Quando comprei minha primeira máquina de lavar louça, ela era toda branquinha, branquinha. Após anos de uso intensivo, foi preciso deixá-la na assistência técnica para substituição de uma válvula e, dias depois, quando a fui buscar, fiquei surpreso ao notar que queriam devolver-me uma máquina de lavar com a porta amarela. "Não é essa a minha máquina!", objetei. "Minha máquina é toda branca, não tem essa tampa amarela".
Pacientemente, o técnico explicou-me que aquela era, sim, a minha máquina: o tempo e a água quente haviam-se encarregado de mudar a cor do polímero de que é fabricada a porta.
Hoje percebi que a porta da minha segunda máquina de lavar também mudou de cor. O tempo e as provações mudam qualquer coisa, incluindo-se aí as máquinas e as pessoas. Pais, esposos, quem se afeiçoa e convive não percebe as mudanças lentas, diárias, sutis e implacáveis -- e o objeto que vemos diariamente e a cuja imagem ideal nos afeiçoamos permanece para sempre igual na nossa mente, por mais que os olhos insistam em mostrar coisa diversa. Nosso ideal permanece imutável e não há realidade que o subverta. E isso nos faz felizes para sempre. (Claro que também existe aquilo ou aqueles que mudam para melhor.)
Mas as máquinas de lavar louça também explicam o motivo pelo qual é possível amar um ditador ou um político desonesto: quem o ama comprou sua aparência inicial e não o viu mudar; e o enxerga imaculado. Somente o distanciamento, ou o desamor, pode mostrar as marcas das horas e as cicatrizes dos eventos.
É por isso que, em política, amar é pernicioso.
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