"Um dos sete integrantes do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) do Distrito Federal, que vai analisar no fim da tarde de hoje o pedido de cassação do governador afastado e preso, José Roberto Arruda (sem partido), já fez parte do governo do ex-democrata.Em janeiro de 2007, antes de chegar ao tribunal, o jurista Raul Sabóia foi nomeado por Arruda para ser chefe da Procuradoria Jurídica da Caesb (Companhia de Saneamento Ambiental) e, em agosto de 2008, foi empossado no TRE. Segundo interlocutores, Sabóia também trabalhou na campanha de Arruda ao governo local em 2006.
Sabóia afirmou à Folha Online que pretender participar do julgamento no qual o TRE vai decidir se Arruda deve ou não perder o mandato por ter deixado o DEM, após as denúncias do esquema de arrecadação e pagamento de propina.
Questionado se sentia à vontade para participar do julgamento, o desembargador avisou que não daria entrevista. 'Eu vou participar deste julgamento. Agora, não vou dar entrevista'." (Folha Online, 17/03/2010)".
terça-feira, 16 de março de 2010
A Besta faminta
Prendeu-se o governador do DF, por tentar subornar uma testemunha de sua improbidade. Para sucedê-lo no governo, a regra impunha o Presidente da Câmara Legislativa do DF, Deputado Leonardo Prudente, aquele do dinheiro na meia. Embora também preso, o Deputado quis assumir. Não foi permitido. Assumiu então o vice-Governador, Paulo Octavio, apenas para renunciar em seguida, diante da pressão popular, revoltada com as suspeitas que o cercam. Acéfala, a Câmara Legislativa elegeu novo presidente, o qual, automaticamente, passou a ser o novo governador, iniciando imediatamente uma maratona de contratações de correligionários, à fantástica velocidade média de DUAS CONTRATAÇÕES SEM CONCURSO POR HORA, segundo reportagem da Folha de S. Paulo.
Outra reportagem da Folha informa:
O Distrito Federal é governado por uma eficiente organização que, infelizmente, não tem como prioridade o interesse público. Age em benefício próprio e sob a forma de uma vasta rede de autoproteção e, pelo que é divulgado nos jornais, possui ramificações e seguidores mais ou menos fiéis em todos os poderes constituídos, em todos os escalões. Seu habitat são os gabinetes de portas fechadas, as licitações, as repactuações e prorrogações contratuais, as nomeações e as campanhas. Ela alimenta-se da falta de medicamentos, da falta de leitos e do atendimento desumano nos hospitais públicos; bebe na perpétua carência de recursos do ensino primário e médio; respira o ar tóxico do crime solto nas ruas graças à indulgência estendida também ao criminoso sem colarinho; e cospe cinismo e ironia no prato onde comeu.
Corta-se-lhe uma cabeça e surgem várias no lugar, todas vorazes e venenosas, petrificando a tudo e a todos com o fausto ostentado à custa das vidas ceifadas por falta de hospital, de escola e de segurança pública.
A única maneira de abater-se uma tal besta é negar-lhe alimento, bebida e ar. A maneira de negar-lhe tudo isso é jogar luz sobre os recônditos subterrâneos onde vive o seu coração -- o coração coletivo dos homens sórdidos que, com o tempo, usurparam, lenta, segura e inexoravelmente, o lugar dos homens públicos.
Entretanto, tomar-lhe o prato não é tarefa destituída de riscos pessoais: sua vingança contra o cavaleiro solitário será temível, célere e executada com o máximo rigor da Lei.
O corpo amorfo da massa de contribuintes que acredita no contrato social precisa tomar forma. Mas não a forma anárquica, letal, das revoluções. Basta ir à praça, à TV, aos jornais, e produzir o máximo de luz que puder. Isso não expurgará definitivamente do serviço público os sem-caráter, os inumanos, os lobos em pele de cordeiro. Mas mostrará a esses párias que a vaquinha mansa e tetuda tem dono bravo e vaqueiro vigilante. Assim corta-se as patas da hidra monstruosa e ela poderá rugir, cuspir fogo e veneno; mas então não mais poderá levantar-se para caçar. A besta é grande, feia e forte, mas não é invencível.
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