quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Fora da ordem

Manchetes de hoje (22/10/2009) na Folha de S. Paulo:
  • "Menino de 13 anos é detido pela 12ª vez em São Paulo"
  • "PMs que liberaram assassinos do coordenador do Afroreggae cumprem prisão disciplinar"
  • "Concurso para garis atrai 22 mestres e 45 doutores no Rio"
  • "Escola pública de São Paulo cobra de aluno para fazer prova e vende uniforme"
  • "No Brasil, Cristo teria que se aliar a Judas, diz Lula"
Quem lê jornal, ouve rádio ou vê televisão sabe que os temas tratados nessas reportagens constituem, há muitos anos, o cotidiano de qualquer um dos 26 estados brasileiros e do Distrito Federal. A frouxidão das leis protege e garante a impunidade a criminosos desde tenra idade; não se pode confiar na polícia; não há trabalho para profissionais especializados; a massa de desonestos no serviço público distorce as políticas públicas e obriga os não-tão-desonestos a firmar verdadeiros pactos com o demônio para sobreviver.

Os leitores, ouvintes e telespectadores também sabem que isso tudo não é privilégio do Brasil; há gente ruim e desonesta espalhada pelo mundo todo, prejudicando o avanço da Humanidade de modo geral; uma classe de subumanos de índole pérfida, que aproveitam-se do acidente que lhes deu um cérebro inteligente para dar largas à sua natural inumanidade.

Entretanto, alguns países conseguiram em muitos casos refrear o instinto selvagem dessas semi-bestas travestidas de seres humanos; e têm punido aos que insistem em dar vazão a seu lado menos humano e mais bestial.

Alguns exemplos de sucesso são bem conhecidos: Nova York já foi a cidade mais violenta e insegura do mundo, até o dia em que um prefeito decidiu que a tolerância ao crime, qualquer crime, deveria ser zero -- e, a partir daí, a cidade voltou a ser um lugar onde se pode andar pelas ruas ou abrir negócios.

Na Grécia, um promotor sério pôs de joelhos os atrozes ditadores que massacraram seus próprios compatriotas a partir do golpe de estado de 1967.

No Japão, a tradição da honra leva corruptos ao suicídio quando são denunciados ou descobertos e, portanto, desonrados.

Nós brazucas somos provavelmente o povo mais complacente do mundo: os criminosos da ditadura militar foram anistiados e ficaram a salvo de qualquer julgamento justo ou imputação de responsabilidade; acolhemos oficialmente outros genocidas como o general paraguaio Alfredo Stroessner, que morreu feliz, rico e impune em sua mansão no Lago Sul, em Brasília; protegemos bandidos estrangeiros contra as decisões da justiça dos seus respectivos países, como no caso do terrorista italiano Cesare Battisti; e, aqui, gente ruim pode fazer o que lhe der na telha até completar dezoito anos de idade, enquanto aprende como fazer isso depois dos dezoito.

Será que o terror imposto pela ditadura militar no Brasil fez com que nos tornássemos tolerantes com o crime, lenientes com a corrupção, cegos ao absurdo de distorção que é o serviço público no Brasil? Perdemos completamente a capacidade de reagir, por sobre as gordas papadas das "autoridades", contra aquilo tudo que avilta a nossa vida e nos avermelha a cara de indignação?

Quando levanto essas questões, sinto que eu também deveria tomar uma atitude para conquistar terreno às quadrilhas de bestas-feras que tomaram à força o nosso lugar. Mas me sinto impotente. Onde estão os que ainda têm capacidade para indignar-se? Onde estão os que ousariam enfrentar o poder dos fantoches armados e defendidos pelos Monseigneurs de toga?

E, o pior: quem me garante que não sairia, dentre esses possíveis defensores da Humanidade, um novo Robespierre, um novo Fidel Castro, um novo Khomeini?

Insisto em afirmar que a desonestidade e o crime no Brasil têm jeito; muito embora eu não tenha, até agora, conseguido demonstrar essa tese com solidez.

Algo parece estar fora da ordem, defeituoso, até mesmo sem uma nova ordem mudial.

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