Mas, com sua imagem ligada ao cenário político e à corrupção protagonizada por homens (e mulheres) públicos daqui e dalhures, Brasília sofre com o preconceito de uma parte expressiva da população do país.
No post transcrito a seguir, a jornalista comemora um batismo, uma purificação iniciada com a prisão do governador Arruda e de oito de seus auxiliares. O texto de Conceição cai como uma chuva leve e cintilante de fim de tarde, com sol e bem-te-vis, sobre os extensos gramados da cidade.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010 - crônica da cidade
Brasília Brasil
- do Blog da Conceição
"A decisão do STJ, de prender o governador José Roberto Arruda, merece ser celebrada, dure o tempo que durar. Ela tem um sentido simbólico do qual Brasília jamais se esquecerá. Mais do que um presente aos 50 anos da cidade, o melhor deles, a decisão do Superior Tribunal de Justiça tem um sentido muito maior. Não apenas o de avançar no saneamento da vida pública brasileira. A decisão do STJ dá um passo inédito na aproximação do Brasil com sua capital.
O pedido de intervenção federal em Brasília que seria feito pela Procuradoria-Geral da República, caso aconteça, será a confirmação de que a cidade nascida de um gesto de bravura e genialidade brasileiras passa a receber o que sempre mereceu e nunca teve: o reconhecimento do país. Claro que a corrupção deve ser combatida com igual rigor em Rio Branco ou em Palmas, no Rio de Janeiro ou em Belém do Pará.
Brasília, porém, é mais do que uma capital da federação. Ela é a cidade que representa todo o país. E foi criada com o que de melhor o Brasil possuía, à época, no campo da liderança política, da capacidade administrativa, da capacidade criadora e da força e valentia física. Ela é uma conquista brasileira e o Brasil não sabe disso. O Brasil estranha Brasília, desconhece, tem preconceito, mistura o território político com a imensidão de cidade que abriga, contando o Entorno, 4 milhões de brasileiros. A decisão vigorosa da Justiça lava a alma de Brasília que tem estado tão amargurada, tão descrente, tão envergonhada.
Mesmo se agora, quando o leitor percorre esta crônica, o panorama tenha mudado, o gesto já marcou a história da cidade. A sensação é a de que alguém olha por nós. De que Brasília não está à deriva. E que a indignação nacional surtiu efeito.
Pode ser que todos os acontecimentos desta quinta-feira, até o momento em que escrevo, sejam apenas uma miragem. Pode ser que hoje, sexta, tudo volte a ser como antes — são muitos, intrincados e misteriosos os motivos que movem os homens públicos. Mas a decisão do STJ pode ter outra consequência, a de reativar no brasiliense o orgulho por sua cidade.
Desde o estouro de Pandora, tenho ouvido e lido confissões de desalento, mesmo de quem cultivou ao longo dos últimos 50 anos uma paixão comovente por esta cidade. Gente que se pergunta, afinal, se gosta mesmo de Brasília. Brasilienses que não sabem mais onde ancorar a sua admiração pela capital, tantas são as suas facetas deploráveis.
Não será uma prisão que vai recuperar a salubridade do ar que se respira nos meandros do poder em Brasília. Mas que é um bom começo, lá isso é. Dá pra gente até pensar que nossos netos um dia podem habitar uma cidade melhor e mais limpa num país que se orgulhe de tê-la construído — tão bela, tão única".
- do Blog da Conceição
"A decisão do STJ, de prender o governador José Roberto Arruda, merece ser celebrada, dure o tempo que durar. Ela tem um sentido simbólico do qual Brasília jamais se esquecerá. Mais do que um presente aos 50 anos da cidade, o melhor deles, a decisão do Superior Tribunal de Justiça tem um sentido muito maior. Não apenas o de avançar no saneamento da vida pública brasileira. A decisão do STJ dá um passo inédito na aproximação do Brasil com sua capital.
O pedido de intervenção federal em Brasília que seria feito pela Procuradoria-Geral da República, caso aconteça, será a confirmação de que a cidade nascida de um gesto de bravura e genialidade brasileiras passa a receber o que sempre mereceu e nunca teve: o reconhecimento do país. Claro que a corrupção deve ser combatida com igual rigor em Rio Branco ou em Palmas, no Rio de Janeiro ou em Belém do Pará.
Brasília, porém, é mais do que uma capital da federação. Ela é a cidade que representa todo o país. E foi criada com o que de melhor o Brasil possuía, à época, no campo da liderança política, da capacidade administrativa, da capacidade criadora e da força e valentia física. Ela é uma conquista brasileira e o Brasil não sabe disso. O Brasil estranha Brasília, desconhece, tem preconceito, mistura o território político com a imensidão de cidade que abriga, contando o Entorno, 4 milhões de brasileiros. A decisão vigorosa da Justiça lava a alma de Brasília que tem estado tão amargurada, tão descrente, tão envergonhada.
Mesmo se agora, quando o leitor percorre esta crônica, o panorama tenha mudado, o gesto já marcou a história da cidade. A sensação é a de que alguém olha por nós. De que Brasília não está à deriva. E que a indignação nacional surtiu efeito.
Pode ser que todos os acontecimentos desta quinta-feira, até o momento em que escrevo, sejam apenas uma miragem. Pode ser que hoje, sexta, tudo volte a ser como antes — são muitos, intrincados e misteriosos os motivos que movem os homens públicos. Mas a decisão do STJ pode ter outra consequência, a de reativar no brasiliense o orgulho por sua cidade.
Desde o estouro de Pandora, tenho ouvido e lido confissões de desalento, mesmo de quem cultivou ao longo dos últimos 50 anos uma paixão comovente por esta cidade. Gente que se pergunta, afinal, se gosta mesmo de Brasília. Brasilienses que não sabem mais onde ancorar a sua admiração pela capital, tantas são as suas facetas deploráveis.
Não será uma prisão que vai recuperar a salubridade do ar que se respira nos meandros do poder em Brasília. Mas que é um bom começo, lá isso é. Dá pra gente até pensar que nossos netos um dia podem habitar uma cidade melhor e mais limpa num país que se orgulhe de tê-la construído — tão bela, tão única".
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