Os ciclos históricos sucedem-se com uma rapidez estonteante. Há pouquíssimo tempo costumávamos cantar no escuro canções que já retratam o momento atual, como o protesto disfarçado de carnaval de Ivan Lins:
"Acabou toda essa brincadeiraNão há jeito de ser diferente
Como sempre chegou quarta-feira
E a praça não é mais da genteAndam soltos fantasmas e bruxas
Lobisomem em noites de lua
O saci dança em noites escuras
E ninguém tá seguro nas ruasTudo se repete, oh maninha, como antigamente
E o diabo gosta, oh maninha
Arrepia a genteAs igrejas de portas trancadas
Já não entra, nem sai mais milagre
As pessoas de boca fechada
Vão fazer o jejum que lhes cabeClareando a sexta-feira santa
Segue a fila de velas acesas
Vêm cantando e o som se agiganta
Orações pra quem não tem defesaProcissão de bastões e vassouras
Estilingues, bodoques e pedras
Canivetes, facões e tesouras
Aleluia, é o quebra-quebraÉ a dança do queira-ou-não-queiraÉ vingança, é um Deus-nos-acuda
É o malho, é o fogo, a fogueira
É o povo na pele de JudasTudo se repete, oh maninha, como antigamente
E o diabo gosta, oh maninha
Arrepia a gente".(Ivan Lins, "Quaresma")