. Mozart, Liszt, Dvorak, Handel, Nelson Gonçalves, Chopin e Roberto Carlos moravam na sala de estar. Minha tia tocava música italiana no acordeon. Meu tio dedilhava Dilermando Reis no Di Giorgio lustroso, com cheiro de madeira boa, caprichando nas posições que lhe permitissem fazer com os dedos algum gesto que me divertisse. Desde pequeno diferencio um Del Vecchio de um Giannini só de ouvir tocar.
Numa manhã, dessas manhãs cheias de luz (aaaahhh vocês tinham que ouvir essa) acordei de um sonho feliz, ainda ouvindo meu pai cantar uma de suas canções favoritas:
Sul mare luccica, l’astro d’argento
Placida è l’onda,
Prospero è il vento.
Venite all’agile, barchetta mia,
Santa Lucia, Santa Lucia!
Comentei isso com ele pelo telefone, e rememorei o cheiro metálico do es

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