Do alto, assistíamos à argumentação agitada dos quatro.
“Tão reduzidos estão que sequer perceberam que o telhado da casa sumiu”.
“Vamos falar com eles? Já começamos, então vamos terminar isso”.
“Tem certeza”?
“Sim”.
“Então que seja”.
Chamamos a atenção dos quatro e os retiramos do estado de exclusiva visão do inferior; descemos e nos reduzimos e, num instante, tínhamos a forma humana. Eles estavam estarrecidos, claro, mas entenderam imediatamente que algo absolutamente novo estava acontecendo. E sentiram o perigo. E esperaram que falássemos.
Acalmamos a todos e o casal mais velho saiu. Ficamos com Anna e Willis na ante-sala decorada no estilo sóbrio, simples e alegre da classe média norte-americana dos anos 70.
“Bem, vocês têm o seu grande problema nas mãos. Isso não vai ser fácil”.
Anna tinha os olhos muito abertos e a expressão apreensiva. Willis sentia-se perdido.
“Vocês amam-se muito, não”?
Não era preciso responder a isso.
“Fariam qualquer coisa um pelo outro”?
Eles entreolharam-se.
"Qualquer coisa que fosse lícita, moralmente correta, e exclusivamente entre vocês dois”?
“Sim”.
“Willis, parta”.
Ele foi.
“Anna, Willis vai viajar. Durante essa viagem, ele morrerá. Você receberá de volta as coisas dele, em uma sacolinha de algodão cru. Três objetos apenas, e mais uma coisa que somente você saberá que está ali. Resista e vocês serão recompensados. Tenha paciência. No quinto ano, você receberá boas notícias, quando a sua dor já tiver sido dominada. Adeus, pequena. Persevere”.
No tempo certo, a sacolinha chegou, e Anna viveu a sua dor. Willis não voltaria. Mas ela teve confiança; a confiança fez com que sua dor fosse aceita e, assim, isso não a matou. E ela pôde, aos poucos, voltar a viver.
No quinto ano, Anna esperava um filho. Era um menino lindo e, quando nasceu, Anna viu novamente a sacolinha guardada e, nela, uma mecha – os fios do sinal que Willis tinha na coxa esquerda. A criança tinha um sinal igual e sorria para ela como Willis sorriria ao voltar para casa.
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Notas acessórias do despertar de 5 de abril de 2008:
A imagem é de que, nesta vida, nossa vida em conjunto é um casulo cheio de um amor triste. É um casulo saudável, vivo, luzidio e forte, que almeja, como todo casulo, tornar-se ninfa e, depois, vir a ser algo maior. Mas que percebe permanecer um casulo: saudável, vivo, luzidio, forte; precioso, sim, mas sempre um casulo triste.
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