quarta-feira, 9 de março de 2011

A Física e o Caos


Recentemente, o playboy socialista muçulmano árabe africano (isso mesmo) Muamar Kadafi protagonizou, ou foi levado a protagonizar, uma sequência de eventos que parece um padrão primoroso de organização:
  1. Após vinte anos de invisibilidade concedida pela imprensa internacional, o nome de Kadafi volta aos jornais, sem qualquer menção ao PanAm 103 ou ao Iran Air 655;
  2. Pouco tempo depois de sua desinvisibilização, Kadafi deixa de ser referido no noticiário como "presidente", passando a receber o título de "ditador", simultaneamente em todos os veículos de comunicação;
  3. Na esteira das revoltas populares árabe-africanas, a Líbia entra em guerra civil e torna-se alvo da atenção mundial, enquanto o choque de realidade  causa divisão entre os apoiadores do regime, ensaiando atingir até os filhos do ditador, que viveram mergulhados na ideologia da dominação durante toda a sua vida e que, durante a crise, passam a trocar acusações, na tentativa de salvar o pescoço do pai e, por conseguinte, os seus próprios;
  4. Em seguida, os EUA retiram seu apoio ao dirigente líbio, seguidos por diversos países europeus e finalmente pela ONU, ajudando a Inglaterra e a OTAN a livrarem-se de um incômodo aliado, há muito tempo cravado em suas gargantas;
  5. De dentro dos seus quartéis, Kadafi continua a lutar, se não tanto pelo poder, agora pela própria pele, esbravejando contra os clãs inimigos e contra o colonialismo estrangeiro, assustado pelos fantasmas de Nicolae Ceausescu e de Saddam Hussein, exemplos claros do fogo e da frigideira.
Isso não parece obra do acaso, embora a relação entre os levantes desencadeados pela auto-imolação do engenheiro tunisiano Mohamed Buazizi e a Líbia pareça equilibrar-se entre as leis de Newton e a Teoria do Caos. Apesar de essas revoltas populares terem sido o pano de fundo para as subsequentes preocupações de Kadafi, a sequência dos eventos aponta para inteligência, método, sistema e ordem. É possível perceber o mesmo padrão aplicado, por exemplo, aos casos de Zine Ben Yali e de Hosni Mubarak, apenas com as diferenças características das respectivas personalidades.

Quem terá virado para baixo o poderoso polegar que moveu a imprensa mundial e deu o sinal para que governos, governantes, astros da música pop, organizações supranacionais e alianças militares negassem Kadafi por três vezes e o abandonassem à própria sorte?

Kadafi em meio a líderes regionais, em outubro de 2010

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