quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Delicada

Afrouxando seu abraço gelado, a água acariciava-me por inteiro à medida que eu avançava lentamente para a superfície, por entre asteróides luminosos que subiam dos seixos espalhados no fundo do rio, os pulmões ansiosos por ar, os olhos ansiosos por mais beleza.

Na pequena trilha, a luz, caindo do céu aos jorros, estatelava-se de encontro às folhas mais altas e respingava para todos os lados; e, se não era suficiente para aquecer minha pele, inundava minha mente com cores, formas, texturas, perfumes e sons, ao estalar, metamorfosear-se, roçar-me, recender e mimetizar a alma do planeta de encontro à minha.

Bendita seja a Terra, que me afaga como se tanta grandeza não fosse nada.

. . .

És menina do astro sol
És rainha do mundo mar
Teu luzeiro me faz cantar
Terra, Terra és tão estrelada

O teu manto azul comanda
Respirar toda criação
E depois que a chuva molha
Arco-íris vem coroar

A floresta é teu vestido
E as nuvens, o teu colar
És tão linda, ó minha Terra
Consagrada em teu girar

Navegante das solidões
No espaço a nos levar
Nave mãe e o nosso lar
Terra, Terra és tão delicada

Os teus homens não tem juízo
Esqueceram tão grande amor
Ofereces os teus tesouros
Mas ninguém dá o teu valor

Terra, Terra eu sou teu filho
Como as plantas e os animais
Só ao teu chão eu me entrego
Com amor, firmo tua paz

(Milton Nascimento e Marcio Borges, "Estrelada")

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente muito bonito o seu texto ! Você tem o dom da palavra poética!