Quarta-feira, 9 de julho de 2008, 17:29:38
Tycho-1, órbita 19 de Syrrah, constelação de Andrômeda
Sozinhos no meio do deserto inundado de luz, eu e Bam, em forma simbiótica, esperamos.
Uma doce voz nos chama a atenção no alto da colina onde fica o bunker: Bam abre um enorme sorriso ao reconhecer a armadura amarela da sua mãe, que acena lá de cima com uma serenidade que não é sua. Instantaneamente interrompo as cambalhotas de alegria de Bam, gritando na sua mente: “Cuidado! Não é ela!”
Bam para, estarrecido: “É ela, sim, papai. Veja a armadura!” Eu perco o contato. Mas, enquanto Bam escala o morrinho, o chão na face esquerda da colina produz pequenos estalidos e começa a rachar, e ele acha estranho que sua mãe ative uma armadilha de aproximação para ele. E para, olhando para o local das nanogarras e para o sorriso sereno de sua mãe por trás da máscara. Resolve descer, lentamente, de costas. Retomo o contato.
Verificamos que há uma porta de acesso ao bunker, no sopé da colina, e pedimos a ela que abra. A porta emite um clique e abre, mas não há ninguém do outro lado. Do corredor disparamos imediatamente para fora em fuga veloz, Bam no controle.
O local exterior é o Jardim das Mimosoideae, e corremos rua abaixo até encontrarmos um portão aberto. Pela lateral da casa atingimos os fundos, onde um garotinho brinca enquanto sua mãe observa pela janela. Surpresa com a nossa presença, levanta as sobrancelhas, mas a tranqüilizamos: somos Bam e seu pai, vizinhos da casa logo acima. Pedimos permissão para nos escondermos enquanto ligamos para o nosso pai. Ela faz que sim com a cabeça. Colamos no chão e ficamos observando a rua pela fresta do portão, mas ninguém nos seguiu. Dou o comando de voz no telefone: “Pai”. Nesse momento, a dona da casa diz: “Neer”; e eu vejo meu mano chegar ao início da rua na DW4500. Interrompo a ligação pra o Pai e ligo para ele, mas ele não atende. “Barulho da moto, capacete e roupa de couro”, pensei eu. Levanto e grito para ele, deixando a forma simbiótica, mas ele só me vê quando já está estacionando a moto na entrada da nossa casa. Chamo-o urgentemente, e ele desce da moto juntamente com Marg e Boosh (que se apresenta num formato novo) e os três correm na nossa direção.
Relato o que aconteceu, e nos encaminhamos juntos para a casa. Aviso a Bam, que está com os olhos arregalados: “Não é ela”. E ele argumenta: “Mas, papai, é ela, você não viu”? E eu respondo: “Não é ela, filho”. Ele fica quieto e se protege atrás de nós.
Abrimos a porta da frente e entramos. Kalii está nua na sala, andando lentamente de quatro, de forma coleante, com um ar de sensualidade no rosto, que não abandona quando entramos. Aquele olhar vago não combina com sensualidade e nada daquilo combina com o momento, então a imobilizo no chão. Busco sufocá-la com o saco plástico que está em sua cabeça, e ela só percebe a falta de oxigênio muito tempo depois que uma pessoa comum já teria desmaiado. Busco as cicatrizes da cirurgia nos seios, e não as vejo. A pele parece a dela, tem o mesmo brilho, mas é mais clara e muito mais lisa, com microescamas, como o tecido das roupas de natação de última geração.
Onde está Bam? Preciso protegê-lo. Essas pessoas são realmente meus irmãos? Como confiar em alguém, num mundo em que é tão fácil reproduzir outra pessoa ou simplesmente formar uma simbiose com alguém? Em quem confiar? Como testar as pessoas de forma eficiente?
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