segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Combustão total

Um artigo de Guilherme Genestreti na "Folha Online" de hoje trata de um transtorno relacionado ao trabalho, ao qual deu-se o nome de "burn out" (combustão total, em inglês). 

O fenômeno é objeto de pesquisa pela ISMA (International Stress Management Association), definida em seu website como "a mais antiga e respeitada associação internacional sem fins lucrativos voltada à pesquisa e ao desenvolvimento da prevenção e do tratamento do stress no mundo".

Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress e professora de psicologia da PUC-Campinas, citada no artigo, assim descreve o transtorno: "É a doença dos idealistas. O 'burn out' é um desalento profundo, ataca pessoas dedicadas demais ao trabalho, que descobrem que nada daquilo pelo que se dedicaram valeu a pena."

A professora alerta que a apatia gerada pelo "burn out" pode sugerir depressão ou síndrome do pânico, dificultando o diagnóstico. O transtorno também não deve ser confundido com estresse: "O estresse tem um componente biológico forte, ligado a situações em que o corpo tem de responder ao perigo. Já o 'burn out' é um estado emocional em que a pessoa não sente mais vontade de produzir. Quem apresenta exaustão emocional, não se envolve mais com o que faz e reduz as ambições pode estar sofrendo do transtorno."

O "burn out" não é uma coisa de mariquinhas. Muita gente raçuda, valente e perfeccionista conheceu momentos kafkianos em que considerou que o trabalho mereceu de si um nível de atenção incompatível com os reflexos desse esforço em sua vida pessoal. O transtorno parece vitimar justamente os que nunca dizem não a um desafio e que não se contentam com resultados meramente satisfatórios.

Ainda segundo o artigo da Folha, Marilda Lipp diz que, além de psicoterapia e antidepressivos, recomendados para minimizar os sintomas, o tratamento deve incluir uma reavaliação do papel do trabalho na vida da pessoa: "aprender a dizer não quando não tem condições de executar algo e reconhecer o próprio valor, mesmo que outros não o façam."

Problemático mesmo é convencer os "burnt out" a fazer isso. Comentei o artigo com um amigo que se define como "ex-workaholic" e que se encontra atualmente em uma fase difícil da carreira. A reação do sujeito foi: "ainda bem. Pensei que eu tivesse ficado preguiçoso".

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