segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Beleza


“O espetáculo dessa uniformidade universal me
entristece e me gela, e sou tentado a ter saudades da sociedade que não mais
existe. É natural que o que mais satisfaz os olhares desse criador e desse
conservador dos homens não é absolutamente a prosperidade singular de alguns,
mas o maior bem-estar de todos; o que me parece uma decadência é, portanto, a
seus olhos, um progresso; o que me magoa, lhe agrada. A igualdade é menos
elevada, talvez, porém é mais justa, e essa justiça faz sua grandeza e sua
beleza. Procurei então me erguer até essa altura da contemplação divina, para
daí olhar e julgar os cuidados e as penas dos homens”

TOCQUEVILLE, 1989, p. 363).


A Beleza pode caminhar ao nosso lado por um caminho bucólico, iluminando a noite como se fosse a Lua; pode rir e encher de cor o dia; dar-nos um beijo e uma carícia. Ou pode caminhar adiante, sem esperar, para demonstrar dúzias de coisas ou sabe-se lá o quê.

Não há diferença entre a beleza que anima e a beleza que fere: um dia serão a mesma Beleza, para o bem ou não. Aquela mesma Beleza volta e caminha ao nosso lado, e seu perfume fere a noite; seu silêncio acinzenta o dia. Ela nada demonstra, e é o reverso do Amor:

C’est une chanson, qui nous ressemble
Toi tu m’aimais et je t’aimais
Nous vivions tous, les deux ensemble
Toi que m’aimais moi qui t’aimais
Mais la vie sépare ceux qui s’aiment
Tout doucement sans faire de bruit
Et la mer efface sur le sable les pas des
amants désunis.
(Jacques Prévert)

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